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Por que o preço das ações da Petrobras (PETR3; PETR4) está estável?
As ações da Petrobras (PETR3; PETR4) estão ‘de lado’.
No jargão do mercado financeiro, isso quer dizer que as ações estão com um preço estável. Ou seja: não têm tendência de alta…. nem de baixa. É o que se chama de tendência neutra.
E qual é o problema disso? O problema é que os investidores não ganham dinheiro. Mas também não perdem.
O mercado de renda variável vive de altos e baixos dos papéis e o sobe-e-desce faz parte do risco dessa classe de ativos – até porque é aí que os investidores têm chance de ganhar dinheiro. Ou perder. E está tudo bem.
O que não fica tudo bem é quando um papel não sobe, tampouco desce.
O que está acontecendo com as ações da Petrobras?
Em meados de novembro, a estatal brasileira listada na bolsa de valores atingiu valor de mercado recorde de US$ 520,6 bilhões.
Mesmo assim, desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua primeira semana de governo, o ativo foi deixado de escanteio por analistas e investidores.
O banco BTG Pactual e o Banco Safra têm recomendação “neutra” para a compras das ações da estatal.
Uma expressão muito utilizada por especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira para definir a postura do mercado em relação aos papéis da Petrobras é que eles estão em ‘stand-by’.
E devem seguir assim até que o novo governo defina o modelo da nova gestão da estatal. Resta saber qual será o novo critério na alocação de capital, nova política de dividendos e, por fim, mas não menos importante, o regime de preços no mercado interno e externo.
O ‘stand-by’ que afeta as ações da Petrobras
O foco da nova Petrobras no governo Lula é incerto.
Por enquanto, o mercado aguarda mais sinais de possíveis guinadas.
O que a Faria Lima viu até agora foi o suficiente para baixar altas expectativas e amenizar o pessimismo com o futuro das ações.
Na avaliação de Nicolas Farto, especialista em renda variável, o investidor deve pensar em rendimentos no longo prazo ao considerar em investir na estatal.
As ações da Petrobras estão baratas, tanto a preferencial (PETR4) quanto a ordinária (PETR3), diz Farto.
Vale a pena investir na Petrobras?
Para saber se vale a pena comprar ações da Petrobras, você deve ficar de olho em alguns pontos, além dos relatórios dos analistas.
Quais pontos são esses? Veja o que diz Felipe Vella, especialista em mercados futuros e análise volumétrica na Ativa Investimentos, na Entrevista da Semana que está logo abaixo:
Apesar do preço descontado perto de outras empresas do mesmo setor na bolsa, Farto aponta que há espaço para queda das ações da Petrobras por “risco político”.
“Na curva dos gráficos, PETR3 e PETR4 estão com pontos médios muito próximos, o que indica que as ações estão ‘patinando’ na bolsa. O papel está congestionado, está sendo negociado na mesma zona de R$ 25 a R$ 26 há muito tempo”, diz o especialista.
O que esperar de Petrobras (PETR3;PETR4) em 2023
Gilvan Bueno, head de educação financeira da Órama Investimentos, diz que ações da Petrobras cresceram 8,5% nos últimos 5 dias. Por outro lado, ele lembra que, em 12 meses, a oscilação das ações é de -15%.
PETR4 subiu 4,28% desde o dia seguinte à posse de Lula, primeiro dia de pregão na B3. Já PETR3 cresceu 3,44% em 2023. A oscilação positiva, no entanto, é um recorte da foto: a maior parte da alta ocorreu no dia 4, quando o novo governo se pronunciou sobre não alterar o PPI.
O mercado não vai pagar para ver o resto da fotografia. Antes, quer saber como o novo governo pretende alterar a política de preços da Petrobras e se vai achar uma alternativa para manter a gasolina barata depois que a MP de desoneração dos combustíveis expirar.
MP dos combustíveis
Para Farto, a desoneração dos combustíveis é benéfica para a Petrobras, porque aumenta a oferta e a distribuição de gasolina. O fim da MP aumentaria a inflação sobre a gasolina, etanol e até gás natural, o que pode afetar vendas da estatal.
“Os papéis da Petrobras vêm sofrendo na janela de tempo de longo prazo, de 12 meses. Só que, na última semana, o mercado reavaliou que a empresa com base na diminuição de endividamento, distribuição de dividendos e aumento de receita e caixa. Com a postergação da desoneração dos combustíveis, ainda teremos um 1º tri bons números no balanço da empresa”, destaca Gilvan Bueno.
Gabriel Roisenberg, vice-presidente de desenvolvimento Rystad Energy, acredita ser provável que Lula prorrogue ainda mais a MP, que deve expirar em 28 de fevereiro.
Isso porque a tendência, diz o executivo, é de que o governo — de viés mais desenvolvimentista — encontre formas de deixar o preço da gasolina baixa, no curto prazo.
PPI e Petrobras (PETR3;PETR4)
O novo governo deu sinais de que vai intervir na política de preços da Petrobras. Puxou o freio dias depois, quando o senador Jean Paul Prates (PT-RN), indicado por Lula como futuro presidente da Petrobras, disse que o PPI (Preço de Paridade de Importação), política de preços da estatal adotada durante o governo Temer, vai permanecer inalterado.
Prates defende que a Petrobras barateie a gasolina vendida em postos brasileiros. O senador quer segregar gastos operacionais, desvinculando-os da paridade internacional.
Para analistas, é mais fácil falar do que fazer. Quaisquer alterações no PPI devem demorar para entrar em vigor, explica Bueno. “As mudanças têm que ser claras para o mercado, porque elas não chegam tão rapidamente e esse direcionamento afeta o plano estratégico da companhia”, afirma.
“É muito complexo segregar gastos e manter o PPI. A cadeia industrial do setor é dolarizada. Não são muitos fornecedores atuando no mercado, por exemplo, de equipamentos como BOP, cruciais para a operação, e tais itens com maior despesa de capital [capex] são disputados internacionalmente”, diz Roisemberg.
Para o executivo, a segregação de preços poderia reduzir a competitividade da Petrobras no mercado internacional para a contratação de novos projetos, a depender de como será executada. No entanto, Prates tem um currículo extenso no setor e, sobretudo, bagagem técnica para efetuar a mudança.
“Mexendo na política de preços, dependendo como for, seja por meio do congelamento de preços, aí você teria impacto muito grande no resultado [fiscal] da Petrobras”, pontua Ruy Hungria, analista da Empiricus.
Risco fiscal
Outra preocupação do mercado com o futuro da Petrobras são os resultados fiscais da empresa. O consenso entre especialistas é de que a nova Petrobras de Lula deve investir mais em despesas operacionais, como a construção de novas refinarias e aperfeiçoamento de cadeias de upstream e downstream, além no refino de petróleo.
Outra grande alocação de capital da Petrobras para o próximo mandato será destinada à transição energética da empresa para um modelo mais sustentável. Roisenberg explica que, no Brasil, a estatal é a única com conhecimento técnico, capital e apetite local para coordenar a construção de parques eólicos off-shore, por exemplo.
A principal dúvida que afeta as ações é a rentabilidade. Analistas alegam que a companhia pode investir em projetos que não deem tanto retorno aos acionistas ou fortaleça o caixa, mas que agreguem à “missões sociais”.
“O retorno do foco da Petrobras à construção de novas refinarias aumentaria a operação, mas pode, no médio prazo, aumentar o caixa”, diz Farto.
“A principal duvida de fato é se a Petrobras vai pegar um pedaço do que seria pago em dividendos para alocar mais desse capital. É possível cortar dividendos se mantendo atraente, fazendo investimentos melhores”, completa.
Dividendos de PETR3 e PETR4
O novo governo reiterou que pretende alterar a política de distribuição de dividendos da Petrobras. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou a distribuição de R$ 50 bilhões aos acionistas, que chegou a ser barrada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em novembro do ano passado.
Prates já declarou ser a favor de alterar a política de dividendos da Petrobras. Em 2022, a empresa distribuiu dividendos recordes de quase R$ 180 bilhões de acionistas — o principal deles é o governo.
A modificação na política de dividendos deve espantar o investidor das ações da Petrobras que procura os papeis justamente pela reputação da estatal de ser uma boa pagadora de dividendos.
Nesse sentido, é provável que as ações preferenciais sofram mais negativamente do que as ordinárias. Afinal, a distribuição dividendos é um dos principais motivos para comprar PETR4 ao invés de PETR3, analisa Gilvan Bueno.
PRIO3 e RRRP3 podem abrigar investidor de Petrobras?
Ruy Hungria, da Empiricus, diz que há vantagens com as ações da Petrobras patinando na B3.
“A Petrobras está mais barata, especialmente considerando que é uma empresa operacionalmente confiável, e menos volátil porque tem a capacidade de produção muito maior”, diz o analista. “O pré-sal é um ativo que confere à empresa uma vantagem imensa, mas a Petrobras está nas mãos do que governo decidir”, acrescenta.
O banco BTG Pactual entende que faz sentido ter exposição ao setor petrolífero na B3. A reabertura comercial da China joga o preço do barril de petróleo para cima, impulso que aumenta com a continuidade da Guerra da Ucrânia.
Em entrevista ao Valor Econômico, Carlos Eduardo Sequeira, chefe da área de análise e pesquisa do BTG para a América Latina, destacou nomes como Prio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3). Ruy Hungria, no entanto, alerta que disrupção na cadeia de produção pode afetar as ações dessas companhias de forma mais acentuada.
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