A Bolsa está barata? Fomos ouvir os especialistas para mostrar o que fazer com os investimentos
Relação entre o preço das ações do Ibovespa e o lucro líquido projetado para as empresas do índice está abaixo da média
A relação entre o preço das ações do Ibovespa e a média do lucro líquido projetado pelo mercado financeiro para as respectivas empresas que compõem o índice, o chamado P/L, aponta que o principal indicador do mercado acionário brasileiro está no patamar mais barato desde 2008, ano da crise financeira.
É um indicador muito utilizado por investidores para entender se o preço da ação de uma empresa está atrativo e serve para medir a relação entre o preço de uma ação no momento atual e o lucro líquido por ação dos últimos 12 meses ou dos 12 meses à frente.
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Para calcular o P/L basta dividir o preço atual da ação pelo lucro líquido projetado no período analisado. Quanto maior o resultado desta divisão, chamado apenas de P/L, mais tempo levará para o investidor ter o retorno do valor investido, pois mais anos seriam necessários para que o lucro anual por ação resulte no preço atual do papel. Ou seja, quanto maior o P/L, mais cara a ação de acordo com esta métrica. Quanto mais baixo o P/L, a ação fica mais atrativa.
Segundo o professor do Insper, Michael Viriato, atualmente o P/L do Ibovespa é de cerca de 7x —ou seja, o preço dos papéis é sete vezes maior que o lucro por ação projetado para este ano. Em 2008, o P/L do índice chegou a cerca de 6x. No início deste ano, porém, o P/L estava na casa dos 12x e, em 2020, chegou a mais de 80x. Neste ano, o Ibovespa recua 14%, o que automaticamente reduz o P/L.
“Há uma combinação de dois fatores: fuga de risco, com venda generalizada de vários ativos, e a desconfiança sobre a estimativa de lucros. O mercado aparentemente desconfia se o lucro projetado será realmente esse”, diz Fabio Focaccia, diretor de estratégia da Santa Fé Investimentos.
O P/L do Ibovespa é calculado da mesma forma que o índice, ou seja, empresas como Vale, Petrobras e Itaú têm um peso maior.
“Há muita empresa de commodity no índice e elas geralmente negociam com um múltiplo mais baixo. Sem elas, o múltiplo do Ibovespa sobe”, explica Viriato.
Considerando estimativa para os próximos 13 meses (dezembro e todo o ano de 2022), a Vale negocia a 2,7x o lucro estimado e a Petrobras, a 7,5x.
“A Vale parece estar barata. Se comprá-la hoje para o longo prazo, a chance de ganhar dinheiro é alta. No momento, porém, o P/L dela está baixo porque o preço do minério está em queda”, diz Victor Natal, estrategista em ações do Itaú BBA.
A Bolsa está barata?
Tirando Vale e Petrobras de jogo, o Ibovespa não aparenta estar tão barato assim. Segundo cálculos do Itaú BBA, sem essas duas gigantes, o P/L do Ibovespa, considerando o lucro projetado para os próximos 12 meses, é de cerca de 11,2x, um desconto de cerca de 15% da média histórica dos últimos dez anos (13,1 x).
“Isso indica que há empresas baratas sob a perspectiva do preço em relação ao lucro estimado, mas isso se deve ao momento macroeconômico desafiador que temos por conta da combinação inflação e juros elevados”, afirma Natal.
Outro ponto que impacta o preço dos papéis é a proximidade das eleições de 2022. A incerteza quanto ao futuro do Brasil afasta grandes investidores ao mesmo tempo em que traz mais volatilidade para o mercado brasileiro.
“Há a impressão de que a Bolsa está muito barata, mas precisamos tomar muito cuidado com isso. Esse número pode ser ajustado”, diz Natal.
Segundo Viriato, do Insper, o Ibovespa é o único dos principais índices acionários globais em que a previsão de P/L para os próximos anos sobe. “Isso acontece porque a estimativa de lucros futuros está caindo dado o crescimento econômico ameaçado”.
Ainda seguem com o P/L projetado para 2022 mais elevado empresas dos setores de saúde e varejo (cerca de 20x na média) e de transporte, logística e bens de capital (26x), segundo cálculos do Itaú BBA com base nas empresas que o banco acompanha.
“Se olharmos só varejo, o Ibovespa não está barato. Por isso é importante olhar todos os setores”, afirma Focaccia, da Santa Fé.
P/L
Apesar de importante, a métrica P/L não diz muito por si só e nem serve para a análise de todas as empresas. É necessário uma avaliação do cenário macroeconômico do país, além de um estudo do setor e da empresa.
Companhias como bancos ou com muitas variáveis no balanço não têm um P/L tão significativo.
Para bancos, o ideal é usar a métrica preço por ação divido pelo patrimônio líquido por ação (P/Book Value, ou P/PL), já que o lucro das instituições financeiras vem da rentabilização do patrimônio líquido.
No caso das empresas de commodities, o mais indicado é olhar o Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
Já as empresas de comércio eletrônica são melhor avaliadas pela métrica valor da empresa em relação ao faturamento anual com vendas (EV/SALES, em inglês).
“Não se deve ignorar o P/L, ele é mais uma das informações que o investidor deve levar em conta, mas está longe de ser a informação mais importante, principalmente quando se olha para o Ibovespa como um todo”, afirma Natal.
O que fazer com os investimentos?
É possível aproveitar a baixa da Bolsa e investir em empresas relativamente baratas com foco no longo prazo.
“Em momento de pânico, o investidor com apetite para risco tem que fazer contas e descobrir as pechinchas na Bolsa. Agora, quem tem aversão ao risco deveria se posicionar renda fixa pós-fixada e com liquidez curta”, afirma Focaccia.
Para escolher a empresa, Natal recomenda buscar por consistência nos resultados passados, com estabilidade no fluxo de caixa e baixa correlação com o Ibovespa, com o crescimento do país e com a taxa de juros. “A empresa que vinha bem pode continuar indo bem, mas é difícil que a empresa que não vinha tendo bons resultados se dar bem em um cenário desafiador”, diz o analista.
Ele também recomenda diversificar a exposição em Bolsa, com investimento em cerca de 20 empresas diferentes. “Ter uma carteira que perde menos em momento ruim é melhor que carteira que ganha muito em momento bom”, afirma Natal.
Em momentos de grande incerteza, tanto os ganhos quanto as perdas podem ser maiores, o que requer especial atenção do investidor, pontua Viriato. “Comprar Bolsa depende do perfil do investidor, não é para todo mundo. Pode ser uma boa oportunidade ou um potencial desastre, dado o cenário incerto”, diz o professor.
Ele recomenta, para todos os perfis de risco, a renda fixa. “A Selic deve subir mais ainda, para mais de 10% ano que vem, o que deixa títulos de renda fixa de forma geral muito bons. Na Bolsa, há risco de 2022 ser ruim.”