Faz sentido ou não? Quatro ‘clichês’ para avaliar antes de comprar uma ação
IF consultou quatro especialistas para saber deles alguns clichês que podem comprometer as aplicações. Entre eles, considerar que o preço está muito barato e ser admirador de uma empresa
A Inteligência Financeira já publicou uma lista com cinco erros que transformam a entrada na Bolsa de Valores em uma cilada. Entre as principais recomendações para não perder muito dinheiro em pouco tempo estão ter um foco no longo prazo, para alcançar uma rentabilidade consistente, e estudar bastante antes de investir em uma empresa. Para ajudar na sua tomada de decisões, a IF consultou quatro especialistas para saber deles alguns clichês que também podem comprometer as aplicações. Eles respondem os problemas dos argumentos que baseiam certas escolhas e indicam o que mais é preciso levar em conta para investir com segurança no mercado acionário.
“Sou fã da empresa”
“O megainvestidor Warren Buffett fala bastante sobre investir naquilo que você conhece. O chamado círculo de competência. No entanto, investir em uma empresa somente porque você consome o produto ou serviço que ela oferece é um risco. Tudo, especialmente na Bolsa, tem um preço. Você pode adorar carros da BMW, mas não vai aceitar comprar uma pelo preço de uma Ferrari, certo? Então o ideal é conhecer a empresa, os produtos e serviços para conseguir fazer um julgamento dos cenários econômicos sobre o que pode acontecer e influenciar os rumos da companhia. Isso ajuda a entender se há avenidas de crescimento para a empresa para justificar o investimento”, aponta Felipe Paletta, sócio e analista de ações e fundos de investimentos da fintech Monett.
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“O preço caiu bastante”
“A ação pode estar relativamente barata ao que estava sendo negociada em um período anterior, mas isso não significa necessariamente que ela esteja barata. O que vai determinar isso são os fundamentos e as perspectivas de resultado e do setor. Um exemplo concreto é a Cielo, que até 2015 era praticamente uma monopolista e hoje em dia tem diversos concorrentes, o que acaba diminuindo bastante a margem que ela poderia ter em relação aos clientes. Temos ainda o cenário macro, com a desaceleração da economia e uma taxa de juros elevada. Então o mercado projeta uma geração de caixa e lucratividade menores”, destaca Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos.
“A empresa deve vender bastante no Natal”
“Ter uma orientação baseada apenas em eventos sazonais, como Black Friday e Natal, não faz muito sentido porque todos os fatores externos já estão precificados antes da data. Como todo mundo já pensou nisso antes, o preço já está caro. O mercado estabelece uma expectativa para o período e avalia se vai ser superada ou frustrada. Se houver uma alta nas vendas, mas o número vier abaixo do esperado, o reflexo no preço da ação vai ser negativo. Vai ter perda de dinheiro. Se a meta for batida, já está no preço. A tomada de decisão na hora de comprar uma ação, principalmente de empresas do varejo, é sempre bom considerar, entre outros pontos, como estão e quais são as perspectivas para a confiança e a renda dos consumidores”, avalia William Teixeira, sócio e head de renda variável da Messem Investimentos.
“O gráfico está recomendando”
“Sendo um pouco polêmico ou controverso, mas existe um pessoal que acaba recomendando ação apenas por um ponto gráfico. A análise técnica, que é a análise dos gráficos, que tenta perceber uma tendência em um ativo com relação a sua movimentação histórica, ela por si só, na minha percepção de investidor, que olho os números, os resultados das empresas, mais fundamentalista, ela é de certa forma falha. Em alguns momentos, o gráfico tenta indicar uma tendência de curto, médio ou longo prazo. Mas a decisão de comprar a ação de uma empresa simplesmente pelo movimento do preço em um período de tempo, ela é muito complicada. De certa forma a combinação das análises para a tomada de decisão pode até ser válida, mas simplesmente apenas pela análise gráfica parece um pouco falha. Prefiro uma análise da empresa, dos resultados, do lucro, do fluxo de caixa, do momento da empresa em relação ao mercado que atua, aos concorrentes, é mais importante”, argumenta Leonardo Morales, sócio e diretor da SVN Gestão.