Taxação do aço e do alumínio proposta por Trump impacta caixa e valor das ações das siderúrgicas nacionais

Empresas citadas na reportagem:
Uma provável tarifa dos Estados Unidos de 25% sobre a compra internacional de aço e alumínio deve impactar as empresas siderúrgicas brasileiras. Isso, tanto no caixa dessas companhias quanto no valor de suas ações negociadas na bolsa de valores.
Mas, atenção: os resultados, ao menos no curto prazo, tendem a ser difusos. Nem toda empresa deve reagir agora da mesma forma enquanto se discute e caso se concretize um tarifaço de Donald Trump sobre o setor.
Companhias como Usiminas (USIM5), CSN (CSNA3), Ferbasa (FESA4) e Gerdau (GGBR4) têm no mercado americano um importante e tradicional cliente de sua produção, especialmente do aço.
Esse é um dos raros casos de itens industrializados brasileiros com portas abertas em uma grande praça compradora. Os Estados Unidos não conseguem produzir tudo o que consomem nessa seara. E, apesar da China ser dona de mais da metade da produção mundial de aço e alumínio, o Brasil tem seu espaço. Responde por 14% a 15% das importações americanas.
Trump quer impor tarifa ao aço e ao alumínio
No último domingo (9), enquanto voava da Flórida para Nova Orleans para assistir ao Super Bowl, Donald Trump anunciou que iria taxar em 25% todas as importações de aço e alumínio de todos os países. Falou de improviso, no avião oficial da presidência, o Air Force One.
Se vai, de fato, seguir com a medida, ainda não se sabe. O republicano tem histórico recente de ameaças e recuos como parte de uma política de negociações. Mas o fato é que o Brasil seria fortemente impactado. Quase a metade (48%) das exportações brasileiras de aço segue para as indústrias dos Estados Unidos.
No caso do alumínio, o volume é um pouco menor, cerca de 16%, segundo a Associação Brasileira do Alumínio (Abral).
Em valores, o impacto estimado chega a US$ 6,5 bilhões em vendas totais, de acordo com levamento do Instituto Aço Brasil.
Impacto nas ações da siderúrgicas
Para o investidor Marcos Saravalle, que também atua como estrategista-chefe da MSX Invest, o mercado de siderurgia virou um trade de maior risco a partir de agora.
Para ele, no curto prazo há perdedoras e apenas uma ganhadora nessa confusão. Os papéis da CSN e da Usiminas tendem a sangrar. E, como está acontecendo nesta segunda-feira (10), Gerdau pode se valorizar nesse primeiro instante.
“A Gerdau tem uma fábrica de aço instalada nos Estados Unidos. O mercado, então, enxerga que, caso aconteça a tarifação, ela deve responder com aumento de fornecimentos para as indústrias americanas”, conta. “Já CSN e Usiminas seria impactadas negativamente”, avalia.
No terceiro trimestre de 2024, a Gerdau produziu 2,9 milhões de toneladas de aço. Enquanto 1,44 milhão ficou no Brasil, 1,022 foi consumida nos Estados Unidos. “Eu, neste momento, penso numa operação de long short nesse setor. Eu ficaria vendido em ações da Usiminas e da CSN para comprar Gerdau”, diz.
Mercado de aço vai ficar menor com tarifa
Saravalle, entretanto, aponta que a situação pode mudar. “Num longo prazo, todo mundo perde”. É no que também acredita Fabio Silveira, que é sócio-diretor da MacroSector Consultores. “Não dá para enxergar alguma coisa positiva de uma medida como essa do Trump. O comércio mundial vai ficar mais fraco. O aço vai ficar mais caro. A economia desaquece. E a Gerdau, até ela, vai vender menos. Aqui no Brasil e no exterior”, afirma.
O especialista afirma que a ameaça de tarifas americanas pega o setor num momento delicado no Brasil. “Já vai haver um desaquecido da siderurgia no segundo semestre, fruto das política monetária, do aumento dos juros aqui no Brasil. E, se essa história dos Estados Unidos for para frente, vai ser uma má notícia para as ações das empresas do segmento”, conta.
O Brasil tem hoje 31 usinas siderúrgicas, administradas por 11 grupos empresariais, segundo dados do Instituto Aço Brasil. O segmento emprega 121,7 mil pessoas. A capacidade instalada é de 51 milhões de tonelada ao ano de aço bruto. A produção, no entanto, gira em torno de 32 milhões de toneladas ao ano.
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