A variação dos preços impacta cada pessoa ou família de maneira diferente. Fazendo o cálculo, você pode identificar os gargalos no seu orçamento e se planejar melhor
Em setembro deste ano, a inflação oficial do Brasil subiu 1,16%, o maior aumento para o mês desde 1994. A pandemia e outros fatores contribuíram para o cenário, fazendo com que a renda dos brasileiros valesse menos. “A inflação vai diminuindo o nosso poder de compra mês a mês. Na prática, voltamos com menos produtos do mercado porque o preço dos itens aumentou”, explica Renato Veloni, economista e professor de Macroeconomia no Ibmec SP.
O aumento da inflação impacta diretamente no bolso das pessoas, variando de acordo com a cidade e outros fatores. Na Região Metropolitana de São Paulo, o custo de vida acumulou uma alta de 10,27% nos últimos 12 meses, maior patamar desde fevereiro de 2016, quando a variação era de 10,98%. Os dados foram divulgados pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), por meio do índice de Custo de Vida por Classe Social (CVCS). Apenas em setembro, o custo subiu 0,93%.
Segundo o levantamento, a inflação está concentrada em itens como transporte, habitação e alimentação. “Esses são os itens que mais impactam as famílias, principalmente as de rendas mais baixas. São coisas que não conseguimos ficar sem”, ressalta Renato Veloni, do Ibmec SP. Calcular a sua própria inflação pode, portanto, te ajudar a lidar melhor com a situação. “Fazendo esse exercício de identificar onde a inflação mais pesa no bolso, você pode fazer ajustes e passar por esse período de maneira mais suave. Quem não fizer nada pode ter problemas financeiros”, explica o economista.
Como fazer esse cálculo?
A inflação impacta cada pessoa ou família de maneira diferente. “Três coisas definem como a inflação será percebida: a renda, a configuração dessa família — se tem idosos ou crianças em idade escolar, por exemplo —, e os hábitos de consumo”, explica André Braz, coordenador dos Índices de Preço do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE).
Uma maneira simplificada de calcular a sua própria inflação é tomar como base as categorias incluídas no cálculo do IPCA, o principal índice brasileiro de inflação. Ele analisa nove grupos: alimentação, habitação, artigos de residência, vestuário, transporte, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação e comunicação.
O ideal é que você separe seus gastos nessas categorias e use um intervalo como referência. Por exemplo: se deseja saber a sua inflação anual, calcule o quanto gastou em cada categoria no ano atual e no anterior. Somando tudo, você consegue saber a variação de um ano para outro em porcentagem. Essa é sua inflação pessoal.
Fizemos uma simulação para te ajudar a entender:
Nesse exemplo, a inflação pessoal anual foi de 9% e a categoria que mais variou foi a de comunicação (que representa gastos com telefonia móvel e fixa e internet), com 25% de aumento. Aqui vai um alerta: para acompanhar a inflação você deve manter um consumo estável – caso contrário, não estará medindo a variação pura de preços. “Inflação é quando consumimos as mesmas coisas e vemos que o orçamento está ficando mais comprometido. Por isso é importante acompanhar bem as despesas para não variar o volume consumido”, ressalta André Braz, da FGV IBRE.
Uma outra opção é usar plataformas que automatizam os cálculos. Pelo portal da inflação da FGV IBRE você pode consultar sua inflação média mensal. O instituto monitora o comportamento do preço de vários produtos e serviços. O cálculo é feito com base no Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Br) e nas informações de rendimento e despesas preenchidas pelo usuário. Segundo André, o acompanhamento é importante para identificar gargalos no orçamento. “Fazendo esse controle você consegue entender como cada categoria compromete sua renda, a variação de cada uma e envolver a família toda para diminuir gastos e não ser surpreendido”.