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A trilogia da diversificação de investimentos
Faço parte de uma geração que viveu a infância e adolescência em torno de grandes trilogias. Star Wars, na época uma trilogia e que virou uma trilogia de trilogias, De Volta Para o Futuro, com o magnífico sonho de consumo DeLorean, e até O Poderoso Chefão.
As trilogias da minha vida não foram apenas no cinema. Me lembro de ter lido, já nos anos 1980, os livros da trilogia de O Senhor dos Anéis que, mais tarde, iriam para o cinema. Curioso é que a conversa naquele momento era que a obra era um trabalho “infilmável”, palavra que nem sequer existe no dicionário. Às vezes, as pessoas avaliam as possibilidades de realização de algo em função das tecnologias presentes no momento e esquecem de pensar que a tecnologia evolui com o tempo.
Inspirado pelas gloriosas trilogias dos anos 1980, decidi escrever a trilogia da diversificação para abordar alguns pontos que entendo serem fundamentais na geração de eficiência dos investimentos, isto é, na melhora da relação risco-retorno.
Diversificação de Portfólio
A diversificação de portfólio é o tipo mais falado dentro das finanças. Aliás, podemos dizer que é o único que, oficialmente, é chamado de diversificação. Trata da melhora de eficiência de um portfólio ao investir simultaneamente em ativos que não reagem da mesma forma aos acontecimentos do mercado.
A ideia é escolher ativos com bons potenciais de valorização, mas que não variam da mesma forma no dia a dia. Ao fazer essa combinação, o resultado é um portfólio mais eficiente em termos de risco e de retorno.
O que acontece é que não há nenhum tipo de comprometimento da rentabilidade esperada, enquanto o risco, por causa dessa reação diferente aos acontecimentos do mercado, acaba sendo reduzido numa espécie de compensação.
Não gosto muito da frase de “não colocar todos os ovos na mesma cesta”. Eu acho que ela destaca apenas o aspecto de redução de risco da diversificação e não aborda a questão da eficiência entre o risco e retorno.
Mas também, vale lembrar que a frase é de Sancho Pança, fiel escudeiro de Dom Quixote, que nem no livro foi considerado um grande investidor.
Gosto de pensar na diversificação de portfólio como na construção de um time de futebol bem equilibrado. Os jogadores têm funções diferentes num time: existem goleiros, zagueiros, meias e atacantes, cada um cumprindo um determinado papel.
Duvido completamente da capacidade de um time com 11 atacantes de ganhar algum jogo. Às vezes, são exatamente os zagueiros que, quando formam uma defesa sólida, permitem os atacantes de fazerem o seu trabalho despreocupadamente e cumprir a sua missão, que é marcar gols.
Num portfólio equilibrado, bem diversificado, também temos atacantes que são aqueles ativos que vão buscar maior potencial de valorização, mas vale a pena ter alguns zagueiros que protegem contra cenários adversos.
Diversificação Temporal
Já falamos que a diversificação de portfólio é o benefício obtido por deter ativos que não reagem da mesma forma aos acontecimentos do mercado em um mesmo momento no tempo. De forma análoga, a diversificação temporal é o benefício obtido por manter, no longo prazo, ativos de risco no seu portfólio.
A justificativa se dá pelo fato de as rentabilidades crescerem mais rapidamente com o tempo do que o risco. Enquanto a primeira cresce a uma função exponencial, a segunda cresce a uma função menos do que linear.
Ou seja, ao alongar os horizontes de tempo, o risco cresce bem menos do que o retorno e, portanto, a relação de risco-retorno acaba melhorando. As chances de uma rentabilidade negativa também caem com o passar do tempo, o que é extremamente importante, dado que as pessoas são avessas a perdas.
O principal obstáculo à diversificação temporal é a miopia dos investidores, que costumam ter horizontes para avaliar os resultados das suas carteiras muito menores do que os próprios horizontes de investimento, isto é, que os prazos dos seus objetivos financeiros.
Não é raro ver que investidores preocupados com sua aposentadoria, daqui a 20 ou 30 anos, se assustem com perdas em um mês ou em casos extremos, de um dia. Por isso, alongue seus horizontes.
Diversificação de momento de entrada
O terceiro e último capítulo desta Saga da Diversificação l é a diversificação de momento de entrada, que é o benefício obtido por espalhar as compras de um ativo de risco ao longo do tempo, ao invés de concentrá-las em um único momento.
Ao fazer isso, o investidor reduz, de forma significativa, o risco sem comprometer os retornos de longo prazo. Além disso, o investidor também elimina a possibilidade de investir tudo num momento de pico de mercado.
Um estudo feito por mim em parceria com Jurandir Macedo demonstrou que a estratégia de comprar índice Bovespa e vender 10 anos depois gera um retorno médio ao ano de 11,01% em dólar e um risco de 9,8%.
Uma estratégia de fazer compras espalhadas ao longo de 16 anos e vendas em 8 anos eleva o retorno em dólar para 14,16% ao ano, enquanto o risco despenca para 3,17%.
A diversificação de entrada ajuda muito aquele investidor que tem vontade de aplicar em maior risco, mas acha que o determinado ativo passou por um processo de valorização recente e que, por isso, tem ao mesmo tempo medo de perder o bonde —se o ativo continuar subindo— e tem medo de realizar perdas caso o ativo caia. Espalhar as compras ao longo do tempo ajuda o investidor a se sentir mais confortável. Tenho certeza de que estes conselhos de diversificação vão ajudar muito seus investimentos.
o futuro, você poderá ver como foram boas as suas decisões. Aliás, não é por nada, mas esse olhar do futuro para o passado me faz lembrar mais uma vez, com muito saudosismo, de Marty MacFly e o Dr. Emmett Brown, no grande ícone da cultura pop, a trilogia De Volta Para o Futuro.
Por Martin Iglesias, colunista íon e planejador financeiro CFP®, especialista líder em investimentos e alocação de ativos do Itaú Unibanco. Artigo originalmente publicado na coluna ‘Crônicas do Professor’, no Feed de Notícias do íon Itaú. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.
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