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Crédito privado: bons retornos e isenção de Imposto de Renda
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Investimento, que ficou de lado na pandemia e com os juros altos, volta à cena
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Na hora de avaliar, procure empresas estáveis
Sobe a taxa básica de juros (Selic), e os investidores olham com mais carinho para a renda fixa. Com 12,75% ao ano nas aplicações mais simples, como o Tesouro Selic, fica fácil de fazer o dinheiro render. O problema é que a inflação corrói boa parte desse retorno, por isso, convém buscar alternativas melhores, visto que o IPCA acumulado nos últimos 12 meses já bate os 12%.
Nessa hora, o mercado de crédito privado, que ficou de escanteio no alto da pandemia e na época de taxas de juros magras, volta à cena revigorado. O ganho real desses papéis, que é aquele acima da inflação, bate o de títulos públicos com prazos similares. Títulos de dívida privada de médio prazo beiram a faixa dos 6% ao ano acima da inflação. E ainda tem um bônus: as centenas de opções que são isentas de Imposto de Renda.
O que é um crédito privado?
No fundo, o crédito privado é algo simples: é emprestar dinheiro para uma empresa para que ela financie projetos. Daniel Pegorini é sócio-fundador da Valora, gestor de carteiras de investimentos desde 2007, explica em detalhes como funcionam os ativos de crédito privado na conversa abaixo:
Quanto movimentam as debêntures?
Só as debêntures, que são títulos de dívida emitidos por empresas, movimentaram R$ 30 bilhões no mercado secundário em abril, de acordo com a Anbima. Do total, 72% das negociações foram do tipo incentivadas dos mais de 700 títulos disponíveis no período. As debêntures incentivadas têm isenção de Imposto de Renda e geralmente servem para fomentar investimentos na área de infraestrutura. Elas são indexadas ao IPCA, por isso o prêmio sempre é acima da inflação.
Como escolher títulos privados?
A oferta de títulos privados é vasta. Mas essa variedade toda acaba resultando em uma dificuldade de escolher onde alocar o dinheiro. Não basta e nem se deve olhar somente para a rentabilidade. O risco de calote existe, já que se trata de um empréstimo para uma empresa.
Na tentativa de ajudar na decisão do investidor, começam a aparecer carteiras sugeridas. O BTG Pactual selecionou seis títulos isentos de Imposto de Renda, com boa relação risco-retorno, e esmiuçou a capacidade de pagamento das empresas emissoras. O relatório foi elaborado para investidores qualificados, que são aquelas com algum conhecimento de mercado financeiro. Mas serve como guia para quem procura uma direção na hora de investir.
De acordo com Odilon Costa, analista de renda fixa e crédito privado do BTG Pactual, uma das primeiras coisas a fazer quando se avalia um título privado é buscar o par dele no Tesouro Direto. Você deve procurar o título público com prazo e condições parecidas e avaliar se há um retorno extra que justifique deixar o risco de crédito soberano do Tesouro (leia-se do governo) para apostar em uma empresa como devedora.
“O prêmio é justamente o que dita a relação risco-retorno em relação a um título público. É exatamente isso que queremos que o investidor passe a olhar e não a taxa nominal”, diz.
Na seleção do BTG, foram excluídos títulos bancários (como os CDBs) e entraram somente aqueles no mercado secundário, ou seja, negociados de um investidor para outro. A análise dos papéis do crédito privado é feita de um jeito bem diferente daquela dos especialistas de ações da bolsa.
“Na ótica de crédito, olhamos se a empresa consegue pagar as obrigações e não se vai crescer muito, como os analistas de bolsa costumam olhar. Tendemos a escolher setores mais chatos, porque são os mais previsíveis, como o setor de energia. Vemos a previsibilidade de caixa. A gente também olha a tese de crescimento e investimento, mas a gente quer saber mesmo é se a empresa tem condições de honrar o compromisso”, explica Costa.
É por isso que o título da empresa de proteína animal Marfrig está aí como boa oportunidade de compra na renda fixa, enquanto figura entre as maiores quedas no mercado de ações, com perda de mais de 16% só no mês de maio.
“As ações da Marfrig não estão empolgando muito. Mas quando você olha fundamentalmente o perfil de crédito, ele tem melhorado porque, nos EUA, estão passando por um ciclo de margem alta. A rentabilidade da empresa tende a normalizar. Quando o acionista vê isso, não é uma história muito atrativa. Para o crédito está bom, gera bastante caixa, tem cronograma de amortização alongado, alavancagem baixa. As teses no mercado de ações e de crédito variam”, afirma Thomas Tenyi, sócio e chefe da área de crédito do BTG Pactual.
O analista Odilon Costa lembra que na hora de dividir os ganhos da empresa o credor vem antes do acionista. A empresa pode, por exemplo, não pagar dividendos, mas no crédito há um contrato que precisa ser honrado.
É um mercado muito menos volátil que o de ações, com previsibilidade de quanto será o ganho, principalmente se o título só for resgatado no vencimento. O outro lado da moeda é que não há o que se chama no mercado de ‘upside’, que é o potencial de alta, de ir além, conquistando ganhos maiores. Como o nome diz, são títulos de renda fixa, portanto, o ganho é definido.
Crédito privado é seguro?
Uma outra divergência na hora de avaliar ações e títulos de crédito é que o credor quer segurança, com uma empresa estável, sem grandes projetos de expansão.
“Por outro lado, o acionista quer que a ação valha mais. Para ganhar capital, precisa de crescimento, fluxo de caixa, inserção em mercados e geralmente crescimento está atrelado a custos. Aí vem a divergência. O credor prefere que a empresa fique num estágio menor, mais tranquilo”, justifica o gestor de fundos de crédito da Somma Investimentos, Eduardo Lobo.
Quais são os riscos do crédito privado?
O especialista também destaca que o projeto de captação é uma pista importante sobre o risco daquele título de crédito. Segundo ele, um grande divisor de águas é quando a emissão de dívida vem para pagar um empreendimento mais maduro, que precisa se expandir ou apenas de uma continuidade. Algo que já deu certo, mas necessita de mais investimento. É bem diferente de um projeto de infraestrutura que começa do zero.
“É preciso avaliar a capacidade de execução da companhia. Teve o caso da Rodovia Tietê, que era um projeto que não deu certo e deixou 15 mil investidores ‘precificados’ a zero (com prejuízo de 100% do investimento)”, afirma.
O investidor sempre deve verificar a nota de risco do investimento. Em geral, são atribuídas as notas de riscos, comumente chamadas de ‘rating’, tanto os papéis quanto os emissores. As notas são indicadas pelas letras A,B, C e até D, dependendo da agência que a elaborou. Em geral, as melhores notas são AAA+, AAA ou AA+, quanto mais longe no alfabeto pior a nota.
Esta é uma maneira de saber sobre a qualidade do título com a ajuda especializada. A outra alternativa em caso de dúvida é entrar em contato com um profissional, como um agente autônomo ou até mesmo alguém que trabalhe na corretora.
O chefe de renda fixa da Órama Ricardo Teofilo afirma que a corretora tem uma assessoria à disposição para tirar dúvidas de investidores. Segundo ele, a empresa já faz um filtro desses milhares de ativos e só oferta aos clientes aqueles que passam pelo crivo dos analistas.
“Cada investidor tem um perfil diferente, mas os títulos que ali se encontram passam por um rigoroso processo de seleção e análise. Na grande maioria eles são isentos de IR. Esses são os papéis que mais trabalhamos para o público de varejo, pessoa física. Tentamos entregar a taxa que o cliente espera, com o que entendemos que é mais vantajoso para diferentes perfis”, diz.
Reestruture sua carteira
Para quem deseja ficar menos exposto às oscilações da Bolsa e aumentar a posição em renda fixa, para aproveitar o ciclo de alta dos juros, o crédito privado se mostra uma boa opção para diversificar.
“Seja saindo da Bolsa, seja usando um novo recurso, se trata de um excelente momento para alocação nessa classe de ativos. A gente tem visto oportunidades muito boas, inclusive, com prêmio bem gordo, contando com isenção de Imposto de Renda nas classes de isentos”, afirma Ricardo.
Como os juros interferem nos investimentos
O ciclo de cortes de juros que vimos até o ano passado foi inédito no Brasil e fez com que muitos investidores iniciantes corressem para a renda variável, sem a certeza se teriam estômago para o risco. Nos últimos 12 meses, o Ibovespa sofreu queda de mais de 11% e, para quem tem pouca tolerância à época de baixa, os ativos como (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) CRAs, (Certificado de Recebíveis Imobiliários) CRIs e debêntures (títulos de dívida emitidos por empresas) podem ser um meio termo entre o mar revolto da renda variável e o retorno pálido da poupança e do Tesouro Direto.
E não se trata de abandonar a renda variável. Mas talvez mexer um pouco para assegurar uma oportunidade. “Faz sentido um rebalanceamento, uma reserva de caixa para uma oportunidade de ter recursos para alocar em bolsa quando for o momento. Vale aproveitar a janela e a liquidez a 13% ao ano. É um luxo que só se vê no Brasil”, acrescenta Eduardo Lobo, gestor da Somma Investimentos.
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