Com dívida de R$ 5,9 bilhões, Robert Kiyosaki, autor de “Pai Rico, Pai Pobre”, defende estratégia polêmica. Será que vale arriscar como ele?

“Se eu falir, o banco falirá. Não é um problema meu”, afirma o investidor

Robert Kiyosaki, autor de “Pai Rico, Pai Pobre” (Foto: Wikimedia Commons)
Robert Kiyosaki, autor de “Pai Rico, Pai Pobre” (Foto: Wikimedia Commons)

Será que existe dívida boa? Pois Robert Kiyosaki, autor de “Pai Rico, Pai Pobre”, defende que sim. O investidor afirmou recentemente que acumula uma dívida de US$ 1,2 bilhão – ou seja, R$ 5,9 bilhões. Entretanto, ele a considera positiva. “Se eu falir, o banco falirá. Não é um problema meu”, afirmou ele.

As ideias polêmicas do dono de um dos best-sellers de finanças mais famosos do mundo não param por aí. Kiyosaki recomendou também que se pare de investir na moeda mais forte do mundo, o dólar. Em vez disso, deve-se focar em ativos como ouro, prata e bitcoin.

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Mas será que a estratégia é boa? Convocamos especialistas para analisar essas ideias, no mínimo, polêmicas. Confira e tire suas próprias conclusões.

Aposte na dívida boa

Em uma publicação no Instagram, o investidor disse que utiliza o endividamento para adquirir ativos que vão se valorizar mais do que a taxa de juros cobrada pelo empréstimo, como imóveis, bitcoin e ouro.

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O escritor esclareceu que não usa as dívidas para comprar artigos de luxo, como a Ferrari e o Rolls-Royce que dirige. “Esses estão 100% pagos”, declarou ele. De acordo com Robert Kiyosaki, é exatamente essa preocupação com o destino do empréstimo que define se uma dívida é boa ou ruim.

Segundo Marlon Glaciano, planejador financeiro e especialista em finanças, podemos chamar esse modelo de dívida de alavancagem de patrimônio. Ele explica:

“Tomamos crédito a juros mais baixos fazendo com que a geração de ativos/dividendos seja maior do que o valor do pagamento combinado com o credor. Dessa forma, utilizamos o dinheiro de uma instituição terceira para alavancar o nosso patrimônio, tendo em vista que esse dinheiro terá capacidade para gerar mais ativos do que a própria dívida contraída”.

Na avaliação de Ana Calixto, economista e consultora financeira, esse tipo de investimento possui uma alavancagem elevada. “Afinal, o capital é de terceiros e, se não render conforme o esperado, além de não acumular dinheiro, ainda é preciso pagar as prestações e juros ao banco. Então, boa ou ruim, é uma dívida a ser paga”, pontua Ana.

Cautela

A economista destaca que um exemplo bastante comum é o de empreendedores que fazem empréstimos para comprar estoque, focando em lucros maiores do que os juros. Porém, existe o risco de esse estoque não ser vendido totalmente.

“A recomendação nesses casos de alavancagem é: na pior hipótese, há dinheiro para honrar com os pagamentos? Em caso negativo, há chances de esse investidor se tornar um inadimplente”, afirma a consultora financeira.

Nesse sentido, é necessário cautela. “Se um imóvel não for um bom investimento para Robert Kiyosaki, ele perde pouco. Já para a maior parte da população, significaria perder muito”, alerta a consultora financeira.

Perfil “qualificado”

Glaciano salienta que essa modalidade é normalmente utilizada por um “perfil de pessoa mais madura e com mais capacidade financeira para absorver possíveis desvios no caminho”. “Outro ponto importante será o conhecimento e a oportunidade para que esse dinheiro tenha essa capacidade, pode ser algo complexo para pessoas comuns”, avalia o especialista.

Sendo assim, fazendo um paralelo com o perfil de investidor, a recomendação seria para aquele considerado “qualificado”.

Parar de investir em dólar

Mais uma sugestão controversa do autor de “Pai Pobre, Pai Rico”. Robert Kiyosaki defende que as pessoas parem de investir em dólar, recomendando focar em ativos que ele chama de “reais” – como metais preciosos, bitcoin ou gado Wagyu (refere-se a quatro raças de gado criado no Japão).

O investidor disse não confiar no dólar devido à retirada da moeda norte-americana do padrão-ouro em 1971, durante o governo de Richard Nixon. Mas será que essa é uma boa ideia?

Os especialistas consultados pela Inteligência Financeira torcem o nariz. “Acredito muito que inteligência e diversificação geram uma boa carteira e posição de investimentos. Não acredito que o extremismo seja algo inteligente. Inclusive a regra básica para ter sucesso financeiro é de fato não colocar todos os ovos na mesma cesta, incluindo ter uma diversificação inteligente”, defende Marlon Glaciano.

De acordo com o planejador financeiro, o dólar continua sendo a moeda mais forte do mundo, movimentando mais de 80% da economia mundial, principalmente nos produtos de commodities.

“Decidir não ter dólar não seria uma decisão acertada. Agora, é realmente importante ter posições em ativos como ouro, prata e criptoativos dentro de uma estratégia de investimentos que varia de pessoa para pessoa”, resume o especialista em finanças.

Poder de influenciador

Além disso, pessoas como Robert Kiyosaki tem um grande poder de influenciar o mercado financeiro e, consequentemente, suas próprias fortunas, conforme Ana Calixto. Ou seja, “uma demanda maior por ouro, prata e bitcoin faz com que esses ativos se valorizem e, por sua vez, elevem o patrimônio de quem já é investidor”.

“Por isso, é preciso analisar se a recomendação faz sentido para sua carteira e perfil de investimento. Vale lembrar que a diversificação é sempre a melhor aliada”, aconselha a economista e consultora financeira.

Por fim, vale lembrar que a Rich Global LLC, empresa de Robert Kiyosaki, entrou com um pedido de falência em 2012.

“Pai Rico, Pai Pobre”: a obra de Robert Kiyosaki

Lançado em 1997, “Pai Rico, Pai Pobre” foi o primeiro best-seller de Robert T. Kyiosaki e Sharon Lechter e deu origem a uma série de enorme sucesso. Na obra, os autores defendem que, com inteligência financeira, muitos problemas comuns da vida cotidiana podem ser resolvidos.

“A principal razão pela qual as pessoas têm problemas financeiros é que passaram anos na escola, mas não aprenderam nada sobre dinheiro. O resultado é que elas aprendem a trabalhar por dinheiro… mas nunca a fazê-lo trabalhar para elas”, afirma Robert Kiyosaki.

De acordo com o autor, cada indivíduo tem o poder de determinar o destino do dinheiro que chega às mãos. Assim, a melhor maneira de preparar os filhos para o mundo é dividir conhecimento sobre finanças com eles.

Para o autor, o conselho mais perigoso que se pode dar a um jovem nos dias de hoje é: “Vá para a escola, tire notas altas e depois procure um trabalho seguro”. As regras seriam outras, defende ele no livro. Isso porque não existiria mais emprego garantido para ninguém.  Assim, conforme “Pai Rico, Pai Pobre”, “a questão não é ser empregado ou empregador, mas ter o controle do próprio destino ou delegá-lo a alguém”. 

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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