Brasileiro não sabe diferença entre bets, pirâmide e investimento, mostra estudo

Levantamento em parceria entre FGV e CVM revela que as pessoas estão dispostas a destinar uma mesma fatia da renda para esses três tipos de ofertas

O brasileiro não sabe a diferença entre apostas esportivas (bets), pirâmides financeiras e investimentos tradicionais. Essa é a conclusão de um estudo conjunto da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), divulgado nesta sexta-feira (14).

Por outro lado, pessoas com maior conhecimento financeiro têm menor propensão a se envolverem com pirâmides e apostas, mesmo que sejam impulsivos ou excessivamente autoconfiantes.

Além disso, a educação financeira ajuda a prevenir a participação em esquemas de pirâmides financeiras.

O trabalho reforça diagnósticos de instituições como o Banco Central e a Anbima de que o crescimento explosivo de bets e de pirâmides financeiras no Brasil nos últimos anos teve como pano de fundo a baixa educação financeira no País.

O estudo chega após o início do mercado regulado das bets no Brasil, no começo de 2025, e diante de crescentes pressões por limites regulatórios para o setor.

A Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) estima que o setor tenha movimentado cerca de R$ 150 bilhões em 2024 no Brasil.

Para brasileiro, investimento, bets e pirâmide é tudo igual

O estudo conduzido pelo professor do Ibmec Matheus Moura entrevistou cerca de mil pessoas entre 2023 e 2024.

Isso incluiu homens e mulheres, com distintas faixas de idade, renda e de escolaridade, além de perfis diferentes (impulsivo ou reflexivo).

Todos os participantes foram apresentados de forma aleatória a chances iguais de recebimento em cenários de investimento tradicional ou aposta.

Os investimentos tinham dados reais de empresas com ações na B3 e de fundos de investimentos.

Enquanto isso, no cenário de aposta os entrevistados foram expostos a três retornos para apostas esportivas, também com base em dados de empresas legalizadas.

Por último, vinha a descrição de uma empresa fictícia que buscava novos investidores, incluindo planos e promessas de retorno.

Para dar realismo às comparações, o pesquisador usou propaganda de um esquema de pirâmide real e ilícito, depois desmantelado pelas autoridades.

Ao final das apresentações, os participantes tinham que responder quanto do patrimônio estavam dispostos a aplicar em cada uma das opções.

O resultado: as pessoas tendem a investir em esquemas de pirâmide e apostar valores semelhantes aos que elas investem em investimentos legítimos.

Ou seja, as pessoas no Brasil não distinguem a alocação de recursos em apostas e em esquemas de pirâmide com aqueles para investimentos tradicionais.

Mais educação, menos publicidade de bets, defende pesquisador

Outro diagnóstico do estudo: pessoas com maior educação financeira estão menos propensas a empregar recursos em bets ou pirâmides.

E isso vale inclusive para indivíduos impulsivos e excessivamente autoconfiantes, quando expostos a propaganda.

Com base nos resultados, Moura defendeu maiores iniciativas governamentais de educação financeira e restrições ou proibição à publicidade das bets.

“É imperioso que o Estado regulamente e fiscalize a publicidade de sites de apostas como faz com a publicidade de bebidas alcóolicas, ou até mesmo proíba, como é o caso do mercado de fumos”, afirmou o professor no levantamento.

Atualmente, o Congresso Nacional brasileiro discute ao menos sete projetos que propõem restrições ou proibição de propaganda das bets.

Assim, esse movimento vai na mesmo direção de países como Alemanha, Portugal, Holanda e Bélgica, que estabeleceram restrições para propaganda das apostas esportivas.

Simultaneamente, no Reino Unido, a Premier League, proibiu propaganda de bets na parte da frente das camisas dos jogadores partir da temporada de 2025-26.


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