Com possível volta da Petrobras (PETR4) à África, a era dos dividendos generosos subiu no telhado?
Noticiário sobre possível volta da companhia à África e recompra de refinaria leva analistas a refazerem contas sobre proventos para acionistas
A possível retomada de investimentos da Petrobras (PETR4) na África pode selar o fim do ciclo de enormes dividendos a acionistas?
Essa discussão esquentou desde sexta-feira (26), após a Reuters publicar uma entrevista com uma executiva da companhia citando essa possibilidade.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
Na reportagem, a diretora de exploração e produção da Petrobras, Sylvia dos Anjos, mencionou que a empresa fez uma oferta para comprar metade da participação de 80% da Galp num complexo exploratório na Namíbia.
Embora a companhia não tenha se manifestado oficialmente sobre o assunto, a notícia pesou nas ações.
Últimas em Ações
Nesta terça-feira, PETR4 caía cerca de 0,5% por volta das 12h na B3, emendando a terceira sessão seguida no vermelho.
Com base nas informações da reportagem, alguns analistas fizeram cálculos sobre o possível impacto de um eventual negócio sobre os dividendos da Petrobras.
O BTG Pactual, por exemplo, estimou que dividend yield da companhia, previsto em 15% nos próximos 12 meses, cairá para 11% a partir de então. Isso, excluindo dividendos extraordinários.
Enquanto isso, o Goldman Sachs considerou que o negócio, caso aconteça, põe em risco sua estimativa de US$ 19 bilhões a serem pagos em dividendos pela Petrobras até o primeiro trimestre de 2025.
Para 2024, o Goldman vê espaço para outras duas parcelas de dividendos em torno de US$ 2,6 bilhões no terceiro e quarto trimestre.
Isso sem contar um dividendo extraordinário de US$ 4 bilhões.
“Acreditamos que o dividend yield pode potencialmente permanecer dentro da faixa de um dígito de médio a alto, mesmo após potenciais aquisições”, afirmou o Goldman.
Virada na política de aquisições
Para os analistas, contudo, a notícia sobre a Namíbia reforça a visão de uma reviravolta na política de aquisições da Petrobras.
Desde 2015 tentando se livrar de uma enorme dívida, a Petrobras adotou uma política de venda de ativos.
Com isso, saiu de vários países, incluindo Japão, Chile, Argentina e Uruguai, além de deixar a África em definitivo em 2020.
Combinada com maiores receitas devido à prática maiores preços dos combustíveis, a estatal gerou volumes inéditos de dividendos.
Veja o gráfico abaixo:
Desde o ano passado, porém, sob o governo Lula, a companhia indicou uma mudança de planos, dando ênfase a investimentos em refinarias e energias renováveis.
O plano estratégico 2024-28, anunciado pela companhia em 2023, previa investimentos de US$ 102 bilhões.
Magda Chambriard, que sucedeu Jean Paul Prates na presidência da companhia em maio, também vem enfatizando a intenção de investir na exploração de petróleo na Margem Equatorial do país e na volta às refinarias.
Nos últimos meses, a mídia local vem relatando que a companhia planeja recomprar a refinaria de Mataripe, da qual se desfez em 2021.
No caso da Namíbia, o movimento pode ter a ver com a necessidade da empresa de aumentar suas reservas de petróleo.
“Mas a empresa tem um histórico fraco de operações fora do Brasil, o que gera um certo ceticismo entre os investidores”, afirmou Frederico Nobre, chefe de análise da Warren Investimentos.
Preço de petróleo e prévia operacional
Os analistas ponderaram, no entanto, que há mais elementos pesando sobre as expectativas dos investidores em relação à Petrobras.
Uma delas é com a queda recente das cotações do petróleo. O barril do óleo do tipo Brent saía nesta sessão ao redor de US$ 78.
Isso significa uma queda de cerca de 10% em julho. Menores preços da commodity em geral significam menos receitas para petroleiras.
Enquanto isso, a Petrobras divulgou na segunda-feira à noite seus números operacionais do segundo trimestre.
A produção de petróleo e gás totalizou 2,7 milhões de barris equivalente por dia no período, queda de 2,8% em relação ao trimestre anterior.
A partir desses e outros números, o Itaú BBA previu que a empresa terá um resultado operacional (Ebitda) de US$ 9,4 bilhões no trimestre (queda de 24%), refletindo entre outros fatores também o pagamento de um acordo judicial.