Azul (AZUL4) tem novo dia de queda; investidores seguem pessimistas com plano de reestruturação

Empresas citadas na reportagem:
As ações da Azul (AZUL4) caem desde a semana passada e não dão sinais de recuperação nesta segunda-feira (28). O papel sofria um novo dia de derrocada no Ibovespa, com tombo de mais de 10%. Mas, ao final do dia, ganhou fôlego e amenizou a queda para 2,56%.
Os investidores continuam pessimistas após a companhia concluir a oferta de novas ações, tendo em vista que houve procura pelos papéis aquém do esperado pelo mercado.
Como efeito, as ações da Azul caem porque há suspeitas de que a companhia possa ter dificuldade em cumprir seu plano de reestruturação à frente.
Analistas avaliam que investidores parecem não ter apetite pelo setor de aviação, intensivo em capital, em meio ao temor de recessão global.
Outra hipótese é que os investidores se cansaram de financiar a Azul, que não oferece retornos em dividendos, por exemplo.
Azul (AZUL4) pode diluir base de acionistas, diz JPMorgan
O banco americano JPMorgan sinalizou em relatório, nesta segunda-feira (28), que a base de acionistas da Azul pode sofrer uma diluição ainda maior do que a projetada na oferta subsequente de ações.
Ao concluir a operação, a Azul passou a ter 2,1 bilhão de ações ordinárias no mercado, além das 848 milhões de preferenciais, mediante a emissão de 464 milhões de novas ações, concluída na última quarta-feira.
A XP calcula que, após a oferta, 61% da base de acionistas foi impactada, reduzindo sua participação no capital da empresa.
Contudo, o JPMorgan estima que essa diluição pode atingir ainda mais investidores, até 85% da base atual.
Follow-on dá sinais negativos sobre demanda por Azul (AZUL4)
Para analistas, a oferta é prejudicial aos investidores no longo prazo. Porque, além da diluição, houve perda de confiança do investidor no papel, de acordo com João Daronco, analistas da Suno.
Daronco nota que os investidores hoje buscam empresas capazes de transformar lucro em dividendos. Não é o caso da companhia aérea, que vem tentando trocar títulos de dívida por ações.
“O follow-on dá o sinal de que a Azul pode ter dificuldade adiante em futuras captações”, aponta.
“Tanto em crédito privado, emitindo dívida, quanto em novas ofertas subsequentes. Se ela fizesse a mesma emissão de ações hoje, o preço por ação já seria outro.”
Além disso, a emissão de R$ 1,66 bilhão ficou perto do piso da oferta. Isso acende outro alerta no mercado, de que o papel pode despencar ainda mais se o cenário externo piorar, diz Ártur Paliosa, sócio da Ável Investimentos.
“Se o mercado não quer comprar ações da Azul agora, imagina se o dólar ou o petróleo dispararem”, comenta.
A desvalorização do câmbio é negativa para a Azul, assim como uma escalada dos preços de óleo no mundo.
O follow-on também mostra a dificuldade da Azul rolar dívidas, diz Paliosa.
“Se forem emitir crédito, provavelmente vai ficar muito caro.”
Ações da Azul podem se recuperar?
Para Paliosa, as ações da Azul devem seguir voláteis e dependem dos próximos passos da companhia aérea. Ou seja, o mercado aguarda como a companhia usará o dinheiro arrecadado.
“O mercado já está respondendo ao follow-on”, diz o sócio da Ável Investimentos.
O JPMorgan, por exemplo, destaca em relatório que tem preferência pelas ações da panamense Copa Airlines e da chilena Latam dentro do setor de aviação latino-americano.
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