O que esperar da primeira decisão do Fed da era Trump e da primeira do Copom sob Galípolo nesta ‘Superquarta’
Os caminhos já traçados para as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed) e do Banco Central do Brasil não devem ser alterados em relação ao que espera o mercado nesta quarta-feira. Enquanto nos Estados Unidos é ampla a expectativa em torno de uma pausa no ciclo de redução dos juros pelo Fed, por aqui o mercado é unânime ao projetar um novo aumento de 1 ponto percentual na Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom), na primeira reunião a ser comandada pelo novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, e com uma nova configuração na diretoria.
Brasil
A adoção de um “forward guidance” em dezembro pelo Copom ancorou as projeções dos analistas, diante da indicação de que, em janeiro e em março, o Copom entregaria uma alta de 1 ponto na Selic, atualmente em 12,25% ao ano. A prescrição futura foi reforçada, ainda, por um apontamento de Galípolo de que o sarrafo é elevado para uma alteração no “guidance”, o que, de fato, conseguiu conter as expectativas do mercado por um aumento ainda mais agressivo da taxa de juros.
No fechamento de ontem do mercado de opções digitais, a probabilidade de uma alta de 1 ponto no juro básico nesta quarta-feira estava em 97,6% contra 1% de chance de um aumento ainda mais agressivo, de 1,25 ponto, e 0,5% de possibilidade de uma alta de 0,75 ponto. Além disso, na pesquisa conduzida pelo Valor com 120 instituições financeiras e consultorias, é unânime a expectativa em torno de 1 ponto hoje, embora haja divergências sobre o nível dos juros no fim do atual ciclo de aperto monetário, com algumas expectativas apontando para uma Selic acima de 16%.
Embora a decisão em si já seja conhecida, alguns pontos da comunicação do BC devem ser observados com atenção. Apesar do alívio recente no câmbio, o dólar segue em níveis elevados e, com a piora das expectativas de inflação e o aumento dos preços do petróleo, é provável que haja uma deterioração nas projeções de inflação do Copom. Nos cálculos do Itaú Unibanco, o colegiado deve mostrar em seus números que a estimativa para o IPCA no fim deste ano deve saltar de 4,5% para 5,2%, enquanto a projeção para a inflação no horizonte relevante deve passar de 4,0% no segundo trimestre de 2026 para 4,2% no terceiro trimestre de 2027, mesmo com a taxa de juros do Focus mais alta.
Além disso, após o Copom ter formulado um “guidance” para as próximas duas reuniões em dezembro, o mercado agora espera com ansiedade para saber os próximos passos do colegiado. Há uma expectativa entre os agentes de que o colegiado mantenha a indicação para a reunião de março, mas deixe o cenário aberto para o segundo trimestre em diante. Existe, porém, alguma chance de que o Copom utilize novamente o plural, deixando o “guidance” já dado para os próximos dois encontros do colegiado e, assim, se amarrando também para a reunião de maio.
EUA
Em um contexto de aumento dos juros no Brasil, o Fed deve entregar uma pausa no ciclo de flexibilização monetária e, assim, manter a taxa dos Fed funds parada na faixa entre 4,25% e 4,50%. Além disso, o banco central americano deve deixar a comunicação sem grandes alterações em relação a dezembro, em uma reunião que não deve ter grandes novidades, já que a divulgação de projeções econômicas atualizadas só ocorrerá em março. Em dúvida sobre os próximos passos do Fed, o mercado deve se atentar a quaisquer sinais do próprio banco central ou do presidente do Fed, Jerome Powell, durante a coletiva de imprensa, às 16h30.
Se a decisão do Fed deve ser sem grandes novidades, a coletiva de imprensa deve ser marcada por questionamentos a serem feitos a Powell sobre o impacto econômico de políticas que o presidente dos EUA, Donald Trump, planeja implementar. O uso de tarifas comerciais; o tom mais duro em relação à imigração e cortes de impostos corporativos são pontos vistos pelo mercado como potencialmente inflacionários e com potencial de gerar dúvidas sobre a trajetória da dívida pública americana, o que poderia exigir juros mais altos. Há, inclusive, algumas discussões incipientes entre alguns participantes do mercado sobre as chances de o Fed se ver obrigado a apertar novamente a política monetária.
Com a pausa esperada no ciclo de cortes de juros, o mercado se volta à reação de Trump, já que, na última semana, o republicano mostrou descontentamento com a condução da política monetária, ao exigir juros mais baixos nos EUA.
*Com informações do Valor Econômico
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