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Debêntures da Americanas: marcação na curva poderia aumentar o prejuízo do investidor?
Os donos de debêntures da Americanas (AMER3) são um dos grandes interessados no processo de recuperação judicial da empresa.
A crise da varejista e a suspensão dos pagamentos jogou o preço desses títulos de renda fixa no chão, com uma desvalorização de mais de 85%, pior que a queda das ações da empresa no dia mais tenso, quando os papéis caíram 77% no pior dia. As ações recuperaram parte do valor nos últimos dias.
Já a queda no valor das debêntures da Americanas levantou o seguinte questionamento: a marcação na curva – que só mostra o rendimento do título no vencimento, sem que o investidor conheça as oscilações diárias do papel – é capaz de aumentar os prejuízos dos investidores diante de uma crise como essa?
Alexandre Alvarenga, especialista em fundos da Empiricus Research, diz que eventuais prejuízos serão iguais para debenturistas que optaram por marcação a mercado ou na curva.
Porém, ele alerta que o investidor que opta pela marcação na curva pode ter um outro tipo de problema: a falta de informação para movimentos rápidos no mercado.
“Na marcação a mercado, o investidor está vendo o que está acontecendo diariamente, enquanto, na marcação na curva, ele está no escuro e basicamente só vê o que foi contratado no momento do investimento. Ele portanto não sabe como está a oscilação do preço do papel no dia a dia”, explica.
Para o analista, isso pode atrasar algumas decisões diante da queda abrupta dos papéis e aprofundar prejuízos.
“O investidor com marcação na curva pode não conseguir reagir no tempo necessário se ele não acompanhou as notícias, enquanto aquele que tinha marcação a mercado teve mais clareza para poder se movimentar”, detalha.
Diferença entre marcação na curva e a mercado
Vale ressaltar que a diferença entre marcações na curva e a mercado são meramente ilustrativas.
Não se trata de títulos diferentes, mas de maneiras diferentes de visualizar os títulos.
Com a marcação na curva, é possível ver a valorização apenas relativa ao vencimento do papel.
Já a opção a mercado, o investidor consegue acompanhar a oscilação do dia a dia.
No início de 2023, foi criada uma nova regra no mercado de balcão (onde são comercializados esses títulos) que permite ao investidor escolher pela visualização de marcações a mercado ou na curva.
No caso de debêntures, apenas a marcação a mercado era possível até bem pouco tempo atrás. A mudança, porém, não chegou a causar muito impacto no caso da Americanas, mas acende um alerta com relação a esse tipo de visualização.
Marcação a mercado é mais transparente
Para Alvarenga, a marcação a mercado aumenta a transparência a favor do investidor, e é a mais recomendável.
Porém, ele destaca que é preciso ter serenidade ao acompanhar as oscilações cotidianas para que não haja resgates precipitados.
“Tem investidores que dizem que não querem ficar preocupados com seus títulos e, por isso, não querem olhar o mercado. Então, eles se privam dessas informações para evitar os vieses aos quais pode ser submetido, caso os títulos oscilem muito”, destaca.
Queda média de 87% no valor das debêntures
As debêntures da Americanas com marcação na curva mostram um deságio de quase 100% do valor dos títulos porque têm no horizonte apenas a suspensão dos pagamentos após a recuperação judicial.
Mas quem optou pela marcação a mercado consegue visualizar um deságio menor, de cerca de 87% do valor inicial dos papéis, segundo Bruno Mori, economista e sócio fundador da consultoria Sarfin.
O analista ressalta que essa diferença é apenas na maneira de visualizar, sendo que, o investidor que decidir abrir mão do papel vai receber em cima do deságio da marcação a mercado.
“As oscilações são meramente ilustrativas. Na prática, marcações a mercado e na curva dão na mesma. Se o investidor escolheu marcar na curva e quiser negociar, ele vai a mercado, e o deságio hoje é de cerca de 87%”, detalha.
Ele ressalta, portanto, que não há prejuízo maior para quem escolheu a marcação na curva, mas diz que essa opção de visualização pode confundir o investidor e forçá-lo a tomar decisões sem estar munido de todas as informações necessárias.
“Existe, sim, uma dificuldade de as pessoas entenderem como funciona uma debênture. Ela está começando a ficar um pouco mais acessível, mas é um mercado ainda engatinhando. E, neste caso, entra a responsabilidade de um gerente ou assessor para explicar como funciona o produto e suas formas de visualização”, acrescenta.
Quem define o preço do papel hoje?
Com a crise da Americanas, as debêntures da empresa pararam de ser a marcação oficial pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e hoje o valor depende basicamente da análise de mercados dos custodiantes e administradores do papel.
“Esse papel não tem mais uma marcação oficial, por isso, cabe a cada administrador provisionar. Hoje, se o papel que está marcado a mercado, cada administrador está marcando um preço diferente”, diz Luis Rodrigues, gestor de crédito da Principal Claritas.
Essa diferença pode significar perdas maiores ou menores com relação ao preço de face do papel.
“Cada administrador vai calcular o valor justo. Claro que, para fazer essa conta, ele vai ver o valor de mercado, se está tendo negociação desse papel e por quanto. Hoje, estão dando deságio próximo de 90% do valor inicial do contrato. Portanto, dependendo do administrador, vai haver uma diferença entre os valores atribuídos às debêntures”, conclui.
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