Enquanto o mercado de criptomoedas perdeu cerca de US$ 1,3 trilhão este ano, um grupo seleto de gestores conseguiu a façanha de obter retornos positivos nesse segmento e lucrar em meio ao colapso — e tem brasileiros entre eles.
É o caso do carioca Jay Janér, ex-GP Investimentos e Lehman Brothers, que está à frente do Appia Long-Short Fund. Trata-se de um fundo internacional da gestora paulistana KPTL, mais conhecida por seus investimentos em startups bem-sucedidas como Locaweb.
Por fazer apostas tanto em altas como em baixas de derivativos relacionados a criptomoedas, o Appia é considerado um fundo long-and-short. Aberto lá fora, o veículo teve um retorno líquido, em dólares, de 18,3% no primeiro semestre do ano, enquanto o bitcoin despencava 57%.
Grande parte dos lucros do Appia veio de sua aposta contra a criptomoeda luna, que despencou de mais de US$ 80 para zero em um intervalo de poucos dias, contou Janér ao Financial Times. Mas o fundo também fez apostas na desvalorização de outras criptomoedas, inclusive o bitcoin. “Essa alta volatilidade gera distorções e conseguimos identificar padrões de comportamento que podem ser explorados de maneira sistemática, utilizando técnicas de gestão quantitativas, machine learning, e gerar valor para investidores tanto na alta quanto na baixa”, diz à coluna Danilo Zelinski, diretor de vendas da KPTL, em nota.
Além do Appia, Janér — filho de sueco com italiana nascido no Rio e formado em matemática e física por Cornell — ainda está à frente do Bohr, que também faz arbitragem “quantitativa” (leia-se: com ajuda de algoritmos sofisticados) nos mercados de criptomoedas.
O desempenho do Bohr é menos estelar este ano — ganho de 1% no primeiro semestre —, mas o fundo acumula valorização de mais de 92% nos dois anos desde sua criação.
O Bohr também foi aberto lá fora, mas tem uma versão local disponível em plataformas como Órama e Necton com investimento mínimo de R$ 10 mil. (O fundo é exclusivo para investidores qualificados, aqueles com pelo menos R$ 1 milhão em patrimônio financeiro, porém).
A versão brasileira perde 3,9% no ano, segundo dados da plataforma Mais Retorno, mas acumula alta de 38% desde novembro de 2020.
Outra brasileira que parece estar lucrando alto com a hecatombe cripto é Leda Braga, a também carioca e prodígio da matemática que se tornou a mais célebre (e uma das mais ricas) gestores de fundos quantitativos do mundo. Segundo o Financial Times, sua gestora Systematica fez apostas contra as criptomoedas que ajudam a explicar os ganhos de quase 16% do seu fundo Alternative Markets no ano. O veículo tem patrimônio de US$ 6,7 bilhões, segundo o FT.