Pandemia fez garçom investir em dividendos e quase dobrar salário: ‘Me dão gorjeta e eu compro ação’

Izau Netto começou a poupar e investir após susto proporcionado pela pandemia

Hoje investidor em busca de dividendos, Izau Netto estava em São Paulo há apenas cinco dias quando tudo fechou em razão da covid-19. Ele tinha 20 anos e acabara de se mudar do interior do Ceará para a capital paulista para trabalhar como garçom. Não foi fácil.

Mas foi precisamente naquele momento que ele teve a visão clara de que precisava se planejar financeiramente para evitar passar por algo parecido novamente. “Pensei que quando voltasse a trabalhar eu precisaria me educar financeiramente”, conta, em entrevista à Inteligência Financeira.

Izau disse que nunca gostou de pensar em economizar de forma genérica. Mas sempre pensando em termos de porcentagens. “Comecei a guardar 10% do meu salário. No quinto mês já era 20% e depois eu fui aumentando”, relembra.

Contudo, nesse primeiro momento, seu plano ainda era apenas guardar. Ele deixava o dinheiro parado, sem investir. Trabalhando como garçom em São Caetano do Sul (SP) começou a conversar sobre o assunto com clientes.

Um deles em especial. Fábio Baroni, sócio da Ações Garantem o Futuro (AGF), uma empresa que promove o investimento voltado ao rendimento com dividendos. Esse foi o tema de uma conversa entre os dois no restaurante onde o garçom trabalhava.

Interessado, Izau começou a se informar sobre o investimento em ações e gostou da ideia de ser sócio de empresas. Se tornou um caçador de dividendos.

Ele segue trabalhando como garçom, mas conta que hoje o que recebe de proventos supera 80% do seu salário mensal. Ou seja, a renda de Izau quase dobra graças aos dividendos que recebe.

Aproveita a profissão também para comentar sobre seus investimentos aos clientes, que se tornaram incentivadores da empreitada. “Os clientes começaram a me ver como essa pessoa que pensa no futuro. Na maioria das mesas que eu vou me dão gorjeta e eu compro em ação”, conta Izau.

A estratégia de Izau em busca de dividendos

Na entrevista à Inteligência Financeira, Izau Netto conta que concentra seus investimentos em poucas empresas. Apenas cinco companhias, que ele considera suas “filhas”. “No médio prazo eu não passo disso. São como minhas filhas, eu acompanho todas elas. Eu não conseguiria controlar dez empresas”, diz.

Ele não revela a composição da carteira atual nem o valor exato dos dividendos. O garçom conta, no entanto, que vê a sua trajetória como uma lição de persistência. O primeiro pagamento de dividendos que recebeu foi de apenas três centavos. Em outubro de 2024, recebeu mais de R$ 1,8 mil em apenas um mês.

“Tem gente que pensa que precisa ter R$ 100 mil para entrar no mercado de ações. Eu prefiro esperar chegar nos R$ 100 mil e pensar que eu não precisei colocar tudo isso. Ter colocado R$ 60 mil do meu bolso, mas ter R$ 100 mil, porque o resto vai ter sido dividendo que eu ganhei”, afirma.

Mas se engana quem pensa que o garçom torce para as suas “filhas” se valorizarem.

Pelo contrário, ele espera que a cotação das suas ações favoritas caia, para assim comprar mais ações com menos dinheiro. “Quando eu vejo as ações caindo eu dou risada, que eu compro mais. Eu me frustraria se a ação que eu compro passasse a valer dez vezes mais”, diz.

Izau Netto afirma que reinveste tudo que recebe em dividendos, esperando pelo efeito “bola de neve”.

Dessa maneira, ele conta que não vive uma vida de restrições, que reserva uma quantia do seu salário todos os meses para gastos com lazer e viagens. Contudo, não quer ostentar, acreditando que isso diminuiria o potencial de crescimento dos seus rendimentos.

Dificuldade do buy and hold não é o buy, é o hold

A Inteligência Financeira conversou com Fábio Baroni, o sócio da AGF que incentivou Izau Netto a ser um caçador de dividendos. Baroni falou sobre o princípio que norteia os caçadores de dividendos: buy and hold. Ou em bom português: comprar e reter. Compra as ações não pensando em vendê-las, mas sim em seguir com elas por um bom tempo, recebendo os dividendos.

“O mais difícil do buy and hold não é o buy, é o hold“, afirma o sócio da AGF à reportagem. Ele explica que há muitos investidores que diante de oscilações no valor de mercado das ações acabam por negociá-las. Outros se frustram pelos dividendos baixos no início e acabam desistindo, o que ele lamenta.

“As pessoas desistem porque elas não obtêm os resultados imediatos que a jogatina oferece, por exemplo”, diz Fábio Baroni. “Você tem que se certificar que você quer ser sócio dessa empresa, porque é disso que se trata. Talvez para o resto da vida”, afirma.

O conselho do especialista é a busca por conhecimento. Para entender a estratégia que se quer seguir e tudo que envolve o investimento em ações. Por exemplo, a existência das datas com, aquelas datas que são os prazos finais para que você invista em uma ação e receba determinado dividendo ou Juros sobre Capital Próprio (JCP).

É o que conta Izau Netto. O investidor relembra que muitas pessoas com as quais conversou já perderam pagamentos de dividendos por não se atentarem às datas-bases para montar a posição e receber a bonificação. Essa é uma informação, aliás, sempre listada nas agendas de dividendos publicadas toda semana e todo mês pela Inteligência Financeira.

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