Ações do varejo: efeito Carrefour pode levar outras companhias do setor para fora da bolsa?

Empresas citadas na reportagem:
De 24 ações do varejo na bolsa de valores, 15 estão com preço abaixo do valor patrimonial (P/VPA). O que isso significa? Que a soma de todas as ações não está correspondendo nem sequer ao valor dos ativos de cada companhia. Gigantes como Casas Bahia, Americanas, Pão de Açúcar e Magazine Luiza estão abaixo da média de P/VPA do próprio Carrefour, que deve sair da bolsa depois que os preços das ações minguaram.
Nesse sentido, existe a possibilidade de haver uma onda de fechamento de capital no setor de varejo? Danielle Lopes, sócia e analista da Nord Research, diz que, “sem dúvida alguma, existe risco” de fechamento de capital.
“A partir do momento que uma empresa cede, os investidores do setor passam a questionar se não é o melhor caminho, dado que a conjuntura trabalha para esse movimento”, acrescenta Lopes.
Preço x valor patrimonial para ações do varejo

Conjuntura negativa para ações do varejo
A conjuntura que tem derrubado o P/VPA das ações do varejo envolve margens pressionadas, alavancagem alta, vendas caindo, competição aumentando e cenário macroeconômico desafiador, com juros em alta e consumo em queda.
“Com certeza, com tudo isso em conta, parece um bom caminho fazer a deslistagem”, diz a especialista. Evidentemente, essa solução não parece ser considerada pela maioria das empresas do setor.
A Raia Drogasil, por exemplo, tem preço/valor patrimonial em 5,34 vezes, apesar de ter caído mais de 20% na bolsa nos últimos 12 meses. Isso está bem acima da mediana de 0,47 do Ibovespa como um todo.
Contudo, Lopes diz que o “mercado ainda pode cair muito mais” e prejudicar as companhias mais expostas.

Carrefour pode mostrar caminho para outros varejistas
Por outro lado, também existe a possibilidade de o setor se recuperar na bolsa. A visão é de Robert Machado, analista da CM Capital. “O efetivo controle da inflação possibilitaria uma mudança no comportamento do Bacen (Banco Central) em sua política – que hoje é restritiva – para expansão do crédito”, diz.
Por esse e outros motivos, Machado vê o fechamento de capital do Carrefour como pontual. Contudo, a depender do êxito da varejista de alimentos após a saída da bolsa, pode ser que outras companhias sigam pelo mesmo caminho.
“As demais empresas vão acompanhar o desempenho do Carrefour e caso seja positivo, podem vir a seguir (o mesmo caminho)”, ressalta.
Empresas mais expostas a um fechamento de capital
Para Lopes, da Nord, o Pão de Açúcar (PCAR3) está entre as mais expostas a um fechamento de capital. Além disso, as Casas Bahia (BHIA3) também parece sujeita a esse tipo de movimento por conta dos “esqueletos do passado”.
Ela se refere às mudanças relacionadas à transformação em Via Varejo e depois o recuo, entre outras dificuldades pelas quais passou nos últimos anos, incluindo a recuperação extrajudicial em 2024.
Nesse sentido, a Casas Bahia tem a pior relação preço/valor patrimonial do setor. Abaixo, inclusive, da Americanas.
Alguma entre as ações do varejo está protegida?
Para a sócia da Nord, o Magazine Luiza (MGLU3) é a mais resiliente entre as ações com preço abaixo do valor patrimonial. O fato de haver uma família liderando o negócio traz credibilidade extra na visão dos investidores.
“O fato de o grupo de controle (família Trajano) ser mais ativo facilita negociações com bancos e outros investidores”, diz. Contudo, ela alerta que a ação permanece como uma “posição de risco”.
Machado, da CM, compara o modelo de negócios das principais varejistas e coloca Pão de Açúcar mais próximo do Carrefour não só pelo fato de venderem principalmente alimentos. Mas também porque as vendas acontecem principalmente em lojas físicas. Isso traz um passivo difícil para a companhia manejar em tempos de alavancagem alta e margens apertadas.
Por outro lado, Magazine Luiza e Casas Bahia operam de maneira mais leve porque são mais digitais. Ainda assim, isso está longe de garantir algum sucesso.
O fator Assaí entra na equação
De qualquer forma, a lógica por trás do mercado de capital está longe de ser exata. Assim, reportagem anterior da Inteligência Financeira indicou que há empresas listadas que podem se beneficiar da saída do Carrefour. Assim, elas atrairiam investidores que apostam hoje na varejista francesa.
Entre essas empresas está por exemplo o Assaí (ASAI3) e o Grupo Matheus (GMAT3). Assim, a resposta mais prudente para o investidor neste momento é de que ele deve aguardar cenas dos próximos capítulos.
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