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Na alta do Ibovespa, estrangeiros lideram entrada e institucionais saem; o que esperar da bolsa agora?
Nesta semana, o Ibovespa bateu seu maior patamar nominal até então, aos 136,4 mil pontos. O movimento acompanhou a entrada de investidores estrangeiros na bolsa. O saldo comprador de investidores estrangeiros foi de R$ 7,7 bilhões do início do mês até o dia 19, data da última atualização da B3. Recentemente, o JPMorgan aumentou sua previsão para o índice da bolsa brasileira no final de 2024: de 135 mil para 143 mil.
“Em boa parte está acontecendo um rotation de porfólios no mundo, com os investidores colocando o lucro no bolso de empresas que mais subiram do S&P 500 e migrando para outros mercados, e o Brasil está sendo um dos destinos para isso”, avalia Andre Fernandes, head de capital variável e sócio da A7 Capital
Além disso, o que pode explicar a animação do estrangeiro com a bolsa é a disparada do dólar entre julho e agosto e o aumento do desconto da bolsa brasileira.
“Os resultados das empresas no segundo trimestre, de forma geral, foram melhores que os do primeiro trimestre. Então, isso continuou a jogar, ao longo de julho e início de agosto, a relação PL (preço-lucro) ainda mais para baixo no momento que o dólar chegou a bater 5,86”, explica Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.
Bresciani avalia que os estrangeiros entraram na bolsa para capturar o lucro das empresas brasileiras durante essa variação cambial aguda, o que aumentou a atratividade dos ativos brasileiros no período.
“A nossa bolsa era uma das mais baratas dos países emergentes e, em dólar, continua muito barata”, acrescenta o analista.
Saída dos institucionais da bolsa contrasta com alta
Por outro lado, os investidores institucionais se mostraram muito mais reticentes com os ativos das empresas brasileiras. Esse segmento teve saldo negativo de R$ 11,2 bilhões na bolsa no mesmo período.
A saída pode estar relacionada à perspectiva de aumento de juros no país. Parte desses investidores parece ter capturado os ganhos na bolsa durante a fase de deterioração do real e temporada de balanços para depois fazer movimento em direção à renda fixa.
“Como tem muita gente machucada na bolsa ainda [depois da queda do Ibovespa de 134 mil no começo do no para quase 120 mil no pior momento de 2024], quem teve um bom ganho recentemente pode ter embolsado um ganho que não esperava e ido para a renda fixa”, detalha Bresciani, do Andbank.
O estrangeiro vai ficar na bolsa?
Para Bresciani, o Ibovespa tem um potencial de ganho de 20% nos próximos 12 meses. Contudo, esse upside ainda é bastante incerto, dadas as incertezas próprias do cenário político e econômico do país.
Além disso, ainda há a diferença entre a taxa de juros brasileira e americana, que pode aumentar nos próximos meses se as projeções se concretizarem.
A perspectiva é que os Estados Unidos reduzam seus juros em setembro. Por outro lado, aqui, no Brasil, passou a ser mais provável novos aumentos de juros até o final do ano.
Isso pode fazer com que mais investidores estrangeiros assumam o risco de vir ao Brasil diante de um diferencial de juros ainda maior. Porém, há sempre o impacto negativo dos juros, e algumas empresas da bolsa sofrem mais com isso.
Para Bresciani, a bolsa pode perder tração. “Subir juros pode limitar uma alta da bolsa, ainda mais se forem as três altas que já estão comentando”, avalia.
Nesse sentido, ainda que o investidor brasileiro venha ao Brasil, deve se concentrar na renda fixa.
Motivos que podem aumentar presença estrangeira
Contudo, há visões mais otimistas. Uma delas é do JP Morgan, que atualizou suas projeções para o Ibovespa nesta quinta-feira (22). O banco de investimento passou a ver o principal índice da bolsa aos 143 mil pontos. Anteriormente, a projeção estava em 135 mil pontos.
Um dos motivos que podem deslocar mais capital ao Brasil é a saída das bolsas americanas, que, no primeiro semestre bateram recordes sucessivos. Agora, há a realização de lucros e a procura por ganhos nos países emergentes.
Nesse sentido, há boas notícias relacionadas à economia real do Brasil que podem atrair fluxo. “A melhora de indicadores macroeconômicos aqui, como aumento da massa salarial e setor externo, cria uma visão mais benigna para o Brasil no longo prazo”, avalia Perfeito.
Fernandes, da A7, ressalta que o país está apresentando bom crescimento do PIB, que pode ficar entre 2,5% e 3% no ano, uma balança comercial robusta, beirando US$ 80 bilhões, e as empresas entregando resultados melhores que o projetado pelo mercado, indicando o bom momento do país, e isso está atraindo capital estrangeiro para as empresas brasileiras.
Nesse sentido, a tendência é que a bolsa do Brasil siga sendo favorecida pelo fluxo estrangeiro. Apesar de parte do capital que deve migrar das bolsas americanas ficar dentro daquele país, em títulos do Tesouro, “outra parte desses recursos está migrando para países emergentes, e o Brasil tem atraído bem esse fluxo”, diz o analista da A7.
Perfeito também avalia que deve continuar entrando capital estrangeiro na bolsa até o final do ano. E a alta dos juros por aqui pode até favorecer esse fluxo, levando em conta que nem todas as ações do Ibovespa são negativamente impactadas por isso.
“Isso pode implicar em uma situação de apreciação do real. Portanto, o investidor estrangeiro pode ganhar na bolsa e no câmbio. Para isso, tem que se posicionar em Brasil para comprar real e escolher os melhores ativos”, complementa o economista.
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