Dólar e combustível mais caros: é hora de investir em ações da Azul (AZUL4)?

Situação da empresa não é das melhores, dizem analistas

Azul (AZUL4) sobe 8% na bolsa após acordo. Foto: divulgação
Azul (AZUL4) sobe 8% na bolsa após acordo. Foto: divulgação

Tempestade perfeita ou mar de oportunidades? Se você pensa em investir nas ações da Azul (AZUL4) provavelmente talvez já tenha feito essa pergunta. Pois bem, antes de tomar sua decisão, confira abaixo o que dizem os analistas sobre o momento da empresa e a possibilidade de investir (ou não) em ações da Azul.

O que faz a Azul?

É muito provável que você já tenha usado os serviços da Azul. Afinal, a empresa é uma das principais companhias aéreas brasileiras, fundada por David Neeleman em 2008.

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A companhia opera principalmente nos aeroportos de Viracopos, Confins, Guarulhos, Recife e Cuiabá. Aliás, sua sede administrativa fica em Alphaville, na região da Grande São Paulo, e tem cerca de 12.500 funcionários.

Receita da Azul

A receita líquida da Azul gira em torno de R$ 15 bilhões por ano. Além disso, a empresa registra mais de 800 decolagens diárias e atende a 100 destinos em todo o território nacional e no exterior, com uma frota de 140 aviões.

Em 2022, a empresa teve um prejuízo líquido de R$ 722 milhões, queda de 82,9% na comparação com 2021.

A Azul tem ações negociadas na B3, a Bolsa de Valores brasileira, desde 2017, quando fez seu IPO (abertura de capital) de US$ 643 milhões.

Posteriormente, em 2019, a empresa passou a operar pousos e decolagens que pertenciam à Avianca, como no Aeroporto de Congonhas, que é o terminal doméstico mais importante do Brasil.

Como comprar ações da Azul?

A Azul é uma empresa listada na Bolsa de Valores. Portanto, para comprar AZUL4 é preciso ter conta em alguma corretora ou distribuidora de títulos e valores mobiliários cadastrada e autorizada na B3.

Por que as ações da AZUL4 caíram tanto?

Muitos investidores que acompanham o mercado acionário se perguntam por que AZUL4 vem caindo tanto na Bolsa ultimamente.

Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, e Victor Drewanz Cerqueira, gestor de renda variável da MAG Investimentos, definem o cenário como uma tempestade perfeita.

“Essa tempestade uniu dois fatores críticos para a aviação. A volatilidade dos preços dos combustíveis e o câmbio” afirma Ilan. Ele lembra que o principal custo da aviação é a querosene de aviação, e seu preço tem referência em dólar.

Já Victor Drewanz Cerqueira, gestor de renda variável da MAG Investimentos, complementa. Ele explica que a operacionalização de uma empresa de aviação é muito complexa. “Ela precisa montar um plano de negócios plurianual, refletido nos pedidos firmes para compra de aviões realizados, que é baseado em projeções de demanda e malha de frota, que são as rotas que a empresa voará”, diz ele.

Ou seja, diferentemente de outros negócios, a previsibilidade de despesas na aviação costuma ser maior que a previsibilidade de receita. E essa depende da renda do consumidor, estratégia de frota e malha de outras companhias entre outros fatores.

Pré-pandemia e petróleo

“No cenário pré-pandemia, a empresa tinha um plano de crescimento superagressivo com recebimento de muitos Airbus e a troca de Embraer E1 pelos E2, que resultava em um crescimento médio em 3 a 4 anos de aproximadamente 20% ao ano”, afirma.

Em 2020, entretanto, começou a pandemia e a receita do setor despencou. “Como as despesas são muito mais fixas do que as receitas, as margens colapsaram”, explica Victor.

“Para piorar a situação, no pré-pandemia, cerca de 60% dos custos e despesas operacionais e 70% da dívida ajustada da companhia são dolarizados – e o câmbio do terceiro trimestre de 2019 ao terceiro trimestre de 2022 foi de R$ 4,16/US$ para R$ 5,20/US$, ou seja, subiu cerca de 25%”, afirma.

Para completar, preço do petróleo no mesmo período aumentou de U$ 62 por barril para U$ 89 por barril, o que significa valorização de 43%. E isso impacta diretamente o custo do querosene de aviação, que antes da pandemia representava cerca de 40% do total de custos e despesas.

“Resumindo, três vetores extremamente importantes para a companhia andaram no mesmo sentido negativo: demanda colapsou, câmbio desvalorizou e petróleo subiu”, diz ele.

Alavancagem

“Como se não bastasse, devido à necessidade de capital, a empresa no quarto trimestre de 2019 já estava alavancada. O índice de alavancagem dívida líquida ajustada/EBITDAR era de 3,7x, e passou para 9,8x dívida líquida/Ebitda no terceiro trimestre de 2022”, complementa.

Vale lembrar que na foto do último balanço, a empresa tinha cerca de R$ 38 bilhões de dívida bruta ajustada, ou seja, praticamente quatro vezes maior do que a dívida que tinha três anos atrás. O caixa era de R$ 1,1 bilhão.

“Mesmo com o fim da pandemia, em função dessa ‘herança maldita’, a empresa ainda teria um furo de caixa de R$ 3 bilhões”, comenta.

Não dá para negar que seja supercomplicado uma empresa com esse nível de alavancagem conseguir captar dívidas a custos competitivos.

“Portanto, a Azul depende de novas renegociações com os lessores de aviões (que são os reais donos das aeronaves, os financiadores dos leasings), além da renegociação com outros credores como a Embraer e os bancos”, finaliza Victor.

Qual o preço-alvo da AZUL4?

Sobre preço-alvo de AZUL4, paira uma dúvida no ar entre os analistas.

“Considerando a extrema alavancagem operacional e financeira da companhia e a delicada situação de liquidez, vemos o papel hoje como um distressed asset e não temos um preço alvo definido”, afirma Victor.

“Para voltar a ser uma empresa ‘investível’, para nós, ela precisa conseguir consertar sua estrutura de capital”, diz.

Quanto a Azul paga de dividendos por ação?

A Azul não paga dividendos e é pouco provável que vá fazer alguma distribuição de lucro tão cedo.

“O setor como um todo é mais uma aposta de crescimento do que um ativo com bons dividendos”, afirma Ilan. “E assim deve seguir, pelo menos por hora.”

O que esperar das ações da Azul?

“Estamos num cenário difícil”, define Ilan, argumentando que há pouca previsibilidade de estabilidade cambial neste momento de transição.

“Em relação ao preço combustível, vimos uma queda recente, mas é cedo para comemorar porque um dos catalizadores dessa volatilidade no preço é o conflito russo-ucraniano, que parece longe do fim”, ressalta.

Para completar, olhando para o cenário interno, a união de juros altos e inflação alta não ajuda o poder de compra das pessoas. “Os prognósticos que não são dos mais favoráveis, ainda que possivelmente o pior já tenha passado”, conclui.  

 Victor complementa que, enquanto a empresa não achar uma solução para sua alavancagem, a tendência é de compressão do valor de mercado trimestre a trimestre.

Vale a pena investir em AZUL4 neste momento?

Ilan, da Ativa Investimentos, tem recomendação neutra para o papel. Já Victor, da MAG Investimentos, é taxativo: “Não acreditamos que seja um bom momento para realizar investimentos na empresa agora”.

Ele prefere esperar o desenrolar do processo de desalavancagem para voltar a pensar na possibilidade de investimento na Azul.

Quanto vale a empresa Azul?

Se, mesmo assim você decidir ser acionista da Azul, fique atento a a alguns números.

“Sendo pragmático ao extremo e assumindo que o mercado está correto, hoje a empresa vale R$ 43,5 bilhões”, afirma Victor.

“Considerando que a companhia possui uma dívida líquida de R$ 39,1 bilhões e um equity value de R$ 4,3 bilhões, em valores de mercado, hoje 90% da Azul pertence aos credores e somente 10% da empresa pertence aos acionistas”, finaliza.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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