Como os novos lockdowns na China podem afetar as ações no Brasil
Setores de tecnologia e automobilístico estão entre os mais vulneráveis com as medidas adotadas no país asiático para conter o aumento de casos de covid
Em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia, que ampliou a volatidade nos mercados internacionais, um novo fator entrou no radar dos investidores na última semana para trazer mais incertezas e nervosismo. O aumento de casos de covid-19 na China fez com que importantes regiões do país entrassem em lockdown para conter o avanço da doença.
As autoridades de Shenzhen, importante polo tecnológico e industrial, decidiram fechar as fábricas na cidade por pelo menos uma semana. A Foxconn, que faz a montagem dos iPhones da Apple, foi uma das companhias afetadas. Além disso, a paralisação na cidade pode comprometer os embarques em um dos maiores portos do mundo.
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A província de Jilin, relevante área agrícola, dona de uma das maiores reservas minerais chinesas e com atividade econômica forte nos setores automobilístico e ferroviário, também proibiu que os moradores saíssem de casa.
Há um temor de que o recrudescimento da pandemia provoque a interrupção das atividades em Xangai. Por enquanto, as autoridades do centro financeiro têm adotado restrições mais direcionadas para combater o surto.
Como o governo de Xi Jinping tem praticado a política de “covid zero”, com testagens em massa, a tendência é que as medidas só sejam flexibilizadas em cada região quando a situação estiver sob controle sanitário total. Isso alimenta a preocupação do mercado de que os novos lockdowns no país asiáticos desestabilizem novamente as cadeias de suprimentos e prejudiquem a frágil recuperação econômica global.
E o investidor brasileiro com isso?
Ao menos duas empresas listadas na Bolsa de Valores brasileira já foram afetadas diretamente pelos novos lockdowns na China. As companhias de tecnologia Positivo e Multilaser têm laboratórios de validação e teste em Shenzhen. “Reforçamos que o bloqueio é de apenas uma semana e que estamos trabalhando para reduzir qualquer impacto que possa ser gerado pela paralisação temporária”, disse a Multilaser, que tem 70 funcionários no local. Já a Positivo, que conta com 11 funcionários no escritório da cidade, não havia feito nenhum comunicado ao mercado sobre a situação.
Os fechamentos no país asiático acendem o alerta também para negociados ligados ao setor automobilístico, comenta Phil Soares, chefe de análise de ações na Órama Investimentos. “Esse é um setor vulnerável, que já sofre e deve ter novamente a produção afetada com a falta de chips e outros componentes eletrônicos importados da China”, destaca. Os potenciais reflexos seriam atrasos na fabricação e na entrega dos novos veículos, assim como um encarecimento do produto, podendo aumentar as despesas para as locadoras.
Mesmo diante das incertezas, a avaliação do especialista da Órama é que faz mais sentido no momento o investidor acompanhar a evolução do quadro na China, sem fazer grandes movimentos na carteira de ações. “A gente já teve alguns lockdowns lá e o desenrolar da situação foi brando em relação ao que tivemos no início da pandemia”, observa Soares.
O fato novo, que poderia exigir um grau maior de atenção e aí sim mudanças de posição, seria o descontrole da crise sanitária na China e indícios de uma nova onda global de covid. “Se o cenário se agravar, o ideal seria o investidor tomar um pouco mais de cuidado em teses mais ligadas ao turismo e ao segmento de aviação. Dentro disso estão ações de companhias como Azul, Gol e CVC, que sofreram muito na pandemia e seriam atingidas em um momento de recuperação com a reabertura no Ocidente”, diz Felipe Paletta, sócio e analista de ações e fundos de investimentos da fintech Monett. “Mas não acho que o investidor precisa mudar sua estratégia neste momento, especialmente quem foca no longo prazo. Hoje o mundo está muito melhor preparado e o índice alto de vacinação em muitos lugares traz uma dose extra de proteção para lidar com a pandemia”, completa.