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Investidor profissional garimpa pechinchas em ‘áreas quentes’ da Bolsa nos próximos 6 meses; confira quais
Empresas citadas na reportagem:
“O mercado de ações está quente. Mas a Bolsa já andou muito”, comenta o investidor profissional Felipe Arslan. Sócio de uma gestora em São Paulo, ele é especialista em estratégias de multimercado, o que, na prática, significa dizer que é liberado a aplicar o dinheiro de terceiros em qualquer ativo constituído no mercado financeiro, de título de CDB a papeis de empresas estrangeiras.
Acostumado a prever cenário com pelo menos seis meses de antecedência, Arslan começa a fazer ressalvas às largamente apregoadas oportunidades da Bolsa. “Quem ainda não entrou no Ibovespa“, ele reflete, “pode já ter perdido uma parte importante da sua valorização nesse ciclo da economia”.
Lógica diferente
Pode parecer estranho. No entanto, em um momento em que boa parte dos relatórios especializados incentivam a guinada do investidor aos ativos de riscos, as preocupações de Felipe Arslan encontram eco nas estratégias de outros investidores institucionais, que são os profissionais que operam no mercado financeiro em grande escala, pelo atacado.
Eles seguem uma lógica pouco comentada pelas corretoras, bancos e plataformas, mas que é amplamente adotada no dia a dia da Faria Lima, na capital paulista, e no Leblon, no Rio, os dois centros financeiros do país: a de que, quando uma dica começa a ser distribuída, é sinal de que os profissionais do ramo já ganharam quase tudo o que podiam com ela antes. “A gente sempre chega na frente”, diz Arslan, que gerencia um portfólio de R$ 21 bilhões, para 90 mil clientes.
Como funciona a dinâmica do mercado
É sempre assim. A economia dá sinais de melhoras e o Banco Central (BC) ameaça cortar os juros. Nesse momento, os relatórios feitos para o pequeno investidor incentivam o aporte de risco, colocando os ativos da bolsa de valores em evidência.
Na ponta conservadora dessa dica, a recomendação recai principalmente sobre os títulos do Tesouro Direto atrelados à Selic, batizados de prefixados. Isso porque eles garantem uma rentabilidade combinada já na saída, independentemente do que acontecer com a Selic mais adiante
Esse roteiro ganha força extra com um Congresso que parece decidido a fazer a reforma tributária, já aprovada na Câmara dos Deputados em dois turnos. Combina-se a isso ao fato da inflação, após dois anos sem controle, começar a convergir para a meta estipulada pelo BC.
Como consequência de tudo isso, praticamente todas as instituições financeiras revisaram as projeções para o desempenho da B3 no ano. Da corretora Genial, que passou a falar em 140 mil pontos, aos estrangeiros Bank of America e JP Morgan, que agora apostam no Ibovespa aos 135 mil pontos. Na pior das hipóteses, as projeções apontam para uma valorização do Ibovespa na casa 20% neste ano.
Mas, se o incentivo para o investidor rebalancear a carteira é grande neste momento, os investidores profissionais reforçam as oportunidades, mas com uma boa dose de cautela. “De fevereiro para cá, todas as assets zeraram as suas posições shorts (que apostam da queda) da bolsa brasileira e começaram a ficar mais construtivistas (apostando na alta)”, afirma Flávio Stanger, dono da carioca Mandatto.
“Isso quer dizer que comprar ações é um bom negócio, mas uma parte da valorização já foi”, diz o administrador, que opera fundos exclusivos, geralmente criados para gerir o patrimônio de executivos de grandes empresas.
Bolsa pode subir de 10% a 15%, dizem especialistas
“O Ibovespa ainda tem de 10% a 15% (de alta) à disposição do investidor”, comenta Nohad Harati, do family office Harati Participações. Para ela, que ganha a vida administrando a carteira de famílias ricas, o desafio para quem quer se apropriar de algum ganho neste momento, em que a taxa de juros embica para baixo e o Produto Interno Bruto (PIB) vai para cima, é o de mirar corretamente nos setores-chaves do crescimento esperado. E comprar as ações o quanto antes.
“O tempo é importante. Geralmente, o pequeno investidor espera para comprar ações com o Ibovespa aos 130 mil pontos. Daí, já está cara demais”, afirma.
Existem algumas estratégias de investimento em ações. Gisele Colombo de Andrade, da Saroh, que também atende milionários, lembra que uma bastante consolida é adotada pela Berkshire Hathaway, firma do megainvestidor Warren Buffett. Ela desconsidera o momento da economia e mira sempre no longo prazo. “Ele estuda as empresas, cria uma convicção e compra as ações das empresas que considera relevantes ao longo dos anos, sem se importar com o que o mercado está falando”, lembra.
O modelo é relativamente parecido com o de Luiz Barsi Filho, o autodeclarado maior investidor brasileiro da Bolsa. Barsi, no entanto, foca exclusivamente em companhias que são boas pagadoras de dividendos, reinvestindo a receita oriunda dos proventos na aquisição de mais ativos dessas mesmas empresas.
Uma outra forma, no entanto, se assemelha mais à dinâmica do trader, que é de buscar pechinchas – empresas com bons fundamentos, mas com as ações comercializadas abaixo do preço – para vender mais caro depois. É nesse segundo caso que alguns gestores fazem suas apostas neste momento.
“A Bolsa já está ficando cara, mas existem companhias com o valor da ação bastante esmagado, com 80% a 90% de desconto, algumas valendo um pouco mais do que o dinheiro que elas têm no caixa”, afirma Flávio Stanger, da Mandatto.
As apostas dos gestores
A gestora Átmo, que se tornou um dos destinos da moda entre as administradoras de family offices, integra essa turma e, regularmente, comunica os seus clientes sobre os setores em que está aportando, considerando esse horizonte de oportunidades nos médio e longo prazos. “É uma das gestoras que mais têm acertado”, afirma Nohad Harati.
Em junho, quando publicou pela última vez suas posições aos clientes, a casa tinha 22% de sua carteira em empresas de utilidades públicas, segmento composto por prestadoras de serviço nas áreas de energia elétrica e saneamento básico, por exemplo, e 17% no mercado de consumo discricionário, que são aquelas empresas de consumo não essenciais, como moda e bem-estar.
Na opinião dos gestores, essa é uma tendência atual entre as teses de investimento: apostar no crescimento do país e, sobretudo, no apetite de compra das classes média e média-alta, um filão que o mercado gosta de chamar de “mais resiliente”.
Quais as empresas da moda
A estrela dessa posição, neste momento, é a Equatorial Energia (EQTL3). Em maio, a Átmos reportou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que cerca de 17% de sua posição em ações eram de papeis da companhia de energia. A estratégia é seguida por outros fundos de ações. E a explicação, segundo os analistas, é de que a Equatorial pode se beneficiar de uma nova rodada de investimentos na área nos próximos meses.
Um relatório publicado em junho pela Bradesco BBI estima que o setor deve movimentar cerca de R$ 70 bilhões até 2024 com leilões de linhas de transmissão de energia.
“Esse mercado é muito promissor”, conta Felipe Arslan, da Vinland. Ele destaca uma segunda empresa do ramo, a centenária CPFL, com atuação nas áreas de geração, transmissão e distribuição de energia. “A gente vê a empresa negociando na Bolsa com 15% de desconto para a média histórica dela”, afirma. “E ela deve entregar nos próximos anos um dividend yeld maior do que 12%, isso é bastante coisa”, destaca, referindo-se à métrica usada para as empresas pagadoras de dividendos.
Com a imagem castigada pelo rombo contábil da Americanas (AMER3) e pelos prejuízos em série da Lojas Marisa (AMAR3), o varejo, na opinião dos gestores, é um dos motivos para os investidores institucionais estarem tão animados com o segmento de consumo.
A preferida do nicho é o Soma (SOMA3), hoje o maior grupo de moda do Brasil, dono de um faturamento de R$ 6 bilhões por ano e de marcas como Farm, Hering e Animale.
“A empresa tem marcas para classe média e média alta. É um varejo resiliente”, aponta Nohad Harati. “É um negócio de alta renda, que não depende muito da oscilação da renda do povo”, afirma Arslan, que também diz gostar de Arezzo (ARZZ3), Iguatemi (IGTI3) e Multiplan (MULT3).
Outra empresa da área de consumo que hoje ocupa participação relevante dos portfólios é a Natura (NTCO3). “A empresa tem também uma preocupação com governança e meio ambiente”, afirma Marcos Olmos, sócio da VOX Capital, que tem um fundo com títulos de crédito corporativo emitidos por empresas que se encaixam nos conceitos de impacto social defendidos pela gestora.
Ele explica que a preocupação social, na prática, se traduz em um desempenho mais linear dos ativos. “Algumas empresas têm uma nota alta de classificação de risco, como era a Americanas. Mas têm problemas, como a forma com que tratam os funcionários. Quando olhamos para o impacto social, conseguimos evitar esses problemas e reduzir a oscilação dos papéis no longo prazo”, diz.
Por fim, há um bom olhar para as empresas da área financeira. As instituições são vistas basicamente como uma proteção ao portfólio, já que seguram uma capacidade de geração de receita independentemente do momento econômico.
Nesse mercado, Itausa (ITSA4) tem sido visto como um ativo promissor basicamente porque é mais barato do que a ação pura do Itaú-Unibanco, a ITUB4, porém tende a seguir de perto o desempenho do papel mais conhecido “É um ativo muito correlacionado ao Itaú, mas por ser da holding do banco e ter outras empresas dentro de sua estrutura, é negociada com desconto pelo mercado. Então, é uma forma de investir em Itaú, com desembolso menor”, afirma Nohad.
Por fim, ainda no setor energético, a aposta pelo desenvolvimento do país – a projeção do crescimento do PIB está em atualização para cima – tem movimentado a atenção pela Cosan (CSAN3). O grande interesse gira em torno dos IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). A subsidiária de gás, Compass, é um desses movimentos esperados. “A empresa tem uma série de possíveis IPOs que devem trazer muito impacto para o papel”, diz o sócio-fundador da gestora Vinland.
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