Bolsa brasileira está perto de corrigir defasagem histórica, diz CEO da Empiricus

Segundo o estrategista, após uma sucessão de eventos negativos nos últimos anos, o mercado doméstico pode registrar entrada de recursos nos próximos meses

Felipe Miranda, sócio-fundador e co-CEO da Empiricus Research. Foto: Búfalos
Felipe Miranda, sócio-fundador e co-CEO da Empiricus Research. Foto: Búfalos

A bolsa brasileira está perto de deixar uma lanterna histórica no ranking de produtos de investimentos no Brasil, segundo Felipe Miranda, sócio-fundador e co-CEO da Empiricus Research, ligada ao BTG Pactual.

Segundo o estrategista, após uma sucessão de eventos negativos nos últimos anos, o mercado doméstico pode registrar entrada de recursos nos próximos meses.

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O principal gatilho para esse movimento, disse Miranda, deve ser acionado com o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos.

A taxa básica norte-americana hoje está na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano, maior nível desde 2001, para conter a maior inflação em quatro décadas no país.

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A aposta majoritária do mercado, segundo o FedWatch, é de que o juro começará a cair entre junho e julho próximos.

Na visão de Mirada, mesmo que pequena, uma redução da taxa deve liberar um volume gigante de recursos de grandes investidores globais em busca de rentabilidade.

“E o Brasil, junto com o México, tem grandes possibilidades” de se beneficiar da demanda por ativos de maior risco entre emergentes, declarou.

Para dimensionar o possível impacto desse movimento sobre a bolsa brasileira, ele mencionou a escalada no último bimestre de 2023, quando o Ibovespa subiu 18,6%.

Na época, os mercados de ações ganharam força diante da expectativa de que a flexibilização monetária nos Estados Unidos pudesse começar já agora em março.

Entretanto, com o repique da inflação americana, as apostas em queda de juros ficaram para mais tarde e esfriaram as bolsas.

No acumulado de 2024 até 13 de março, o Ibovespa acumulava perda de cerca de 4%.

Correção histórica

Para o fundador da Empiricus, no entanto, a correção do Ibovespa não deve se restringir apenas a fatores cíclicos, uma vez que está em níveis historicamente baixos.

A bolsa brasileira tem se mostrado um investimento ruim nos últimos 15 anos, perdendo do CDI, da poupança, da NTN-B e dos fundos imobiliários, analisa o especialista.

Na visão dele, esse quadro deve-se a uma série de fatores:

  • Correção de um super ciclo da bolsa brasileira entre 2003 e 2007
  • Desaceleração do PIB
  • Piora do quadro fiscal do país, o que elevou as taxas de juros
  • Experiências muito ruins dos investidores com empresas que abriram o capital nos últimos anos (principalmente techs, cujas ações caíram até 95%), quanto de companhias maiores, Magazine Luiza e B3), que tiveram quedas ao redor de 40%
  • Surgimento de títulos incentivados, como LCIs, LCAs, CRIs e CRAs
  • Saques nos fundos de ações e nos multimercados

“Ficou faltando comprador na bolsa”, resumiu Miranda, para quem isso explica o fato de os preços das ações seguirem tão depreciados para padrões históricos.

Dessa forma, o suporte para as ações dependeu fundamentalmente do investidor estrangeiro.

A verdade está lá fora

Essa análise é coerente com a performance recente do Ibovespa.

Nos últimos dois meses de 2023, a alta do índice veio apoiada no ingresso líquido de quase R$ 40 bilhões por parte dos chamados investidores não residentes.

Da mesma forma, os resgates dos estrangeiros superaram os ingressos e cerca de R$ 21 bilhões em 2024 até 8 de março, período de queda do índice.

Com a queda dos juros, primeiro no Brasil e, depois, nos Estados Unidos, a tendência é que o mercado volte a operar de forma mais ‘normal’ ,disse Miranda.

“O fluxo (de recursos) vai vir quando ficar claro que o juro vai cair nos Estados Unidos”, afirmou.

A área de pesquisa da Empiricus não tem uma previsão para o Ibovespa.

Petrobras e Vale

A expectativa positiva do estrategista para o índice se mantém, mesmo com uma visão mais negativa para Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3), duas das maiores empresas brasileiras na B3.

Miranda afirmou que não investe em nenhuma das duas, assim como em outras empresas que tenham o governo federal como sócio.

No caso da petroleira, Miranda alegou que o risco de ingerência do acionista controlador inviabiliza a análise de risco do investimento na companhia.

Isso ficou sublinhado com a recente polêmica após a companhia surpreender o mercado na semana passada ao reter dividendos extraordinários bastante aguardados.

“Não é modelável o que está na cabeça do (Jean) Prates (presidente da Petrobras)”, disse.

“Não é a lógica de maximizar o valor para os acionistas. Dito isto, eu prefiro não participar desse jogo”, acrescentou.

Em relação à Vale (VALE3), Miranda considera que o imbróglio envolvendo a sucessão no comando catalisou problemas que a companhia já tinha.

O mix de desafios da companhia inclui a desaceleração da China, principal cliente da mineradora, e as multas que a companhia terá que pagar devido a desastres ambientais no Brasil.

“É uma tempestade perfeita”, resumiu.

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