Pesquisa da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), em parceria com o University Blockchain Resarch Initiative (UBRI) e a gestora Hashdex, mostra algo inédito no Brasil. Metade dos investidores de criptomoedas começou a comprar e vender a moeda digital entre 2020 e 2021. Por outro lado, apenas 12% dos entrevistados responderam ter iniciado seus aportes em 2016 ou antes. E os 38% restantes começaram a investir entre 2017 e 2019.
O levantamento ouviu 576 investidores, sendo 446 homens e 130 mulheres. Todos são clientes de escritórios de agentes autônomos parceiros, como Monte Bravo Investimentos, Blue3 Investimentos, Acqua-Vero Investimentos, One Investimentos e Renova Invest. Eles foram ouvidos entre fevereiro e março deste ano.
Entre os investidores brasileiros de criptos, as mulheres representam apenas 12%. E, em geral, os investidores de criptoativos estão na faixa dos 30 aos 39 anos.
Criptoinvestidores pelo mundo
Cerca de 221 milhões de pessoas investem em criptomoedas no mundo, segundo um levantamento divulgado pelo Crypto.com em junho deste ano. Esse total mais do que dobrou de janeiro a setembro. No Brasil, segundo dados da gestora de critpomoedas Hashdex, o número de pessoas que investem em fundos e ETFs de criptos chegou a 325 mil. O estudo não leva em consideração outras modalidades de investimento, como pelas exchanges. Ou seja, esse número tende a ser ainda maior.
Investidores institucionais como bancos, fundos de hedge, fundos de pensão e seguradoras começaram a entrar pesado no mercado. “Isso vem acontecendo desde o ano passado. Até empresas grandes, como a Tesla, começaram a alocar recursos nas moedas digitais”, ressalta Marcos Viriato, um dos fundadores da fintech de criptomoedas Parfin.
Os investidores individuais também são relevantes neste contexto. Viriato reforça que o mercado cripto vem se tornando mais acessível. “A barreira de entrada está diminuindo com o surgimento de novos produtos e serviços”. De fato, já existem hoje quase 30 fundos de cripto no mercado brasileiro, com aplicações mínimas bem diversificadas.
Quem é esse investidor?
Um estudo realizado pela FGV/EESP e a Hashdex, em parceria com a University Blockchain Research Initiative (UBRI), entrevistou 576 pessoas para mapear o perfil de investidores brasileiros que aplicam seu dinheiro via plataformas. A pesquisa, chamada “Percepção e motivação de investidores brasileiros quanto a criptoativos”, apontou que o conhecimento e o interesse em criptomoedas se mostrou maior entre investidores mais novos, de até 29 anos, de perfil de risco agressivo e com curso superior relacionado a finanças.
De acordo Ray Nasser, minerador, economista e CEO da mineradora de bitcoins Arthur Mining, independentemente da idade, aqueles que investem uma parte do patrimônio em cripto geralmente estão focados no longo prazo e dispostos a assumir riscos. “Tem que ter estômago e saber investir. O bitcoin, por exemplo, sobe e desce. Mas eu considero ele uma opção para diversificar a carteira”, ressalta.
Roberta Antunes, chefe de expansão da Hashdex, acredita que os criptoativos cabem no bolso de todos. “Até do mais conservador, que pode investir um pouco em moeda virtual”, explica. A executiva também aposta na estratégia de longo prazo. “As criptos são investimentos voláteis, por isso devem ser pensadas no universo de pelo menos cinco anos. Alocar 0,5% do patrimônio pode fazer diferença na carteira do investidor”.
Cripto desde cedo
Fábio Infanti faz parte do grupo de jovens que investe em criptomoedas. Com 25 anos, o web designer fez sua primeira compra em janeiro deste ano. O motivo? Ouvia falar muito sobre esses ativos. “Na época, as criptos estavam bombando e vi muita gente ganhando dinheiro. Eu não investia em nada, no máximo tinha algo na poupança”, conta.
Antes de investir, ele buscou se informar sobre o tema. “Li sobre o assunto e acompanhei algumas aulas de um especialista. Demorei dois meses para começar a investir. Hoje tenho 16 criptomoedas na minha carteira. Acredito que a maioria ainda vai subir muito”, ressalta.
Ele conta que começou com R$ 100, dinheiro que havia sobrado de um trabalho como freelancer. Investiu na moeda EOS. “Eu sabia que cripto era volátil, por isso investi pouco para testar. De lá para cá, fui aumentando o valor”. O investidor sentiu na pele os altos e baixos do ativo e viu seu investimento valorizar em 300% e, pouco tempo depois, despencar. Apesar das emoções, Fábio segue confiante e investindo apenas em criptomoedas com uma corretora.
Se engana quem pensa que ele se considere um investidor arrojado. “Me encaixo entre o moderado e conservador. Apesar de saber que cripto é um ambiente muito volátil, sempre pensei em uma estratégia a longo prazo. Acompanho todos os dias a minha carteira, mas penso no futuro”, explica. O investidor define esse universo como uma montanha-russa. “É preciso estar sempre atento ao mercado, estudar, se informar e ter um equilíbrio para não se “emocionar” e vender os ativos na hora errada. E, se acontecer, é ter cabeça para não se desesperar.”