Ações da Movida (MOVI3) disparam mesmo com queda de 94% no lucro e crítica dos analistas

Desempenho pior que o esperado passa pela deterioração da frota

A Movida é uma das maiores empresas de venda e locação de carros do país - Foto: divulgação
A Movida é uma das maiores empresas de venda e locação de carros do país - Foto: divulgação

A locadora de veículos Movida (MOVI3) registrou um lucro líquido de R$ 17,8 milhões no quarto trimestre, queda de 93,6% sobre os R$ 276,7 milhões apresentados um ano antes. No acumulado de 2022, o lucro líquido somou R$ 556,4 milhões, um recuo anual de 32,1%.

As ações da empresa registravam forte alta nesta terça-feira (7), após os resultados. Os papéis subiam 7,35% por volta das 14h26, cotados a R$ 7,01, tendo batido R$ 7,26 de máxima.

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Recomendação e preço-alvo

O Credit Suisse tem recomendação neutra para Movida, com preço-alvo em R$ 8.

A XP tem recomendação de compra, com preço-alvo em R$ 25.

O Citi tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 7,25.

A Ativa Investimentos tem recomendação neutra para as ações da Movida, com preço-alvo de R$ 9,70.

O BofA mantém uma indicação neutra sobre as ações da Movida, com um preço-alvo de R$ 9,60.

O BTG Pactual tem recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo de R$ 28.

O BB Investimentos reiterou a recomendação de compra para os papéis, com preço alvo de R$ 22,00 para o final de 2023.

Explicações

Em comunicado divulgado ao mercado, a Movida afirma que a queda no lucro ao longo de 2022 foi causada pelo aumento na taxa básica de juros, que gerou uma despesa financeira líquida de R$ 1,7 bilhão, 250,8% maior do que a de 2021.

A receita líquida entre outubro e dezembro ficou em R$ 2,7 bilhões, alta de 73,6% na comparação anual. Desse montante, R$ 1,3 bilhão corresponde a receita líquida de locação, que subiu 40,2%, e R$ 1,4 bilhão é resultado da venda de ativos, que avançou 73,6% no ano.

Na soma de 2022, a receita líquida subiu 80% sobre 2021, para R$ 9,6 bilhões. Desse volume, R$ 4,6 bilhões são da receita líquida de locação e R$ 5 bilhão são da venda de ativos, que apresentaram altas de 67,8% 92,8%, respectivamente. O avanço da receita estaria relacionado às tendências de crescimento de tarifa média e de volumes para RAC, afirma a empresa.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) do trimestre alcançou R$ 858,2 milhões, um crescimento de 7,6% sobre o quarto trimestre de 2021. No acumulado do ano, o Ebitda chegou a R$ 3,5 bilhões, alta de 70,5%.

A frota total no segmento RAC no final de 2022 era de 111.632 veículos, ante 90.671 unidades ao final de 2021, o que representa um crescimento de 23,1%. A taxa de ocupação no quarto trimestre ficou em 76,6%, queda de 4,3 pontos percentuais (pp), enquanto no ano, a taxa ficou em 77,3%, um recuo de 3,4 pp. A média diária foi de R$ 145 entre outubro e dezembro, alta de 22%, e de R$ 135 entre janeiro e dezembro, um avanço de 40,8%.

Dívida e depreciação

A dívida líquida chegou a R$ 10,8 milhões no quarto trimestre, um avanço anual de 63,9%. Assim, a alavancagem da empresa, considerando a relação dívida líquida sobre Ebitda, ficou em 2,8x, um pouco abaixo dos 2,9x apresentados um ano antes.

A depreciação foi de R$ 1,1 bilhão em 2022, crescimento de 173% na comparação anual. A empresa atribuiu esse desempenho ao cenário macroeconômico mais volátil, que gerou restrições no poder de compra da população, na concessão de crédito e que vem pressionando preços de carros usados, trazendo uma regularização mais rápida nas margens de seminovos.

Os investimentos em 2022 alcançaram os R$ 4,5 bilhões, abaixo do guidance anunciado inicialmente, que projetava investimentos ente R$ 5,1 bilhões e R$ 6 bilhões ao longo do ano. Para 2023, a Movida afirma que a tendência é que haja uma redução do investimento total.

BofA: Estratégia começa a dar sinais de fraqueza

O quarto trimestre da Movida, assim como os três meses anteriores, se mostrou mais fraco do que o esperado, apesar de alguns pontos positivos no segmento de aluguel, avalia o Bank of America (BofA). Para o banco, as estratégias de crescimento adotadas até então pela companhia começam a mostrar sinais de fraqueza diante do novo cenário no mercado de carros.

O BofA afirma que a estratégia ambiciosa de crescimento da Movida, com um mix mais premium e descontos potenciais mais baixos, foi positiva inicialmente, quando os preços dos carros novos estavam subindo. Mas agora que os valores se estabilizaram, esse caminho se mostra menos lucrativo.

Como a Movida tem uma margem fluxo de caixa de financiamento (FCF) menor que a Localiza, os impactos semelhantes do cenário econômico exercem um efeito relativo muito mais pesado sobre o valor justo da companhia do grupo Simpar, tornando a empresa um caso de investimento de alto risco e alto retorno, avalia o banco.

Entre os principais destaques do balanço da Movida, o BofA destaca o crescimento acima das suas estimativas da média diária do segmento de aluguel de carros, que avançou 22% no ano, para R$ 145, e dos volumes, que subiram 16% em comparação ao quarto trimestre de 2021.

O banco também acredita que as taxas de crédito do PIS/Cofins, que ficaram em R$ 132 milhões no período, se estabilizaram em um nível normal, próximo dos 9% da receita bruta de aluguel.

Por outro lado, as margens da venda de seminovos se deterioraram, indicando as dificuldades do segmento, avalia o BofA. O banco acredita que essas margens devem continuar pressionadas nos próximos dois trimestres, com a expansão do preço dos carros novos ajudando cada vez menos enquanto a empresa procura renovar a sua frota em melhores condições.

BTG destaca perdas em aluguel

A Movida teve resultados fracos no quarto trimestre de 2022, com lucro líquido impactado por maiores despesas financeiras e depreciação, em especial na divisão de aluguel de carros, de acordo com o BTG Pactual, em relatório.

Os analistas Lucas Marquiori e Fernanda Recchia escrevem que a receita líquida veio 7% acima da projeção, enquanto o Ebitda veio 8% abaixo do previsto, implicando uma margem menor e refletindo o momento de curto prazo mais fraco da empresa, particularmente em seminovos.

Eles destacam que a empresa aumentou novamente sua depreciação anualizada em aluguéis e carros, com a divisão de gestão e terceirização de frotas aumentando sua depreciação refletindo a transição da frota de um mix premium para um mix mais acessível.

Na divisão de aluguel de carros, os aluguéis diários subiram, em linha com a margem Ebitda fraca de 53%, 10,6 pontos percentuais abaixo da projeção devido a custos mais elevados de manutenção e pessoal, escrevem os analistas.

BB: resultados neutros

A Movida divulgou resultados neutros no quarto trimestre de 2022, avalia o BB Investimentos.

O banco destaca que foi mais um trimestre de crescimento da frota total de veículos e manutenção da forte demanda e elevação das tarifas que contribuíram para a receita líquida de R$ 2,7 bilhões, alta anual de 55,7%, e R$ 9,6 bilhões em 2022, avanço de 80,0% ante 2021.

“Por outro lado, a manutenção dos altos níveis de juros no mercado doméstico contribuiu para o aumento de 140,7% em base anual do resultado financeiro no quarto trimestre e de 249,4% em 2022 em relação a 2021”, aponta o analista Renato Hallgren.

Os analistas comentam que a Movida realizou operação de antecipação de recebíveis junto ao controlador Simpar, o que contribuiu para a redução da dívida líquida e alavancagem que encerrou o ano em 2,8 vezes, contra 3,1 vezes no terceiro trimestre de 2022. “A posição de caixa da Movida é confortável com capacidade de cobrir a dívida bruta até o final de 2024”, indicam.

De acordo com os analistas, as ações da Movida foram penalizadas pelo movimento de elevação das taxas de juros nos últimos trimestres, que deverão retomar a atenção dos investidores a partir do início do ciclo de redução de juros no Brasil.

Credit Suisse: margem ruim em aluguel

Um desempenho pior que o esperado em aluguel de veículos pressionou os resultados consolidados da Movida no quarto trimestre, reduzindo a qualidade dos números no período, diz o Credit Suisse.

Os analistas Regis Cardoso e Henrique Simões escrevem que os volumes e tarifas no segmento de aluguel de veículos vieram em linha com o esperado, mas maiores custos e baixas contábeis acabaram afetando as margens.

A companhia também apresentou uma depreciação de frota elevada, com depreciação por veículo chegando a R$ 10,2 mil em aluguel e R$ 3,8 mil por veículo em gestão de frotas, reiterando as incertezas nos retornos da Movida.

Um ponto positivo foi lucro líquido melhor que o esperado, a R$ 18 milhões, com resultado financeiro ajudando o indicador. O banco nota que a Movida comprou veículos no fim do quarto trimestre que ainda não foram contabilizados operacionalmente.

XP: pressão nas margens e depreciação de frota

Os resultados da Movida foram mais fracos que o esperado no quarto trimestre, pressionados por fraqueza nas margens em aluguel, maior depreciação da frota e custos financeiros, diz a XP.

Os analistas Pedro Bruno, Lucas Laghi e Matheus Sant’anna escrevem que o conjunto desses fatores deixou o lucro líquido da companhia em R$ 18 milhões, cerca de 44% abaixo das estimativas.

No lado positivo, a companhia continuou com desempenho operacional positivo em aluguel de veículos e gestão de frotas, com maiores tarifas e volumes na comparação com o terceiro trimestre.

Outro ponto de atenção é que a Movida teve entrada de caixa de R$ 774 milhões em “cessão de direitos creditórios”, o que explica a redução na sua dívida líquida. Essa nova fonte de financiamento é feita por outras empresas do grupo Simpar.

Citi: despesas de juros e depreciação

Os resultados da Movida no quarto trimestre parecem levemente negativos, com maiores despesas líquidas de juros e depreciação pesando nos números, e com lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) abaixo da projeção refletindo margens mais fracas, avalia o Citi, em relatório.

Os analistas Stephen Trent e Filipe Nielsen escrevem que as operações limitadas de renovação de frota ajudaram a gerar R$ 157 milhões em fluxo de caixa livre, já que a idade da frota da empresa aumentou modestamente. Já a margem Ebitda da Movida caiu em base anual, bem como a margem de lucro antes de juros e impostos, afirmam.

“Embora a escala da Movida e a idade relativamente jovem da frota forneçam atributos defensivos em relação ao seu principal concorrente, preços, margens e retornos estão sob pressão — e as taxas de juros podem não cair por um tempo”, dizem os analistas. “Diante desse cenário, vale a pena monitorar os investimentos em negócios no exterior.”

Ativa: depreciação forte e margens pressionadas

Os resultados operacionais da Movida novamente vieram fracos, com custos subindo rápido, puxados pela depreciação, e dificuldades em subir seus tíquetes na mesma proporção, tendo suas margens cada vez mais pressionadas, diz a Ativa Investimentos, em relatório.

“Porém, o movimento de redução da alavancagem é extremamente positivo, visto que a empresa precisa buscar fôlego frente ao forte impacto que as despesas financeiras começam a ter nos seus resultados”, escreve o analista Pedro Serra.

Segundo ele, a frota no final do período ficou em 224 mil veículos, adição de aproximadamente 12 mil novos carros no trimestre, números dentro das projeções, visto que a companhia não está mais em um ciclo de expansão.

Em aluguéis de carros, os resultados surpreenderam negativamente, com taxas de ocupação ruins, além de um aumento de diária média menor que as projeções. Já a depreciação continua a avançar, e já chega a 10,3% do imobilizado, enquanto, do lado positivo, a margem de seminovos se comportou de uma maneira melhor do que o previsto.

Mercado é maior que oferta, diz CEO da Movida

O presidente da Movida, Renato Franklin, defendeu que o cenário competitivo do mercado de locação de veículo de hoje não se alterou e permanece favorável a todos os players. O setor tem passado por fortes transformações após a conclusão da aquisição da Unidas pela Localiza e a compra de parte dos ativos da antiga Unidas (desinvestimento feito a pedido do Cade) pela Ouro Verde – controlada pela Brookfield – e que passou a operar sobre a marca Unidas.

“A gente sempre reforça que os fundamentos do mercado continuam sólidos. A demanda está forte e temos muita gente querendo alugar carro pela primeira vez. Temos ganhado market share, mas não é a estratégia de crescimento. O mercado hoje é maior do que a oferta. O aumento de preço acaba ditando velocidade de crescimento. Se a gente segura o aumento de preço, capturando eficiência por meio de outras alavancas, conseguimos atrair mais clientes”, explicou.

O executivo disse que o mercado continua no mesmo nível de competição desde a criação da Movida. “Tem clientes para todos os players”, disse, durante teleconferência de resultados do quarto trimestre, nesta terça-feira.

Já Gustavo Moscatelli, CFO da empresa, comentou que a revisão de contratos do segmento de gestão e terceirização de frotas (GTF) avançou com sucesso. “No GTF, o yield médio era de 2,3%. Conseguimos trazer para 2,8%, o que já entrega TIR entre 17 e 19. Já está na minha visão em rentabilidade bastante adequada. O que tem para renegociar daqui para frente é marginal. O que teremos é gestão diferenciada na entrada de novos contratos para eles entrarem com gestão correta”, disse.

Moscatelli deu ainda mais detalhes sobre a estratégia de alongar a vida útil de parte da frota, que abraça 54 mil carros. “Essa estratégia vai ter benefício na taxa de depreciação. A taxa que a gente tem é maior do que a gente espera que vai cair o preço dos carros nos próximos 18 meses. Essa é a razão. Por outro lado, a gente tem nos últimos dois trimestres quase 33 mil carros já comprados com depreciação abaixo de 10%, entre 8% e 6%”, disse.

Redução de frota ainda será avaliada

O presidente da Movida, Renato Franklin, defendeu que o foco da locadora de veículos neste ano está na geração de valor com os ativos do grupo e não crescer frota. A visão do executivo é de que o nível de frota atual da empresa está positivo, assim como a idade média. Com isso, o grupo pode esperar e barganhar oportunidades no mercado. A empresa fechou o ano passado com uma frota de aluguel de carros (RAC) de 111,6 mil carros, alta de 23,1% na comparação com 2021.

“Não temos pressão de crescimento neste ano. Se a gente entender que o melhor para a companhia é reduzir frota, podemos. Compromisso é geração de valor, maximizar a eficiência operacional. O ano será de fluxo de caixa positivo”, disse, durante teleconferência para apresentar os resultados do quarto trimestre do ano passado.

O executivo explicou ainda que a empresa tem conseguido melhorar as negociações com montadoras, embora os níveis de descontos e prazos sigam acima do pré-pandemia.

“Temos visto algumas oportunidades próximas [de desconto]. A gente acredita que tem mais oferta para venda direta. O varejo está sofrendo no cenário macro, com credito restrito, isso ajuda a gente. Nossa frota nova nos permite ficar seletivo e esperando essas oportunidades, forçando a indústria a chegar no que a gente quer, que é no pré-pandemia”, disse.

Provisão de PIS/Cofins refletiu nas margens

O presidente da Movida, Renato Franklin, defendeu que o segmento de aluguel de carros (RAC, na sigla em inglês) da empresa foi negativamente afetado pela provisão de perdas de crédito de PIS/Cofins que o grupo teve de fazer no quarto trimestre. Segundo os executivos, dos cerca de R$ 60 milhões provisionados, R$ 43 milhões entraram no RAC, pressionando as margens do segmento. O resultado do RAC foi um dos pontos mais criticados nos comentários de analistas acerca dos números do quarto trimestre.

Outro ponto que chamou a atenção dos analistas foi o aumento da depreciação, que foi para 10,3% no quarto trimestre no RAC, contra 4,2% em igual trimestre de 2021. “Esse aumento, sobretudo no RAC, é por causa do ciclo de transição do mix da frota e normalização do mercado de seminovos”, explicou o novo CFO da empresa, Gustavo Moscatelli.

Moscatelli defendeu que a taxa de depreciação do RAC pode ser beneficiada pela estratégia da empresa de alongar a vida útil de parte da frota, assim como pelo melhor preço da compra de carros.

Sobre o alongamento da vida útil da frota, ele se dará na parcela que foi comprada nos últimos 12 meses antes do segundo trimestre de 2022, o que abraça um total de 54 mil carros (24% da frota total) com ticket médio mais elevado, de R$ 90 mil.

“As compras realizadas nos últimos dois trimestres já estão com ticket médio adequado para o seguimento”, disse. No quarto trimestre de 2021, o ticket médio foi de R$ 73 mil, com um mix mais forte de carros populares.

Já o CEO da empresa defendeu que o início de ano foi positivo para o setor, com forte demanda. O desafio, entretanto, continuará sendo os níveis de ocupação. “O carnaval foi forte [para demanda]. O período entre o carnaval e janeiro é mais fraco sazonalmente. Tivemos um bom janeiro. A taxa de ocupação que vai ser penalizada pela antecipação de compra que fizemos, assim como foi no quarto trimestre”, disse.

O executivo explicou que a antecipação de compra de frota veio diante de boas oportunidades, o problema é que essa antecipação elevou a parcela não operacional da frota. “Vamos trabalhar para melhorar esse número”, disse.

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