Rafael Zulu: ator global se lança na construção civil e mira no ‘Caribe brasileiro’ no Nordeste
Rafael Zulu: ator global se lança na construção civil e mira no ‘Caribe brasileiro’ no Nordeste
Em entrevista à Inteligência Financeira, Zulu conta como se tornou sócio de uma construtora e explica a origem da Tardezinha, maior empreendimento de entretenimento do país
Rafael Zulu tem uma agenda concorrida. No dia em que deu entrevista à Inteligência Financeira, o ator e empresário de 41 anos estava com o tempo contado em uma rápida passagem por São Paulo.
Com trabalhos e negócios em várias partes do país, ele escolheu seguir próximo às suas raízes, morando no Rio de Janeiro onde nasceu e cresceu. Por isso, viaja mais do que gostaria e acaba tendo que passar períodos distante da família. Algo que hoje ele aceita pela expansão das empresas, mas que daqui alguns anos espera conseguir reduzir.
Rafael Gervásio dos Santos ficou conhecido como Zulu por sugestão de uma colega do curso de teatro, a atriz Josie Pessoa. Hoje em dia, o nome artístico que ficou famoso por novelas como “Ti Ti Ti” e “Fina Estampa” também remete a um empresário em ascensão.
Zulu é uma das mentes por trás da Tardezinha, evento hit de entretenimento que enche casas de show pelo país, e é um dos sócios de uma construtora que está fazendo barulho no Nordeste do país.
Na última semana, a DUE Incorporadora anunciou uma sociedade com a NR Sports, empresa de Neymar, para criar a Rota DUE, com o ambicioso título de Caribe brasileiro. Zulu é um dos sócios da construtora.
O projeto prevê 28 empreendimentos imobiliários nas praias de Porto de Galinhas e Carneiros, em Pernambuco, e de Maragogi, Antunes e Japaratinga, em Alagoas. O valor geral de venda (VGV) estimado desses empreendimentos é de aproximadamente R$ 7,5 bilhões.
Os negócios de Rafael Zulu
Entretenimento, construção civil e estética. Hoje são esses os três segmentos em que atua o empresário Rafael Zulu. No show business, a Tardezinha, uma sociedade com o cantor Thiaguinho. “É algo que nós não pensamos que pudesse se tornar tão gigante. E a Tardezinha se tornou o maior projeto de entretenimento do país, a maior turnê da história”, afirma.
Falaremos mais sobre a Tardezinha, mas antes um parêntesis importante para o lado de Zulu, que é um militante da causa antirracista e é orgulhoso do sucesso que ele e Thiaguinho, dois homens negros, conseguiram construir.
“Acho grandioso o segmento que é, dois homens negros que criaram, no segmento do pagode, que originalmente vem da comunidade, vem da periferia. É motivo de orgulho para nós”, diz ele.
Na construção civil, ele é um dos sócios da DUE Incorporadora. Uma empresa que nasce na pandemia, na visão de que a casa de praia ganharia uma importância maior na cabeça dos consumidores e que estavam diante da oportunidade.
Por fim, Zulu está iniciando um novo empreendimento, uma rede de clínicas de estética odontológica. O objetivo é entregar as populares lentes de contato que estão na boca de jogadores, atletas e empresários, sendo o efeito colateral desse procedimento. Hoje, é necessário desgastar os dentes originais para colocar as lentes, algo que ele promete que não acontecerá nas suas clínicas.
Como nasce uma construtora
Quando entrevistamos Zulu, o negócio com Neymar ainda não tinha sido fechado. Mesmo assim, os números da DUE impressionavam. Já eram 8 canteiros de obra, mais 12 lançados e landbank de mais 8. “Ou seja, temos quase 30 empreendimentos pros próximos 2 anos”, disse.
No ano passado, a DUE lançou R$ 2,3 bilhões de VGV (ou Valor Geral de Vendas). “É um número expressivo para a idade da empresa, mas é do tamanho da nossa vontade de crescer cada vez mais.”
Mas como a DUE surgiu? A empresa é uma sociedade de Zulu com o ex-jogador Adaílton dos Santos e os empresários Abílio Costa e André Costa.
“Como um ator e um ex-atleta abrem uma construtora? Eu e Adaílton sempre flertamos no quesito empreendedorismo, sempre tivemos negócios menores, mas que não deram certo”, começa Zulu. Assim, a virada de chave veio quando começaram a reparar na pandemia o ganho de importância da segunda moradia, o que encararam como oportunidade de investimento.
“Fomos vendo o desejo das pessoas, os hotéis lotados nesse litoral sul de Pernambuco. Olhamos um para a cara do outro e pensamos: e se a gente construir? Ainda tinham terrenos disponíveis por ali. A casa de praia deixou de ser a casa com o pior eletrodoméstico, com o sofá velho. As pessoas colocaram internet, começaram a trabalhar dali. Ligamos o sinal verde, podemos construir. Mas o que fazer se a gente não tem dinheiro?”, prossegue.
Boleiros e investidores
A solução veio das boas relações que os amigos tinham. Dessa maneira, a proposta de negócio foi oferecida a jogadores de futebol brasileiros que atuavam no exterior e tinham funding para investir. Atletas como Ederson e Fernandinho, ambos da seleção brasileira e à época no futebol inglês.
“Temos a ideia, temos o know how, mas não temos a grana. Eles disseram ‘a gente se torna sócio de vocês, dessas operações e quando vocês tiverem pernas para caminharem sozinhos vocês caminham'”, relembra. Com o sim dos investidores, os terrenos de R$ 15 milhões a R$ 25 milhões passaram a ser adquiridos e a mágica começou.
Para Zulu, a pandemia foi o que o tirou da zona de conforto e o colocou de vez nesse mundo. “A DUE nasce no caos que foi a pandemia. É uma pena o mundo ter passado pelo que passou, mas eu também acredito que a pandemia serviu para a gente se mexer e sair dessa zona de conforto. Talvez se ela não tivesse acontecido a gente estaria aguardando para seguir com a nossa vida”, reflete.
Tardezinha: sonho que virou realidade
“Boas ideias surgem em uma mesa de bar”, resume o ator e empresário. Ele estava tomando um vinho com Thiaguinho, que contava a ele que passaria 12 domingos seguidos no Rio de Janeiro. O cantor gravaria uma participação em um programa da TV Globo e por isso ficaria esses meses sem viajar aos finais de semana. E viagens são comuns na rotina de shows.
Dito isso, surgiu a ideia de uma roda de samba. Inicialmente, algo como uma reunião de amigos para beber, conversar e fazer um som. Ou seja, nada muito distante do que você que está lendo possivelmente já tenha feito com os seus chegados.
“Ele disse que ia cantar. Eu falei: ‘Thiago não é trabalho não, é pra gente bater papo e depois você ir pra Globo’ “, conta. Acontece que o projeto foi se tornando algo maior. Zulu e Thiaguinho levaram a ideia a sócios, que foram se animando e a ideia foi crescendo.
Cresceu tanto que em 2023 vendeu 750 mil ingressos, com shows em 30 cidades diferentes. Apenas em São Paulo foram 90 mil entradas em dois dias lotados na Neo Química Arena.
“É inacreditável o tamanho que a Tardezinha se tornou, os números que ela alcançou. 750 mil pessoas passaram pela Tardezinha, uma receita financeira bastante expressiva que ela gerou, mais de 4 mil empregos diretos e ações sociais”, diz. “Era uma festa e se tornou um grande negócio.”
Relação com o dinheiro e os investimentos
Rafael Zulu conta que veio de família simples e não teve nada do que hoje conhecemos como educação financeira na sua infância e adolescência. “Dinheiro na minha casa sempre foi ligado a problema”, resume.
“A gente sempre tocou no assunto do dinheiro, mas sempre de forma ruim. E eu cresço sem essa referência. Quando eu começo a ganhar dinheiro eu não tinha menor habilidade com o dinheiro. Se você ganha muito segura, se ganha pouco segura porque vai precisar… Tive que aprender na raça. E é muito mais difícil trocar a roda com o carro em movimento”, relembra o ator.
A entrada no mundo dos investimentos é mais recente.
Dada a origem do sucesso empresarial de Zulu, talvez você não se surpreenda ao saber que o primeiro e preferido investimento do ator são os imóveis. “Eu gosto muito do físico e a construção civil é uma coisa que eu sempre fui muito apaixonado”, conta.
O motivador foi o desejo por buscar uma vida mais confortável.
“Eu, enquanto ator, percebi que a vida de ator não me daria a vida confortável que eu gostaria de ter. Então eu precisei ramificar. O imobiliário sempre me pegou muito, mas eu sou um cara que sempre gostou de mexer com milhões de coisas. Pegava uma grana de um trabalho e colocava no banco com uma taxa X. Eu gosto de saber que tem um dinheiro ali”, afirma.
A rua, o teatro e a TV na vida de Rafael Zulu
Rafael Zulu conta que cresceu em uma comunidade periférica em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Ele diz que passou a sua infância como um menino que brincou na rua. “A rua era o quintal da nossa casa”, relembra.
A vontade de ser ator surgiu de assistir filmes, novelas e ir em peças de teatro. Aos 12 anos, ao assistir uma apresentação do “Pequeno Príncipe”, ele ficou encantado pelo ofício, mas achava inacreditável que alguém fosse capaz de decorar o texto de uma peça inteira. “E foi uma loucura, porque depois eu fui um cara que sempre teve facilidade de decorar texto”, afirma.
As apresentações para a família em casa viraram uma profissão e deram projeção à Zulu. No entanto, fama de vez veio na televisão, tendo como divisor de águas o remake de “Ti Ti Ti”, lançado em 2010.
Ele diz não ter intenção de largar a carreira mesmo com o lado empresarial aflorado. Por sinal, o ator vê sua desenvoltura natural da profissão como algo que o ajuda nos negócios. Além disso, um de seus trabalhos mais recentes é a série “A Sogra Que Te Pariu”, da Netflix.
“A arte mora dentro de mim, ninguém tira e eu não permitiria. Tudo que eu faço eu levo a minha arte, o meu ator, a minha desenvoltura, a minha comunicação. A arte é o que me pulsa”, afirma. “Quando eu consigo levar a minha arte para a apresentação de um novo empreendimento eu levo um pedaço do Rafael ator, com o carisma e a comunicação. A arte é o que me arrepia”.