Joesley Day
O que é o Joesley Day?
Em uma conversa gravada entre Joesley e o então presidente Michel Temer havia indícios de corrupção. O rumor era de que Temer estava pronto para renunciar. Isso deixou os investidores em pânico e o circuit breaker precisou ser acionado pela primeira vez na bolsa brasileira desde a crise do subprime, em setembro de 2008.
O motivo do caos
O presidente Michel Temer havia assumido o cargo em 31 de agosto de 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, e comandava uma agenda pró-mercado financeiro. Antes do Joesley Day, o governo Temer já havia passado no Congresso o teto de gastos, a reforma trabalhista e avançava para aprovar uma ampla reforma da Previdência. O temor do mercado que afundou a Bolsa de Valores se confirmou nos meses seguintes. A gravação comprometedora de Joesley mudou o foco do mandatário. O projeto que mexia no regime de aposentadorias – e visava reequilibrar as contas do país – foi colocado de lado para que o presidente concentrasse esforços para garantir sua sobrevivência no Palácio do Planalto.
Como tudo começou?
Tudo começou nove meses antes, até desembocar no Joesley Day. Conheça o cronograma desse fato histórico para o mercado financeiro:
31 de agosto de 2016:
O Senado confirma o impeachment de Dilma Rousseff (PT), e Michel Temer (MDB) é empossado como presidente da República. Temer chega prometendo uma relação pacificadora com o Congresso e tem como prioridade o avanço de reformas econômicas defendidas pelo mercado financeiro.
Entre setembro de 2016 e maio de 2017:
A gestão Temer aprova propostas que agradaram o empresariado e as instituições financeiras. Entre elas estavam o teto de gastos, para conter o crescimento dos gastos públicos, e a reforma trabalhista, que flexibilizou as regras para a contratação de funcionários. Tudo indicava que o então governo não teria dificuldades de fazer a reforma da Previdência.
17 de maio de 2017:
Às 19h30, o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, publica na internet a notícia de que o empresário Joesley Batista, do grupo J&F e que tem em seu guarda-chuva a JBS, havia delatado o presidente Michel Temer à Procuradoria-Geral da República (PGR). Havia até uma gravação feita por Joesley que ligava Temer a um escândalo de corrupção.
O áudio não foi divulgado inicialmente, mas a principal revelação de Lauro Jardim era que o presidente supostamente dava aval para que o empresário continuasse fazendo repasses para que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso na época, ficasse em silêncio. Cunha foi o responsável por instaurar o processo que culminou no afastamento de Dilma da presidência. A frase de Temer “Tem que manter isso, viu?” ficou famosa na época.
18 de maio de 2017:
A Bolsa de Valores abre em forte queda e aciona o circuit breaker quando o Ibovespa afundava mais de 10%. A expectativa era pela publicação da íntegra da gravação do encontro entre Joesley e Temer. Às 14h50, o jornalista Ricardo Noblat, que era próximo à Temer, publica a nota em seu blog no jornal O Globo de que era real a possibilidade de o presidente renunciar, em razão da gravidade dos fatos, por pressão da oposição e até mesmo de aliados.
No Palácio do Planalto, por volta de 16h e ainda sem o áudio vir à tona, Michel Temer faz um pronunciamento visivelmente nervoso e afirma que não tinha pretensão de renunciar. A Bolsa de Valores paralisa suas atividades por 30 minutos e o Ibovespa fecha em queda de 8,80%, no maior tombo diário desde 22 de outubro de 2008. Já o dólar salta 8,15%, cotado a R$ 3,38, na maior alta em quase 20 anos.
O pós-Joesley Day em três pontos:
- O presidente Michel Temer conseguiu que a Câmara barrasse duas denúncias contra ele relacionadas à delação. Temer ainda enfrentou a greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, o que derrubou sua popularidade para um dígito e inviabilizou qualquer possibilidade de buscar a reeleição. Meses após deixar o cargo, em 21 de março de 2019, ele foi preso em um desdobramento da Operação Lava Jato;
- O empresário Joesley Batista foi preso em 10 de setembro de 2017, também no âmbito da Lava Jato, acusado de omitir informações no acordo de delação premiada fechado com a Procuradoria-Geral da República e que envolvia Temer;
- Já no governo de Jair Bolsonaro, depois de ser aprovada na Câmara e no Senado, a reforma da Previdência é promulgada em 12 de novembro de 2019 em sessão do Congresso. A principal mudança é a que fixa uma idade mínima de aposentadoria de 65 anos para os homens e de 62 anos para as mulheres.