Entenda por que a inflação será o maior efeito da guerra para o Brasil

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As pressões intensas sobre os preços das commodities indicam que a inflação deve ser o principal canal de transmissão do conflito na economia brasileira
Ainda que a guerra entre Rússia e Ucrânia possa atingir a atividade brasileira apenas tangencialmente, o conflito adiciona grau de incerteza a um cenário externo que já se mostrava desafiador e no qual o país está inserido. As pressões intensas sobre os preços das commodities indicam que a inflação deve ser o principal canal de transmissão do conflito na economia brasileira – em uma crise que se agrava com a maior dúvida que recai sobre os bancos centrais de países desenvolvidos.
A Legacy Capital, que projetava um IPCA ao redor de 6% para 2022, vê chances de uma estimativa mais próxima de 7%. Não é só a pressão que a guerra adiciona aos preços do petróleo, mas também sobre os grãos, o que se desdobra para diversos outros alimentos, aponta o sócio e economista-chefe da gestora, Pedro Jobim. Assim, não é possível descartar o risco de o Banco Central do Brasil precisar ir um pouco além dos 12,25% esperados para a Selic ao fim do ciclo de elevação da taxa de juros.
Preços elevados de commodities, se combinados a um ambiente de menor aversão a risco nos mercados financeiros, podem beneficiar o Brasil, mas não foi esse o fator que levou a Legacy a rever sua projeção para o PIB deste ano de -1% para -0,5% e a manter um viés de alta. São questões de âmbito doméstico, segundo Jobim, como o desempenho mais benigno do mercado de trabalho. “Mas a nossa visão para a frente não é favorável”, enfatiza.
Em uma ponta menos pessimista com o desempenho da atividade, a Vinci Partners espera um crescimento de 1% para a economia brasileira em 2022, projeção que já era defendida pela gestora há alguns meses. Entre os vetores para a expectativa de expansão da economia, José Carlos Carvalho, sócio responsável pela área de macroeconomia na Vinci, cita a quequestão agrícola, a expectativa de expansão fiscal neste ano e o crescimento do crédito.
E é com base no crescimento econômico esperado para este ano que o profissional também projeta uma inflação de serviços mais pressionada, o que levaria o IPCA a encerrar 2022 em torno de 6%. Esses números, inclusive, já contemplam o barril de petróleo a US$ 100 – nível alcançado nos últimos dias diante da escalada no conflito no Leste Europeu.
Carvalho observa, ainda, que os preços do trigo e do milho, que também exibiram alta forte, podem pressionar um pouco mais a inflação no Brasil, mas não seria um cenário que se distanciaria muito da projeção de 6%.
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