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Alta do real e valorização da Bolsa ainda podem ter ‘caminho longo pela frente’, aponta gestora
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Para Kinea, mercado brasileiro tem se beneficiado pela sua posição de exportador de commodities
O Brasil emerge como um dos principais beneficiários da “arrumação” dos ativos financeiros globais no mundo pós-guerra, principalmente pela sua posição de exportador de commodities, do aperto monetário e do relativo isolamento aos impactos negativos do atual conflito na Ucrânia. A avaliação é da Kinea Investimentos, empresa de gestão de recursos controlada pelo Itaú Unibanco, que diz que ainda pode haver um “longo caminho pela frente” na valorização de ativos domésticos, como bolsa e real, devido aos “valuations [múltiplos] ainda bastante descontados”.
Em carta mensal comentando as suas estratégias de gestão, a Kinea aponta que o Brasil possui a combinação de uma “geografia com baixas expectativas”, a possibilidade de fim do ciclo de alta de juros e o ímpeto renovado em seu setor externo, o que “pode se tornar um impulso poderoso para retorno em ativos de risco” domésticos.
“Já vemos esses efeitos no comportamento da moeda e na performance relativa do mercado de ações brasileiro em relação ao resto do mundo”, diz a gestora, na carta. Mas, como os preços permanecem em território muito descontados, a Kinea afirma que continua alocada na renda variável local e com posições compradas (que apostam na alta) do real, que já ganham cerca de 16% em 2022.
A interpretação dos profissionais da companhia que gere recursos é de que a guerra na Ucrânia não deve levar somente a uma subida do preço das commodities, mas também à percepção de que investimentos em matérias-primas terão de ocorrer de forma mais duradoura ao longo dos próximos anos. “Nos parece claro que, por exemplo, no setor de grãos, governos devem decidir trabalhar com níveis de estoques maiores para garantir segurança alimentar”, escrevem os gestores da Kinea.
“Adicionalmente, nos encontramos bastante adiantados no processo de subida de juros, com a possibilidade de vermos o ápice desse processo nas próximas reuniões do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central]”, emendam. “O ciclo total deve somar mais de 10 pontos percentuais de aperto, algo raro mesmo entre emergentes, e traz de volta os juros brasileiros à posição de um dos maiores do mundo.”
Nos Estados Unidos, a Kinea diz ter movido seu portfólio em direção aos juros reais, ao invés de nominais. “A razão é que quanto mais seriamente o Fed mostrar suas credenciais para lutar contra a inflação, mais a inflação implícita deve ceder”, afirmam os profissionais de mercado, citando, assim, a vantagem em manter tal posicionamento.
Os gestores ressaltam que conservam seu posicionamento inalterado sobre a necessidade de mais juros na principal economia do mundo. Segundo eles, o mercado parece “em negação” com relação à necessidade de aumento substancial de juros para impedir o atual processo inflacionário. Uma hipótese aventada pela Kinea para esse negacionismo é que os participantes hoje ativos do mercado “nunca viram um processo inflacionário dessa magnitude na economia”.
“Portanto, acreditam que os aumentos que foram usuais nas últimas duas décadas vão gerar tal desaceleração da economia que impedirá a continuidade do processo de subida [de juros]”, argumenta a gestora de recursos em sua carta mensal. Nesse sentido, a Kinea alerta que o aumento dos juros nos EUA normalmente resulta em “acidente de percurso”.
“Nas últimas vezes, o processo só parou quando algo grande quebrou: a bolha de tecnologia (2000), o mercado imobiliário (2008) ou uma severa correção do mercado acionário (2018)”, explicam os gestores.
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