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IPCA-15 foi puxado por reajustes, o que torna leitura positiva, aponta banco Original
O avanço de 0,55% do IPCA-15 em janeiro, um pouco acima da expectativa mediana de 0,52% captada pelo Valor Data, é explicada pela surpresa com os reajustes no setor de comunicação, que anotou inflação de 2,36%, além de uma desinflação mais lenta da alimentação no domicílio e herança da recomposição dos preços de higiene pessoal e planos de saúde, diz análise do banco Original.
“Ainda assim, vemos o headline com bons olhos, já que a surpresa com passagem aérea e combos de TV por assinatura tendem a se dissipar nos próximos meses. Concomitante ao número melhor do que o esperado pela nossa equipe ]que esperava +0,58%, a inflação de serviços gerais segue cedendo e os núcleos também mantém um ritmo bem comportado no tempo”, escreveram os economistas do Original em nota enviada a clientes.
Na avaliação da quipe econômica do Original, o desempenho dos núcleos conversam com a visão de que o IPCA terá “2 atos” este ano. “No primeiro semestre [vemos] o índice arrefecendo, chegando a 3,4% em junho, mas a partir do 2º semestre apresenta uma recomposição de altas atreladas aos atos federais como reajuste de ICMS. Nossas projeções iniciais apontam uma alta de 0,60% para o IPCA cheio de janeiro, equivalente a 5,80% em 12 meses”, afirma a nota do banco.
Em relação ao reajuste de 7,5% anunciado pela Petrobras hoje, os economistas do Original acreditam que “basicamente pega um pouco no IPCA cheio de janeiro, mas como já estamos no dia 24 e a janela é do dia 01 ao dia 31, o maior impacto virá no IPCA-15 e no IPCA cheio de fevereiro”.
Inflação acima do esperado não surpreende economistas
Para economistas, a alta do IPCA não chegou a surpreender. A trajetória de inflação, observada por esses especialistas, é mais benigna em 2023 do que foi nos últimos anos.
“Uma parte importante da leitura de hoje é que quando olhamos as métricas de inflação subjacente, tanto na parte de bens quanto de serviços, vieram ligeiramente abaixo do que a esperávamos. Então, apesar da surpresa altista no índice, ela ficou centralizada em itens que não são núcleos de inflação, que é o que o Banco Central é mais sensível. A desinflação continua aparecendo”, observa a economista do Itaú Unibanco, Julia Passabom.
A economista da Armor Capital, Andrea Damico, também chama a atenção para os núcleos. “Continua uma tendência benigna para a inflação subjacente. A média dos núcleos desacelerou mais um pouco, mantendo o patamar que vinhamos observando”, disse. “os serviços totais, por exemplo, foram impactados por passagem aérea”, acrescentou, dizendo que o item tem característica volátil e exerce menos impacto sobre as decisões de politica monetária.
Gasolina deve impulsionar IPCA de fevereiro, diz FGV-Ibre
Mas o aumento de 7,47% da gasolina nas refinarias da Petrobras, veiculado nesta manhã pela empresa e que entra em vigor amanhã, deve levar a um acréscimo de 0,05 ponto percentual (p.p.) no IPCA em janeiro.
O cálculo foi feito pelo economista e analista de inflação da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz. Na prática, o impacto da gasolina mais cara deve ficar mais para inflação de fevereiro, apurada pelo mesmo indicador, detalhou ainda o especialista.
Para o IPCA de fevereiro, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o acréscimo deve ser de 0,20 p.p., alertou ele. “É um impacto nada desprezível”, reconheceu.
Embora tenha considerado a influência da alta da gasolina como expressiva, na inflação do começo de 2023, ele salientou ainda ser cedo afirmar que o reajuste da Petrobras poderia impulsionar inflação do ano. Isso porque o cenário de preços de combustíveis, no país, é muito volátil, e podem ocorrer reduções no preço do item ao longo de 2023 — que podem, por sua vez, ajudar a puxar para baixo a inflação oficial anual de 2023, ponderou.
Pelo Boletim Focus, do Banco Central (BC), a projeção é que o IPCA suba 5,48% esse ano.
Ao justificar suas projeções, o especialista frisou o grande impacto que a gasolina tem na formação dos indicadores inflacionários de varejo do país. “A gasolina compromete cerca de 5% do orçamento familiar [mensal]”, afirmou ele, lembrando que esse seria o peso do item no cálculo total do IPCA. “Isso significa que a cada um por cento de aumento [no preço] a gasolina influencia a inflação em 0,05 ponto percentual [no IPCA]”, detalhou.
Além de elevar o IPCA, o técnico também projeta impacto, da alta da gasolina, na evolução dos Índices Gerais de Preços (IGPs), calculados pela FGV. Braz informou que o IPC, sub-indicador que representa inflação do varejo e tem peso de 30% no total dos IGPs, deve passar por mesmo impacto do IPCA. “A gasolina tem mesmo peso no IPC que tem dentro do IPCA”, afirmou ele. Ou seja: o aumento do combustível deve levar a acréscimo de 0,05 p.p. no IPC da FGV de janeiro; e de 0,20 p.p. no IPC de fevereiro.
Alta da gasolina pode chegar a 5% na bomba, calcula economista
Ao detalhar o aumento da gasolina autorizado pela Petrobras, Braz lembrou que a alta de 7,47% é no preço nas refinarias. Essa elevação não deve ser levada integralmente nas bombas dos postos de combustível, ressaltou o técnico.
“Esse aumento é na refinaria. Lá, é gasolina tipo ‘A’, não tem mistura de álcool anidro”, disse, lembrando que a gasolina, no país, quando vai para as bombas nos postos é misturada com álcool anidro. Ele calcula que, do aumento anunciado pela Petrobras, isso pode gerar aumento em torno de 5% no preço da gasolina da bomba, paga pelo consumidor final.
Entretanto, mesmo que a alta não seja de 7,47% nas bombas dos postos, a gasolina mais cara é um impacto forte na inflação, admitiu ele, principalmente na do próximo mês.
“Estava no radar [projeções de mercado] possibilidade de reajuste de gasolina. Mas não de quase 7,5%”, comentou ele. “E lembrando que fevereiro é uma inflação com ‘sazonalidade de alta de preços’. Isso porque teremos também no próximo mês aumento de mensalidades escolares”, lembrou ele, recordando que esse tipo de serviço sempre aumenta, nessa época do ano, e ajuda a acelerar inflação do varejo, pelo IPCA e pelo IPC.
Mas Braz reiterou, no entanto, ser muito cedo para quantificar quanto desse aumento, anunciado hoje, poderia impactar a inflação oficial medida pelo IPCA no resultado anual de 2023.
O técnico ponderou que o setor tem muitas variáveis. Ele comentou sobre desoneração de impostos federais em combustíveis, feita na gestão federal anterior e prorrogada por um ano pelo atual governo, o que ajuda a reduzir preço desse produto junto ao consumidor final. Mas salientou que preço de combustíveis, no Brasil, também depende de evolução de mercado externo, no caso, da trajetória de uma commodity, a matéria-prima de todos os combustíveis, que é o petróleo. “Acho muito arriscado mudar projeção de inflação anual [por conta de alta de gasolina] nesse momento”, resumiu.
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