Embraer dispara quase 80% e lidera ganhos do Ibovespa em 2024; é hora de investir?
Saiba o que tem impulsionado a EMBR3 e se ainda dá tempo de investir na empresa para aproveitar a maré de valorização dos papéis
O mercado dava como certo que a Embraer (EMBR3) seria engolida pela Boeing (BA). O ano era 2019 e as ações da brasileira disparam na bolsa. Com a possibilidade da venda da empresa brasileira para a norte-americana, os investidores acharam uma boa hora para investir na Embraer. Porém, a negociação acabou de maneira indigesta. A aquisição não se consolidou e os papéis entraram em espiral negativa.
Agora, cinco anos depois, a Embraer cresce para, em um movimento improvável até pouco tempo atrás, ocupar parte do mercado deixado pela empresa dos EUA, que tem sofrido com problemas operacionais e regulatórios.
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Um dos resultados dessa inversão de papéis tem sido a queda da Boeing na bolsa americana e a forte alta da Embraer na bolsa brasileira. Enquanto a primeira desceu 10% em 12 meses, a outra avançou 120% no mesmo período.
Só neste ano, a EMBR3 dispara perto de 80% e lidera ganhos do Ibovespa, mesmo com o índice em queda de 4%. Saiba o que impulsiona as ações da Embraer. E se ainda dá tempo de aproveitar a maré de valorização dos papéis.
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Problemas para a Boeing
Os aviões de menor porte (narrowbody) ganharam autonomia de voo maior no mercado de aviação comercial. Com isso, substitutem alguns de grande porte (widebody) em determinadas rotas antes percorridas apenas pelos maiores. Atualmente, cerca de 80% dos pedidos da Boeing e da Airbus são por pequenas aeronaves.
“É nesse ponto que se iniciam os problemas da Boeing”, diz relatório da Kinea, gestora de fundos de investimento. A altura das asas dos pequenos aviões da Boeing não permitia que turbinas mais modernas, de maior diâmetro, fossem instaladas.
“Isso fez com que turbinas modernas tivessem que ser elevadas acima da linha da asa no modelo 737 MAX”, diz o relatório. “Para corrigir essa instabilidade, que leva à inclinação do bico do avião para cima, um sistema de correção foi adotado de forma inapropriada. Isso causou duas quedas fatais e a paralisação da aeronave por quase dois anos”, complementa o documento.
Depois disso, uma porta se desprendeu durante o voo em outro 737 MAX. Isso levou a FAA, agência federal norte americana de aviação, a restringir o ritmo de produção da aeronave. “Recentemente, a empresa entregou somente 17 aviões, depois de um pico de cerca de 64 aeronaves por mês”, segundo a Kinea.
Ações da Embraer disparam com aumento da demanda por voos comerciais
A maior beneficiada pela crise da Boeing foi a Airbus. Contudo, a empresa francesa não é capaz de absorver toda a demanda. Além disso, ela já tem suas linhas de produção ocupadas pelos próximos 12 anos. Este é o maior backlog da história da Airbus.
“Assim, vemos a Embraer como uma alternativa para romper esse duopólio, principalmente após o desenvolvimento da aeronave E195-E2. Ela é capaz de operar em rotas de cerca de 6 horas e, portanto, suprir parte relevante da demanda por aeronaves narrowbody”, diz a Kinea.
Atualmente, a Embraer consegue entregar aviões apenas 2 anos após o pedido, enquanto as duas maiores concorrentes atendem a mesma demanda em 5 anos. E a empresa brasileira ainda tem capacidade operacional para aumentar suas entregas.
Vale investir na Embraer agora?
As ações da Embraer sobem quase que ininterruptamente desde setembro de 2023. Os papéis estiveram cotados a R$ 17 naquele período e saltaram para R$ 22 ao final de 2023.
Agora, a partir de março deste ano, os papéis aceleraram ganhos após a American Airlines encomendar 90 aeronaves à Embraer. A entrega será realizada ao longo da próxima década. Isso representa um aumento de 14% nos pedidos anuais (de 70 para 80 aeronaves).
Dessa maneira, o preço-alvo do ADR (certificado negociado em Nova York) da Embraer aumentaria US$ 3 dólares a cada 10 aviões acrescidos nas entregas anuais. Assim, a alta seria em torno de 10% do preço atual dos certificados.
A Nova Futura Investimentos, recomendou compra dos papéis em fevereiro deste ano. Agora, o momento é de manutenção do papel para quem já está comprado. Contudo, “aguardaria um pouco para novas entradas”, diz Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos.
Assim, a Nova Futura não tem preço-alvo para os papéis.
Para a Benndorf Research, as notícias favoráveis para o ativo já foram divulgadas. Para nova puxada de alta, seria necessário surgirem novas surpresas positivas nos próximos resultados.
“Colocamos o ativo na carteira no mês de março de 2024. Porém, ela será retirada no mês de junho de 2024 para realização do lucro operacional”. A fala é de João Lucas Tonello, analista da Benndorf.
A casa de análise tem preço-alvo de R$ 42,18 para as ações da Embraer.
EMBR3 estava cotada em R$ 39,50 perto do fechamento desta terça-feira (21).
Impulso também no segmento de aeronaves militares
Para Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos, a Embraer colhe agora os frutos do que plantou nos últimos anos, “após investimentos feitos para ampliação do portfólio”, ganhando espaço não só no setor comercial, “mas também no setor de defesa”.
Nesse sentido, os ganhos das ações da Embraer com aviação comercial podem ser acrescidos de alta com aeronaves militares. Atualmente, a Embraer entrega anualmente dois aviões do modelo KC-390 Millennium.
Assim, segundo o relatório da Kinea, “Arábia Saudita e Índia vêm sinalizando projetos de grandes pedidos (80 e 40 unidades, respectivamente, ao longo de 15 anos). Caso essas entregas sejam realmente feitas, isso seria uma opcionalidade com um acréscimo de cerca de mais US$ 4 dólares à ação”.
Nível de endividamento é alerta ‘escondido’ no balanço da EMBR3
A Embraer (EMBR3) apresentou um desempenho financeiro no 1T24 destacado como “notável” no primeiro trimestre de 2024, de acordo com João Lucas Tonello, analista da Benndorf Research.
Nesse sentido, a empresa conseguiu reduzir seu prejuízo líquido ajustado em 86,2%, para R$ 63,5 milhões. Além disso, o EBITDA ajustado totalizou R$ 233,7 milhões, um crescimento expressivo de 333,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Contudo, investir na Embraer exige conhecer mais sobre um ponto importante. Trata-se do nível de endividamento da companhia.
“Apesar dos resultados positivos, a Embraer enfrenta alguns desafios”. O alerta é de Tonello. Isso porque a dívida líquida da companhia é de R$ 5,237 bilhões. Houve uma redução em relação aos R$ 7,276 bilhões do mesmo período de 2023. “Contudo, ainda representa um encargo financeiro significativo”, alerta Tonello.
“Além disso, o indicador de alavancagem financeira ficou em 1,8 vez em março/23. O que significa um aumento de 0,4 p.p. em relação ao mesmo período de 2023. Isso indica que a empresa ainda tem um nível considerável de dívida em relação à sua capacidade de gerar lucros”, acrescenta.