Após bitcoin, mercado voltou a me procurar, diz fundador do Méliuz

A volta de feriado de carnaval foi animada para Israel Salmen. A empresa que fundou, o Méliuz, chamou a atenção do mercado ao anunciar a aplicação de 10% do seu caixa, com R$ 240 milhões, em bitcoin.
A companhia vende principalmente soluções de cashbacks (ou dinheiro de volta). Tornou-se assim a primeira companhia aberta do Brasil a se expor à tese das criptomoedas.
O Méliuz segue um movimento crescente no exterior, onde 32 companhias já aportam no token de referência do mercado. O caso mais conhecido é o da MicroStrategy, que hoje tem mais de 444 mil bitcoins na tesouraria. equivalentes a US$ 39,6 bilhões.
Bitcoin esquentou o dia do Méliuz
Ontem, no fim do dia, Israel Salmen, hoje presidente do conselho de administração da empresa, não escondia a satisfação com os holofotes.
As ações do Méliuz (CASH3) saltaram mais de 20% na quinta-feira. E o pessoal do sell side da Faria Lima, coração financeiro de São Paulo, voltava a produzir relatórios sobre o papel.
Eles tentaram explicar aos investidores a nova estratégia da empresa. E, assim, o que esperar das ações dali em diante. Salmen foi requisitado. Entrava e saía de calls sem parar.
“O que eu posso te afirmar é que muitos analistas com quem a gente não conversava há muito tempo, vieram nos procurar hoje (ontem)”, ele disse à Inteligência Financeira.
“A gente não quis criar um fato. Investimentos em bitcoin porque acreditamos no ganho de longo prazo do ativo. Mas lógico que estou muito feliz com o que aconteceu”, conta.
Momento calculado
Israel Salmen tem 36 anos, é mineiro de Governador Valadares, e um entusiasta do mercado cripto. O fundador do Méliuz conta que tem 80% do seu dinheiro em bitcoin.
“O resto está em dólar e real para pagar conta”, diz. Mas logo é corrigido pelo diretor de relações com investidores, Marcio Penna, que lembra que ele é também o principal acionista individual de CASH3.
Salmen tenta descolar a história do atual investimento da empresa como sendo uma iniciativa marketeira. O mercado, no entanto, não acredita. Diz-se que o movimento foi meticulosamente calculado.
O gestor de uma asset independente lembra que o anúncio aconteceu no primeiro dia útil gordo depois do carnaval, quando a concorrência é menor entre os fatos relevantes.
Esse mesmo gestor chamou a atenção para outra coincidência. Na semana que vem, o Méliuz vai divulgar o balanço com as posições financeiras do último trimestre de 2024.
Os eventos anteriores do tipo despertaram pouca atenção do mercado. O próprio Israel Salmen reconhece isso em relatório anterior para os investidores.
Novo aporte em Méliuz em bitcoin
O empresário destaca que o real perdeu 87% de seu poder de compra desde a criação, em 1994. O bitcoin, entretanto, teve uma valorização média anual de 77% em dólares na última década.
“É difícil saber qual o rendimento real de um caixa em CDI. Pode ser que seja positivo. Pode ser que não seja tão bom”, conta.
“Tinha mais de R$ 600 milhões no caixa e estava buscando alternativas sobre como aplicar melhor esses recursos. Acabou distribuindo para os acionistas R$ 430 milhões”, ele diz.
Todo o racional do fundador da empresa indica que a ideia é de ampliar a exposição do caixa ao bitcoin para além dos 10%. Mas seu discurso evita dar projeções.
“Eu, na pessoal física, sem dúvida nenhuma, tenho apetite (para além desses 10%). Agora eu quero entender se os níveis de governança que nós temos hoje nos permite fazer um movimento como esse”, diz.
Ele conta que a empresa está conduzindo um estudo detalhado sobre a possibilidade de ampliar a adoção do bitcoin como principal ativo estratégico de sua tesouraria. Os resultados previstos para divulgação do material é de 45 e 60 dias.
Críticas a Méliuz pelo aporte em bitcoin
Apesar da valorização das ações na quinta-feira, alguns investidores criticaram nas redes sociais a compra de bitcoins pelo Méliuz.
“Seu eu quiser especular com bitcoin, eu faço com meu próprio dinheiro”, disse um investidor. “Fez IPO falando uma coisa e fez outra”, disse outro.
O empresário se defende dizendo que não pretende mudar o foco da companhia. “O Méliuz continua sendo o Méliuz”, diz. “Se for para o investidor escolher mais exposição ao bitcoin ele tem outro ativos. até o próprio bitcoin”, destaca.
Para ele a atividade é complementar. “O investidor que compra nossa ação, ele compra a empresa. Mas ele também compra uma posição, um balanço de R$ 240 milhões que a gente tem no caixa hoje, sendo que 10% desse caixa estão aplicado em bitcoin”, explica.
Diversificação
Fundada em 2011, o Méliuz se lançou à bolsa em 2020. Na época, a operação movimentor R$ 367 milhões e os papéis saíram a R$ 10.
Hoje, o CASH3 é negociado abaixo de R$ 4. E, para tentar retomar o apetite do mercado, nos últimos anos, a empresa vem investindo em novas verticais de negócios. Como uma plataforma digital e cartão de crédito.
Para o analista Luiz Pedro Andrade de Oliveira, sócio da Nord, as iniciativas ainda não surtiram efeito.
“Mesmo que tenha apresentado um crescimento médio anual acima de 20% em sua receita desde que realizou seu IPO, a companhia permanece apresentando dificuldades em melhorar sua eficiência operacional”, pontuou, em relatório recente.
“O mercado até projeta uma recuperação para a empresa nos próximos anos, mas operando em um negócio extremamente competitivo, com elevada dependência de seus parceiros comerciais e em um ambiente macroeconômico desafiador, não temos a mesma confiança”, destaca.
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