Ibovespa pode fechar 2024 em 152 mil pontos, diz JPMorgan: ‘O Brasil ainda está barato’
Queda da Selic, boom das exportações de petróleo e vácuo deixado pela China são alguns dos fatores que podem impulsionar ações brasileiras
As ações brasileiras ainda estão baratas. Esse é o recado do JPMorgan em um relatório publicado nesta semana. Nele, o banco de investimentos norte-americano considerou três horizontes para o Ibovespa no fim de 2024. O cenário-base é de 142 mil pontos.
Nos quadros pessimista e otimista, o principal índice brasileiro de ações fecharia o ano em 105 mil e 152 mil pontos, respectivamente.
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Emy Shayo e equipe de estratégia do JPMorgan, que assinam o relatório, listaram vários argumentos que apontam para um ano mais positivo.
Mais combustível da Selic para o Ibovespa
Para o JP, os cortes esperados da taxa básica brasileira ainda não estão no preço das ações listadas na B3.
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Pelas contas dos analistas, historicamente cada queda de 1 ponto percentual de corte na Selic resulta em valorização de 5,5% do Ibovespa.
De fato, o índice acumulou valorização de 22,3% em 2023, após o Banco Central ter começado a cortar o juro em agosto.
Desde então, foram quatro reduções de 0,5 ponto, que trouxeram a taxa para os atuais 11,75%.
Mas “as ações estão abaixo disso após a queda recente”, diz trecho do relatório. O Ibovespa acumula baixa de cerca de 4,5% em janeiro.
Além disso, o BC já sinalizou que deve vir com novas baixas na Selic. A próxima reunião do órgão para decidir sobre o tema é na semana que vem.
O JPMorgan espera que a autoridade monetária mantenha esse curso até julho, quando então fará um corte de 0,25 ponto, para uma taxa final de 9,5%.
“Em tese, isso proporcionaria um aumento adicional de 12,5% no Ibovespa”, creem os autores do relatório.
Petróleo é o novo agro
O JP acredita na possibilidade de o crescimento econômico brasileiro surpreender novamente para cima em 2024.
A previsão mais recente do Boletim Focus, pesquisa semana do BC com instituições financeiras, é de aumento de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.
Aumento da renda das famílias e, consequentemente, do consumo, poderiam dar suporte à demanda, especialmente no segundo semestre, diz o relatório do banco.
E, embora, não deva contar de novo com o formidável apoio do agronegócio exercido no ano passado, o Brasil verá um novo fenômeno.
“O que a agricultura fez pelo PIB e pelas contas externas do Brasil em 2023, o petróleo poderá começar a fazer em 2024 e depois disso”, frisa o JP.
A instituição estima que a produção da Petrobras (PETR4) passará de 2,8 milhões de barris para 3,3 milhões de barris por dia nos próximos cinco anos.
A verdade está lá fora
Entre gestores internacionais, o Brasil é majoritariamente uma aposta de alta na comparação com outros mercados emergentes, afirmam Shayo e equipe.
Apesar da alta em 2023, a participação das ações brasileiras nas carteiras globais segue abaixo de níveis históricos, pontuaram.
Além disso, “o apetite estrangeiro pelo Brasil (…) deverá continuar a ser impulsionado pela falta de atratividade da China”, frisa o documento.
Estrangeiros, aliás, devem seguir como maiores responsáveis pelo destino do Ibovespa nos próximos meses, pondera o JP.
É fato que também no Brasil a fatia das ações no bolo de investimentos dos fundos é de apenas 9,1%, próxima do mínimo histórico observado em 2015/2016.
Com o cenário de juros em queda, essa participação poderia voltar ao menos à média histórica de 11%, o que adicionaria US$ 25 bilhões para a bolsa.
Segundo o banco de investimentos, porém, os investidores locais não estão preparados para fazer isso agora.
Isso porque um retorno de 1% ao mês não exista mais, a taxa de juros real ao redor de 6% (podendo fechar o ano em torno de 4,5%) ainda proporcionam um retorno atraente.
Lucros das empresas
Pela previsão do mercado, os lucros das empresas da B3 devem crescer 4% para 2024.
É pouco, mas melhor do que o declínio de dois dígitos observado em 2023, afirmou o JPMorgan.
Além disso, nas duas últimas temporadas de balanços trimestrais, os resultados foram melhores do que o esperado, mas não houve revisões de lucros para cima.
Agora será diferente, apostam os analistas.
Isso porque o menor custo de serviço da dívida dará impulso operacional e melhora das margens.
Por setores, a preferência manifestada pelo JP é o financeiro, “uma porta de entrada para estrangeiros que desejam investir em setores locais.”
Historicamente, o setor com melhor desempenho durante os ciclos de flexibilização é o do consumo discricionário.
O banco também vê oportunidades em empresas de concessões e outras prestadoras de serviços públicos.
“No entanto, o mercado apresenta um elevado grau de inquietação face às empresas do setor”, acrescenta o relatório.
Risco fiscal, sempre ele
O maior risco para o desempenho positivo do Ibovespa, segundo o banco, são as contas públicas.
Oficialmente, a meta do governo federal é de déficit primário zero em 2024. Mas o consenso do mercado aponta para déficit de 0,8% no período.
A próxima data importante parece ser em março, se o governo fizer uma espécie de reconciliação orçamentária e uma mudança da meta poderia acontecer.