Carnaval em Salvador: onde comer bem, do refinado ao pitoresco

Do Fasano ao KiMukeka, com outras casas no meio, cidade tem destaques gastronômicos para férias completas – e para o verão baiano que dura o ano todo

Amigos sempre me perguntam quando estão prestes a embarcar para a Bahia: onde devo comer em Salvador? Eu digo sem pensar: vá ao Dona Mariquita. E depois começo a desfiar o novelo, com outras dicas, explicando onde se encaixa cada uma delas.

Por exemplo, no Manga e no Origem, os dois restaurantes soteropolitanos que estão na lista 50Best Latin America, come-se comida autoral e inventiva, alta gastronomia contemporânea. As duas casas, das quais falei nesta coluna aqui, têm comida e serviço irretocáveis, para uma experiência – eu sempre digo – artística.

Já o Dona Mariquita, que fica no boêmio bairro do Rio Vermelho assim como o Manga, não serve receitas desconstruídas ou repaginadas. Pelo contrário, resgata pratos ancestrais e promove o que a casa chama de ‘cozinha patrimonial da Bahia’.

Conhecendo o Dona Mariquita

A refeição no Dona Mariquita começa num salão com rendas e brocados brancos, estendidos como cortinas ou toalhas, ao lado de cerâmicas e outros itens de artesanato, com um clima muito agradável de luz difusa (vá no almoço).

Sobre esses rendados vão pratos que a chef Leila Carreiro prepara a partir de pesquisas de estudiosos da cultura baiana como Manuel Querino. É um resgate das tradições de matriz africana e também indígena. Serve, então, poqueca com acaçá de leite, sendo a poqueca uma moqueca cozida em folha de bananeira, e o acaçá um preparo de milho branco triturado com leite de coco.

Ainda entre os destaques tem a maniçoba (um prato especialíssimo como se fosse uma feijoada sem feijão, com folhas de mandioca trituradas) e o caruru completo (em que o refogado de quiabo picado é acompanhado de vatapá, acarajé, abará, feijão fradinho e xinxim de galinha).

Quem foi Manuel Querino
Manuel Raimundo Querino perdeu os pais aos quatro anos. Ambos foram vítimas da cólera. Jovem, foi recrutado para a Guerra do Paraguai. Se tornou professor de desenho geométrico, escritor e intelectual negro. Nasceu em 1851 e morreu em 1923. É ele quem dá nome a uma série de podcasts e um livro escrito por Tiago Rogero e que apresenta um olhar afrocentrado sobre a história do Brasil.

Fasano com acarajé

Num tom acima do Dona Mariquita, o restaurante Gero dentro do hotel Fasano recebe clientes com o conhecido requinte da marca. Após uma reforma meticulosa no tombado prédio em art déco que abrigou o Jornal A Tarde até a década de 1970, o lobby ostenta detalhes em mármore Carrara e granito Verde Alpe.

No restaurante, no térreo do hotel, pratos tradicionais da culinária italiana dividem espaço com itens bem baianos, para agradar a todo tipo de turista.

O elegante salão de atendimento do Fasano na capital da Bahia. Foto: Divulgação

Da cozinha do chef Bahia Brito, que está no grupo Fasano desde 1990, saem receitas como o ossobuco de vitela e o spaghettini com camarão ao molho de limão siciliano, ao lado de bobó de camarão, moqueca de peixe e casquinha de siri.

Tudo isso envolto na atmosfera comum ao grupo, de sofisticação em hotel de luxo.

Ali pertinho do Fasano, subindo a Rua Chile, outro hotel se destaca pela arquitetura e pela gastronomia, o Fera Palace.

O Fera está onde funcionou o Palace Hotel também até a década de 1970. Ali, a gastronomia fica sob o comando dos mesmos chefs do Origem, Fabrício Lemos e Lisiane Arouca.

No Fera, o restaurante é o Omí (nome que significa água em iorubá), onde são servidas receitas como camarão com rigatoni alla carbonara, moquecas e polvo com arroz negro e aioli. Fabrício e Lisiane são também responsáveis pelo café da manhã e pelas comidas servidas no rooftop.

Aliás, tanto no Fasano quanto no Fera Palace, o topo do prédio com piscina tem a vista mais bela de Salvador, direto para a Baía de Todos os Santos, na direção do Forte de São Marcelo.

E se você estiver no Fasano ou no Fera, em dois pulos chega a pé ao Elevador Lacerda e ao Pelourinho.

Raízes tradicionais

Voltando ao coração da Bahia, no caso o dendê, outros restaurantes oferecem comida farta e bem-feita, cheia de histórias – não necessariamente com o requinte de se estar em hotéis de luxo.

Na Casa de Tereza, a comida é da chef Tereza Paim, veterana da comida de dendê e frequentadora de festivais de gastronomia no sudeste, onde espalha a cultura baiana por todo lado. Podemos chamá-la de embaixadora da moqueca.

Abrigada numa charmosa casa no bairro do Rio Vermelho, ela serve petiscos e pratos com toques tradicionalíssimos. Caso do sarapatel de cordeiro (um picadinho de miúdos que é um espetáculo) e das lascas de carne de fumeiro (típico preparo sertanejo) em caramelo de laranja.

Ainda tem todos os tipos de moqueca que você imaginar: peixe, camarão, polvo, siri. E por fim itens sem dendê, como a rabada, a feijoada e a maniçoba.

Farto em moquecas também é o restaurante KiMukeka, como o nome entrega, uma casa mais popular de Salvador, de atendimento simpático e salão simples, fundada na década de 1980. Tudo simples, mas com uma comida deliciosa.

Fica no bairro de Itapuã, onde o salão se debruça para um jardim de coqueiros que dá no mar. Vista belíssima. Vá sem pressa.

Aliás, vá sem pressa em todos os outros lugares, mas não porque nós baianos temos a fama de sermos devagar (que ultraje!), e sim para você apreciar a delícia que é estar por aquelas bandas de lá.

Para saber mais

Casa de Tereza
R. Odilon Santos, 45, Rio Vermelho
@casadetereza_

Dona Mariquita
R. do Meio, 178, Rio Vermelho
@donamariquita

Gero – Hotel Fasano
Praça Castro Alves, 5, Centro
@fasano

KiMukeka
R. do Vento Sul, quadra 3 – lote 5 – Itapuã
@kimukeka

Omí – Hotel Fera Palace
R. Chile, 20, Centro
@omirestaurante

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