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Como investir em situações de muita incerteza econômica
O ano de 2022 não tem sido nada fácil para os investidores, tanto no Brasil quanto no mundo. Inflação em níveis altíssimos, bancos centrais por todo o globo aumentando fortemente as taxas de juros e considerável risco de recessão econômica.
Neste contexto, a situação incerta leva o investidor a um dilema. A cautela com o cenário negativo sugere que o investidor deveria ser muito conservador, investindo sem correr riscos. Contudo, há ativos de ótima qualidade, como algumas ações de empresas muito sólidas e rentáveis na bolsa de valores, negociados por valores muito abaixo do seu patamar histórico, indicando que estão muito baratos.
Seria, teoricamente, uma grande oportunidade de multiplicar seu patrimônio. Este cenário sugere que o investidor deveria ser arrojado e tomar mais risco.
Qual a resposta correta ao dilema?
Ser conservador ou arrojado em meio à grande incerteza econômica? A forma mais tradicional de abordar essa questão seria que o investidor deveria ponderar detalhadamente os argumentos a favor e contra as opções do dilema. E, após profunda reflexão, usar seu melhor julgamento para decidir. Para Nassim Taleb esta é a forma errada de lidar com a situação.
Os gurus de investimento podem dar lições práticas mesmo aos pequenos investidores
Em minha carreira profissional e acadêmica tive a oportunidade de estudar diversos gurus de investimento, nacionais e estrangeiros, e até conhecer alguns deles pessoalmente. Um esclarecimento importante: utilizo a palavra “guru” não no sentido mais usual de uma pessoa que sempre acerta, infalível – na verdade não existem pessoas assim.
Ao contrário, para mim, o guru é uma pessoa com profundo conhecimento de suas próprias limitações, humilde intelectualmente, mas que combina uma vasta experiência profissional no mercado financeiro com grande conhecimento técnico. Ganhou muito dinheiro ao longo de sua carreira, logo possui muitas lições valiosas a compartilhar. Os gurus, neste sentido, têm muito a contribuir com os investidores.
Nassim Taleb para mim é um guru. Matemático, ensaísta, escritor de ótimos livros, PhD, poliglota, foi também investidor, gestor de fundos e trader no mercado financeiro e ganhou muito dinheiro – meu tipo de guru.
Para mim, o guru é uma pessoa com profundo conhecimento de suas próprias limitações, humilde intelectualmente, mas que combina uma vasta experiência profissional no mercado financeiro com grande conhecimento técnico.
Voltando ao nosso dilema, Taleb propõe uma abordagem muito prática e efetiva: na dúvida, seja conservador e arrojado ao mesmo tempo. Para tanto propõe a estratégia Barbell.
A estratégia Barbell é um formato de alocação de ativos que visa mesclar produtos de baixo risco com outros de altíssimo risco. O principal objetivo é buscar o equilíbrio para uma carteira de investimentos. A ideia é mitigar o “risco de ruína”, que é o nome dado à chance de perder todo capital investido e quebrar.
O Barbell é uma metáfora com a barra de pesos do halterofilista: uma barra de ferro longa com pesos apenas nas suas duas extremidades. Nesta estratégia, o investidor deve possuir ativos em dois polos (extremidades da barra). Um deles, muito seguro e o outro com risco e alto potencial de multiplicação de patrimônio.
Diferentemente da barra do halterofilista, que possui os mesmos pesos em cada extremidade, na estratégia Barbell o investidor deve possuir a grande maioria dos investimentos na extremidade supersegura. Apenas um pequeno percentual de seus ativos fica no polo de risco.
Vejamos um exemplo hipotético para o Brasil: um investidor aplica 90% de seu capital em Tesouro Selic e 10% em ações de empresas com alto potencial de crescimento na bolsa de valores. Para fins do exemplo ainda, suponhamos, apenas duas possibilidades extremas: um cenário catástrofe, com tudo dando errado e outro cenário otimista, com tudo dando certo. Observe o que acontece após um ano:
No cenário catástrofe, os 90% aplicados em Tesouro Selic são “à prova de bala” e para a Selic atual devem ter um rendimento líquido da ordem de 11% a.a., ou seja, os 90% crescem para um valor próximo de 100%. Já o polo arriscado, no limite, perde todo o seu valor, indo para zero. O resultado final é a preservação do patrimônio inicial, pelo menos nominalmente. Caso seja considera a inflação ou o custo de oportunidade há uma pequena perda.
No cenário otimista, os 90% aplicados em Tesouro Selic continuam rendendo os mesmos 10%, mas o polo arriscado duplica de valor, gerando um excelente resultado de 20% de ganho composto para a carteira.
A conclusão de Taleb é que é possível ser conservador e arrojado ao mesmo tempo, preservando o patrimônio, mesmo diante de um cenário desfavorável. Ao mesmo tempo, a estratégia Barbell permite estar preparado para lucrar bastante se as coisas derem certo.
É uma ótima estratégia, mas cada investidor deve pensar e definir os detalhes de como aplicá-la à sua realidade. E, claro, sempre tendo a supervisão de um profissional experiente e certificado de uma instituição sólida. Os verdadeiros gurus dão excelentes lições práticas, não fórmulas prontas de sucesso.
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