Como os hábitos de consumo influenciam as finanças: cinco dicas para gastar melhor

A forma como você gasta diz muito sobre você. Mas, será que sua vida financeira está equilibrada?

- Ilustração: Renata Miwa
- Ilustração: Renata Miwa

Você é o que você gasta? Nem sempre. A verdade é que nossos hábitos de consumo dizem muito sobre a gente, mas essa não é uma análise tão simples. “O consumo materializa o que queremos projetar e conquistar, é um pouco do que a gente quer ser. Quando compramos uma roupa, um carro ou uma casa, estamos dando vida às nossas conquistas e ao dinheiro que ganhamos. O que você consome e suas decisões financeiras mostram muito como você se apresenta para o mundo”, diz Ana Leoni, especialista em comportamento e orientação financeira.

Ou seja, morar em um determinado bairro, vestir determinadas roupas e consumir determinados produtos simbolizam seu estilo de vida e a maneira como você se projeta. Essa projeção, inclusive, tem a ver com a aceitação e inclusão que queremos ter em um determinado contexto. “As pessoas compram para fazer parte de grupos, para se identificar, ou mesmo imitar outras pessoas ou se sentir mais próxima com algo em comum. É uma forma de evidenciar o seu lugar na sociedade”, explica Paula Sauer, economista, planejadora financeira e professora de economia comportamental na ESPM.

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As especialistas ressaltam que o nosso consumo é baseado em três motivadores. O primeiro é a necessidade. Afinal, todos precisam se alimentar, vestir e ter um lugar para morar. A segunda é a conveniência. “A vida moderna acaba pedindo algumas facilidades e o consumo permite isso. Em vez de ir a um supermercado, muitas vezes você pede por um aplicativo, por exemplo”, explica Ana Leoni. Por fim, existe o prazer. O consumo traz a satisfação de realizar projetos e conquistas. 

O desequilíbrio

Esses três motivadores guiam nosso cotidiano e a forma como consumimos. “Não há nada de errado em consumir por essas motivações. O problema é quando há um desequilíbrio entre elas. Não dá para consumir só por necessidade ou só por prazer”, ressalta Ana Leoni. É aí que muitos se perdem e acabam tendo a saúde financeira afetada. 

Com a pandemia, isso ficou ainda mais claro. Ana define o impacto desse período de três formas: medo, consumo de alívio e revanche. “No início tínhamos muitas incertezas e acabamos ficando mais retraídos. A imprevisibilidade gerou um freio. Depois, quando vimos que a situação se prolongava, passamos a ter uma angústia muito grande e a buscar o consumo como um alívio. E então, com a retomada das atividades, vem o que chamamos de consumo de revanche. Muitos querem tirar o atraso e fazer o que não fizeram nos últimos dois anos”, explica.

Por outro lado, muita gente perdeu o emprego, fechou seus negócios ou viu a renda reduzir por conta dos impactos do vírus. “Acredito que as compras também foram influenciadas por outra emoção: o medo. Medo de perder o emprego, medo de não ter dinheiro, medo de passar aperto financeiro”, ressalta Paula Sauer. E é aí, nesse cenário nebuloso, que os pratinhos podem se desequilibrar.

A internet e as redes sociais também são armadilhas de consumo e se tornaram ainda mais presentes. “Antigamente os estímulos eram analógicos e para comprar algo você precisava ir até a loja. Hoje em dia você é impactado por novos produtos a todo momento e é estimulado a comprar com um clique. Você acaba se projetando também naquilo que está sendo apresentado nas redes e desejando muito aquele item”, explica Ana. 

Como não cair nas armadilhas?

Sabemos que equilibrar nosso consumo e ter as finanças em dia nem sempre é uma tarefa fácil. Ana ressalta que o primeiro passo é entender que somos cheios de vieses e que é natural que ajustes sejam feitos no meio do caminho. Dito isso, trazemos alguns exercícios que podem te ajudar:

Todo exagero esconde uma falta

Reveja seus hábitos de consumo e classifique suas últimas compras com base nos motivadores. Se perceber que existe um excesso em algum deles, procure entender o porquê. “São comportamentos mais relacionados à emoção do que à razão. Identifique o que está te levando ao excesso”, ressalta Ana.

Pense e repense

O velho exercício de pensar antes de comprar pode parecer batido, mas é importante. “Tudo bem fazer uma compra só porque você quer, e não porque você precisa. Mas às vezes isso pode atrapalhar suas finanças. Entre na loja, experimente, espere o dia seguinte e, se a vontade permanecer, pode justificar aquela compra”, explica Ana.

Você pagaria o valor inteiro?

As liquidações costumam ser um prato cheio para o desequilíbrio. Por isso, vale o exercício de se perguntar o quanto você pagaria por aquele produto. Muitas vezes você não pagaria o preço cheio, mas acaba levando mais pela  “oportunidade” da promoção do que pela real vontade.

Comece a fazer listas

Seja no supermercado, na feira ou nas compras de final de ano. Tente sempre listar aquilo que precisa.  “Quando você faz isso, acaba dando um parâmetro de compras para o cérebro. Você entende exatamente o que precisa e diminui as chances de sair do planejado”, explica Ana.

Converta o valor em horas de trabalho

Essa é uma das melhores formas de filtrar suas compras. Vale a pena trabalhar um mês inteiro para comprar um celular novo? Quando você converte o valor das coisas em horas de trabalho, consegue entender o esforço real que precisa para ter aquele item. “Às vezes vale a pena, outras vezes não. Quando prestamos mais atenção nisso, damos mais valor ao nosso dinheiro.”

Saiba mais

Você é o que você gasta também foi tema do podcast Investidor em foco, produzido pelo Itaú Personnalité. Confira o episódio completo no link abaixo:

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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