Preço do ovo dispara nos EUA e isso pode ser bom para os produtores brasileiros; entenda o cenário

Segundo dados preliminares, produção brasileira chegou a quase 58 bilhões de unidades no ano passado, 10% a mais do que em 2023

Empresas citadas na reportagem:

Na onda da modelo fitness Gracyanne Barbosa, que revelou comer 40 ovos por dia, o consumo do alimento pelos brasileiros tem aumentado ano após ano, impulsionando o setor, que está fervilhando. A JBS (JBSS3) comprou 50% da Mantiqueira Alimentos, a maior produtora de ovos do Brasil. Além disso, a crise do setor nos EUA, por conta da gripe aviária, pode ser uma oportunidade para o Brasil, de acordo com o Instituto Ovos Brasil.

Os números do setor são animadores. De acordo com dados preliminares da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção de ovos em 2024 alcançou 57,6 bilhões de unidades. Este número é 9,8% maior em relação ao 2023, com 52,448 bilhões de unidades.

O consumo per capita deve fechar 2024 em 269 unidades, 11,2% maior do que foi registrado em 2023, com 242 unidades. Para 2025, o setor projeta produção de 59 bilhões de unidades (aumento de 2,4%), com consumo per capita de até 272 unidades (alta de 1,1%).

Crise nos EUA

Em meio a esses dados positivos, o setor de ovos brasileiro também pode ser beneficiado pela crise do alimento nos Estados Unidos. A tradicional bandeja com uma dúzia de ovos está custando até US$ 10,65 naquele país, ou seja, cerca de R$ 62.

A alta no preço do alimento nos EUA não vem de agora. Os ovos vêm encarecendo muito desde o ano passado, devido a problemas de distribuição em decorrência de um surto de gripe aviária. Inclusive, algumas redes de supermercados limitaram a quantidade de ovos por cliente. 

De acordo com Anderson Herbert, diretor comercial do Instituto Ovos Brasil (IOB), a crise norte-americana “é uma oportunidade para o Brasil aparecer mais para o mundo”.

“Os Estados Unidos sempre foram exportadores de ovo, tanto líquido quanto em pó, que são processados como ingrediente para a indústria. A crise abre portas para o Brasil exportar para países que costumavam comprar dos EUA”, afirma Herbert.

Além disso, diz o diretor do IOB, “exportar diretamente para os EUA vai ajudar o mercado brasileiro”.

Compra da Mantiqueira pela JBS

Herbert também vê como positiva a compra da Mantiqueira Alimentos pela JBS (JBSS3). Em janeiro, a gigante do setor alimentício anunciou o ingresso no segmento de ovos com um investimento para ter 50% de direito a voto da Mantiqueira Alimentos, em negócio que avalia toda a empresa em R$ 1,9 bilhão.

Com o investimento, a JBS terá o controle compartilhado da Mantiqueira com o sócio fundador, Leandro Pinto.

“A JBS é uma empresa global. É a maior empresa de proteínas do mundo hoje, e ela entrar no setor de ovos vai ajudar na abertura de mercados. Eles têm muita presença em outros países”, destaca o diretor do IOB.

De acordo com ele, isso vai acabar ajudando o ramo como um todo. “A profissionalização do setor com esse movimento vai acelerar. Então, eu vejo o negócio com ótimos olhos, principalmente pelo lado de oportunidade que o Brasil vai ter agora”, afirma Herbert. “A JBS é uma empresa que sempre exportou muito. A gente está no início de um grande ciclo de investimento no setor de ovos. Os consumidores só têm a ganhar com isso”, completa ele.

Alta no preço dos ovos no Brasil

Apesar das boas notícias, o preço do ovo está mais alto no Brasil. Em nota divulgada nesta terça-feira (18), a ABPA afirmou que o aumento no preço do alimento em 40% só nesta semana é uma situação sazonal, comum ao período pré e durante a quaresma.

O aumento do preço do ovo ganhou os holofotes após uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que viralizou nas redes sociais na semana passada. No centro da polêmica estão os ovos das emas do Palácio da Alvorada. Lula disse que está substituindo ovos de galinha por ovos de patas, emas e que quer provar também os de jabuti. “Porque tudo que é ovo é igual”, declarou o presidente.

“Após longo período com preços em baixa, a comercialização de ovos aqueceu pela demanda natural da época, quando há substituição de consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos”, diz a ABPA.

Segundo a entidade, os custos de produção acumularam alta nos últimos oito meses, com elevação de 30% no preço do milho e de mais de 100% nos custos de insumos de embalagens. Ao mesmo tempo, as temperaturas em níveis históricos têm impacto direto na produtividade das aves, com reflexos na oferta de produtos.

“Mesmo com estes fatores, os produtores esperam que o mercado deverá se normalizar até o final do período da quaresma, com o restabelecimento dos patamares de consumo das diversas proteínas”, informa a nota da APBA.

A associação explica que, embora em alta, as exportações de ovos têm efeito praticamente nulo sobre a oferta interna, “já que representam menos de 1% das 59 bilhões de unidades que deverão ser produzidas neste ano, o que deve gerar um consumo per capita de 272 unidades anuais – mais de 40 unidades acima da média mundial de consumo”.

Preço dos ovos sobe com alta demanda e restrição de oferta

Segundo o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (IPC-Fipe), o valor do ovo subiu 4,32% na segunda quadrissemana de fevereiro. Isso reflete uma combinação de fatores sazonais e econômicos.

Entre os principais motivos estão o aumento da demanda durante a Quaresma – período em que muitas famílias reduzem o consumo de carne vermelha –, a busca por alternativas mais acessíveis diante da alta de outras proteínas e a restrição de oferta no mercado.

Guilherme Moreira, coordenador do IPC-Fipe, explica que a valorização dos ovos segue um padrão recorrente nesta época do ano. Porém, em 2025, o movimento pode ganhar força.

“A procura cresce sazonalmente na Quaresma, mas este ano a pressão é ainda maior devido ao encarecimento das carnes e à oferta ajustada, ou seja, a produção não aumenta no mesmo ritmo da demanda. Isso gera um impacto direto nos preços”, aponta o pesquisador.

Nos últimos meses, o custo do ovo já vinha apresentando variações positivas, tendência que pode se manter no curto prazo, especialmente em função da sazonalidade.

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