Trabalhador autônomo foi o mais afetado pela pandemia. Como se proteger e organizar as finanças?
É hora de rever as contas para eliminar gastos desnecessários e adotar uma nova postura para atingir a saúde financeira
Débora Galindo, de 35 anos, é médica autônoma e divide sua rotina entre três empregos sem vínculos trabalhistas. Durante muito tempo, a relação que tinha com as finanças era ruim. Nunca gostou de cálculos, planilhas e se considerava até um pouco desorganizada. Mas, há dois anos, viu a necessidade de mudar, organizar o orçamento e ter uma nova realidade.
Débora é uma das 24,8 milhões de pessoas que trabalham por conta própria no Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número atingiu seu recorde no segundo trimestre deste ano. A quantia corresponde a 28,3% da população ativa no mercado de trabalho. Em paralelo, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os trabalhadores autônomos foram os mais prejudicados pela pandemia, com a maior queda de rendimento em 2020. No segundo trimestre do ano passado, eles receberam 24% a menos do que a renda habitual.
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Cuidar das finanças, portanto, se tornou ainda mais importante para aqueles que tocam a própria rotina de trabalho. “É um desafio. Temos que ter um cuidado maior porque o que ganhamos em um mês pode não ser o mesmo no próximo. Além disso, entendi a importância de manter uma reserva suficiente para imprevistos. A organização financeira traz clareza sobre nossos reais gastos e objetivos de vida”, ressalta Débora. Sabemos que na prática pode ser mais difícil do que parece. Separamos algumas dicas para ajudar você nessa jornada.
Identifique sua receita média
O ideal é que você analise sua receita do último ano, calculando, em média, o quanto recebe por mês. Para isso, junte tudo que entrou de dinheiro e divida pelo número de meses analisados. Assim, consegue ter uma ideia dos períodos em que faturou abaixo ou acima da média. Você precisa entender que a organização financeira para autônomos requer um acompanhamento de perto, mais detalhado. É normal que você faça ajustes ao longo do tempo.
Calcule seus gastos
Assim como a receita, anote todas as suas despesas. “Você precisa ter claro o quanto gasta na vida pessoal e no trabalho. Isso inclui, por exemplo, anuidade de conselhos, materiais de escritório, aluguel, luz, água, internet e alimentação”, ressalta Rejane Tamoto, planejadora financeira CFP pela Planejar. Dessa forma, você identifica o capital mínimo necessário para se manter todos os meses.
Separe suas contas
Se possível, crie duas contas no banco para separar as finanças pessoais das do negócio. Isso garante que você não se perca no meio do caminho, controlando o que entra e sai do caixa profissional. “Uma alternativa é ter uma conta pessoa física e outra como pessoa jurídica. Assim, você envia uma espécie de salário para você mesmo todo mês e consegue visualizar melhor as contas. É importante ter essa divisão”, aconselha Rejane.
Fique de olho nos impostos
“Vejo muita gente que não se organiza e acaba se perdendo porque não tem seus impostos recolhidos automaticamente, como uma pessoa contratada pelo regime CLT. É muito importante se informar sobre essa parte fiscal”, alerta Rejane. Entenda o que você precisa pagar de impostos, como ISS, INSS e Imposto de Renda. A contribuição varia de acordo com a sua situação e se você tem ou não uma empresa formalizada.
Tenha uma reserva de emergência
Qualquer profissional precisa ter uma reserva de emergência. No caso dos autônomos, isso é ainda mais importante. “O ideal é que ela seja um pouco maior, já que é um cenário mais imprevisível. Eventos inesperados podem acontecer, como a pandemia. A reserva te protege contra o endividamento”, explica Rejane. Idealmente, para evitar qualquer perrengue, junte uma quantia que cubra 12 meses dos seus gastos.
Pense no seu futuro
Sabemos que não é fácil fazer o dinheiro sobrar no final do mês, mas faça um esforço: reveja suas contas, elimine gastos desnecessários e crie um planejamento para investir mensalmente, mesmo que comece com pouco. Pensar no futuro é fundamental. “Todo mês eu separo um valor para gastos fixos, faço uma estimativa salarial do próximo mês e programo gastos extras que sei que virão. Uma outra parte deixo para minha reserva de emergência, previdência e investimentos”, explica Débora.