PorRodolfo Olivo Professor e pesquisador da FIA - Fundação Instituto de Administração
Pontos-chave
A gestão eficiente de uma carteira de investimento passa não somente pela busca de ativos com bom retorno potencial, mas também pela gestão dos riscos destes ativos
Existem diversos tipos de riscos envolvidos em cada tipo de ativo de investimento e cabe ao investidor conhecê-los e gerenciá-los
O sucesso da carteira de investimentos em longo prazo está diretamente relacionado com o balanceamento entre os retornos potenciais dos ativos e seus riscos
A gestão efetiva de uma carteira de investimentos possui dois macro temas:
A administrações do retorno esperado;
A gestão dos riscos envolvidos em cada investimento.
O sucesso do investimento em longo prazo está diretamente relacionado à boa gestão destes dois aspectos, o retorno e o risco.
Na verdade muitas vezes chamamos de “risco” no singular, mas há diferentes tipos de riscos envolvidos em investimentos, no plural. O mercado financeiro como um todo está sempre bastante preocupado com estes riscos, assim em 1974 foi formado o Comitê de Basileia para Supervisão Bancária (Basel Committee on Banking Supervision – BCBS), o fórum internacional para discussão e formulação de recomendações para a regulação prudencial e cooperação para supervisão bancária, tendo por objetivo reforçar a regulação, a supervisão e as melhores práticas bancárias para a promoção da estabilidade financeira. O comitê chegou ao seu primeiro acordo (Basileia I) em 1988 e avançou para mais dois acordos posteriormente, em 2004 e 2010.
Neste contexto o Comitê da Basileia classificou e organizou os principais tipos de riscos ao que os bancos e também os investidores, por consequência, estão sujeitos. Esta é uma forma muito útil de pensar nos riscos para a sua carteira.
Tipos de riscos ao investir
Veja quais são os principais tipos de riscos classificados pelo Comitê da Basileia, organização que congrega autoridades de supervisão bancária.
Risco de crédito
Aplicável a dívidas e consequentemente à títulos de renda fixa, já que o investidor está emprestando dinheiro a juros para o tomador nesta modalidade. Consiste na possibilidade do investidor tomar um calote, não recebendo seus recursos de volta, por exemplo, pela falência do tomador.
Risco de mercado
Aplicável tanto à renda fixa quanto à renda variável, consiste no risco da variação de preço do ativo adquirido, levando a eventuais prejuízos do investidor, quando o preço de ativo no qual investiu diminui.
Risco de liquidez
Este risco consiste na impossibilidade de vender rapidamente o ativo investido, em caso de necessidade, sem perder um valor significativo como desconto. Ocorre geralmente por mercados restritos, com poucos investidores, ou valores muito altos.
Um exemplo do cotidiano é a venda de um imóvel, geralmente possui baixa liquidez, demorando para vender. Em caso de necessidade de venda rápida, há uma chance grande de necessitar de um desconto significativo levando o investidor a ter prejuízo.
Risco operacional
Consiste no risco de falhas nos processos de investimento, como má gestão, falta de controles adequados, falhas tecnológicas ou de sistema ou ainda erros humanos no processo de registro ou execução, contabilização, entre outros, levando o investidor a ter prejuízo por conta de uma operação defeituosa por parte da corretora, banco, instituição, plataforma ou tecnologia responsável por operacionalizar o investimento.
Risco legal
Este risco ocorre quando o investimento ou a instituição responsável por sua execução está em desacordo com a legislação ou regulação das autoridades responsáveis. Algumas vezes o investimento ainda não foi sequer regulado, assim há o risco legal de uma regulação que prejudique de alguma forma o investidor podendo causar prejuízos.
Como gerir riscos ao investir?
Uma forma prática de visualizar e gerir qualitativamente estes riscos consiste na criação de uma matriz (que é um nome chique para tabela) colocando-se os investimentos que você possui na sua carteira e classificando os riscos incorridos.
Digamos, por exemplo, que a sua carteira conta com os seguintes investimentos:
Tesouro Selic;
Tesouro IPCA;
Debêntures;
Ações de empresas de grande porte (large caps);
Ações de empresas de pequeno porte (small caps);
Criptomoedas.
A matriz ficaria assim:
Investimento
Risco decrédito
Risco demercado
Risco deliquidez
Riscooperacional
Riscolegal
Tesouro Selic
Não
Não
Não
Não
Não
Tesouro IPCA
Não
Sim
Não
Não
Não
Debêntures
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Ações large caps
N/A
Sim
Não
Não
Não
Ações small caps
N/A
Sim
Sim
Não
Não
Criptomoedas
N/A
Sim
Sim
Sim
Sim
N/A = não aplicável
No exemplo da matriz ficam claros os riscos que cada elemento da carteira está correndo. O Tesouro Selic não corre nenhum dos riscos, por isso é tão indicado para a reserva de emergência.
Já para o Tesouro IPCA o investidor não deve se esquecer que, apesar de muito seguro, corre risco de mercado, em curto e médio prazo, devido à marcação à mercado que o título sofre diariamente. Assim a análise continua até chegar as criptomoedas, as quais correm basicamente todos os riscos classificados pelo Comitê da Basileia.
O investidor deve estar atento a todos estes tipos de riscos para seus diferentes investimentos dentro de sua carteira a fim de não ser surpreendido com potenciais prejuízos inesperados, especialmente para os tipos de riscos menos visíveis, como o risco operacional, de liquidez e o risco legal.
O sucesso da carteira de investimentos em longo prazo está diretamente relacionado a um bom balanceamento entre os retornos potenciais dos ativos investidos em relação aos seus riscos inerentes: isto é inteligência financeira.