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Por que os investimentos em papel deixaram de existir?
Hoje em dia, nossos investimentos no mercado financeiro não são tocados por mãos humanas. No máximo, você fala com seu assessor por telefone, mas o investimento em si, está em tela. Os bancos e corretoras registram, custodiam e transacionam esses recursos de forma digital. Os rendimentos são calculados e pagos automaticamente. Porém o caminho até chegar nesse estágio foi bem interessante.
Em um dos meus anos na área comercial de uma corretora, recebi um senhor, com seus 80 anos, com um documento em mãos até então inédito para mim. Ele estava com ações de uma antiga companhia. Não era um extrato, nem um demonstrativo. Era a própria ação que hoje vemos na tela do home broker.
No passado, ações e títulos de dívida poderiam não ser nominais. Ou seja, eram títulos ao portador. Quem possuísse o papel, era o dono. Relíquias de um passado distante. Basicamente são documentos de aparência impressionante, com desenhos rebuscados, impressos e timbrado de forma bem sofisticada.
Origem
Sou muito curiosa para saber de onde vem as expressões que usamos até hoje. Por exemplo, até a década de 90, era comum fazer ligações em orelhões e telefones públicos. Para isso, era necessário depositar uma ficha.
Quando a ligação completava, era possível ouvir o barulho dessa ficha caindo. Com isso, a pessoa se dava conta que a ligação tinha sido completada.
Até hoje, usamos a expressão “a ficha caiu” quando nos damos conta de algo.
No mercado financeiro, existem várias destas histórias. Uma delas é a história da palavra “cupom”. Por exemplo, “esse título paga cupom”. “Cupons semestrais”. Cupom se refere ao rendimento de juros semestrais.
Hoje, os títulos ficam registrados no nome e no CPF do comprador. Mas, tempos atrás, investimentos funcionavam como as cédulas de dinheiro que carregamos na carteira.
O investidor recebia um belo papel, com cupons para destacar e levar, semestralmente, ao emissor para receber o rendimento.
Por que mudou?
Uma característica do dinheiro em forma de papel-moeda é justamente a desintermediação bancária e menor observância da economia por parte do Estado. É fácil imaginar a nota de dinheiro que você usou para pagar uma garrafa de água de um vendedor ambulante seja difícil de rastrear.
Porém, dinheiro em mãos e os investimentos devem ter privacidade diferente. Se investimentos não fossem registrados, seriam altamente atraentes para sonegadores de impostos e criminosos que procuram roubá-los de seus detentores.
Se você gosta de séries, é possível que já tenha assistido a série “Ozark”, da Netflix. Na série, o personagem é um consultor financeiro que corre perigo, pois seus títulos ao portador, ou em inglês, “bearer bonds”, estão sob ameaça de ladrões. Títulos ao portador costumavam ser comuns em roteiros de Hollywood porque dão mais tangibilidade para o público ao que hoje é puramente virtual.
Atualmente, para impedir os sonegadores de impostos, os títulos ao portador são raridade no mundo. Como desde os anos 1980 eles começaram a ser digitalizados, ao vencerem as emissões restantes de 30 e 50 anos, eles serão item de museu.
Se por acaso você conhece alguém que tenha algum tipo de investimento ao portador, provavelmente essa pessoa lida com ele como quem guardava dinheiro no colchão, ou alguém que não trocou os cruzeiros por reais.
Com certeza, se ainda existissem, algumas pessoas prefeririam fazer as coisas à moda antiga: cara a cara. Porém, como vimos com a experiência do Home Broker e mais atualmente do Pix, a vida financeira digital permite ampliar os negócios e popularizar o investimento no mercado de capitais.
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