Lazari, do Bradesco, classifica caso Americanas como fraude: ‘Não estava nos modelos de ninguém’

Presidente comentou ainda que 'talvez o banco tenha concedido mais crédito do que deveria'

Octavio de Lazari Junior, ex-CEO do Bradesco (BBDC3; BBDC4) . Foto: REUTERS/Amanda Perobelli
Octavio de Lazari Junior, ex-CEO do Bradesco (BBDC3; BBDC4) . Foto: REUTERS/Amanda Perobelli

O Bradesco (BBDC4) deveria ter restringido as políticas de crédito e o apetite de risco nas carteiras de varejo em 2022 após a inflação elevada de 2021, admitiu nesta sexta-feira (10) o diretor-presidente do banco, Octavio de Lazari Junior, em coletiva de imprensa sobre os resultados do quatro trimestre.

“A inflação elevada desde 2021 gerou uma perda de renda muito mais rápida e forte do que o esperado ao longo de 2022, principalmente com o aumento dos alimentos e combustíveis”, disse.

Inscreva-se e receba agora mesmo nossa Planilha de Controle Financeiro gratuita

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

Para o executivo, isso rendeu um aprendizado. “A lição aprendida é que nesses momentos, que ninguém nunca viveu [pandemia], a gente deve estar sempre um ponto antes da curva”, disse. “Isso para que a gente não observe esse recrudescimento de provisões que foi visto em 2022 e que deve seguir no primeiro trimestre de 2023”.

Ele lembrou ainda que em 2020 os índices de inadimplência estavam baixos ao afirmar que talvez o banco tenha concedido mais crédito do que deveria. Agora, o que o banco deve fazer é arrumar a situação, disse. “E isso a gente arruma”.

O banco revisitou modelos para controlar a inadimplência de pessoa física e pessoa jurídica, destacou Lazari. “Precisamos ajustar e continuar observando, trabalhando a recuperação de crédito.”

Lazari ressaltou ainda que o Bradesco possui importância entre clientes de baixa renda e pequenas empresas e que ele considera esse posicionamento de mercado estrategicamente correto, “mesmo que nesse momento do ciclo estejamos sofrendo mais com a inadimplência.”

“No médio e longo prazos, ele [o posicionamento] se provará mais uma vez correto, logicamente, com os devidos ajustes que estamos promovendo”, completou.

Americanas ‘não estava nos modelos de ninguém’

Octavio de Lazari Junior classificou o caso do Grupo Americanas como uma “fraude” e disse que o caso surpreendeu todo o mercado “não só pelo tamanho da dívida, mas pelos agentes envolvidos”. “É um caso imprevisível, que não estava nos modelos de ninguém”, destacou.

De acordo com o CEO, é preciso tratar o caso de forma pontual. “Quando aconteceu o caso, fomos revisitar todos os processos, governança, como se procede, riscos e todas as operações na carteira”, afirmou aos jornalistas.

De acordo com ele, a partir das regras de governança do banco, a instituição financeira decidiu provisionar 100% de sua exposição ao grupo varejista, de R$ 4,8 bilhões, o que afetou o resultado do último trimestre.

“Entendemos que era melhor fazer o provisionamento integral para deixar esse assunto no passado, sem discuti-lo ao longo de 2023”, falou. “Foi uma decisão correta e coerente.”

Lazari afirmou que o objetivo “é resolver a situação e dar condições para a empresa se manter viva, não só pelo risco conosco, mas com todos fornecedores e funcionários”. Ele relatou que aguarda as etapas da negociação, mas ponderou que, por enquanto, “não há qualquer sinalização de como será resolvido”.

Questionado sobre impactos financeiros em outras empresas, como Oi e Marisa, o presidente do Bradesco disse que o banco tem provisões adequadas. “O banco está bem preparado para qualquer problema que podemos enfrentar pela frente.”

‘Temos que buscar um resultado melhor do que estamos trazendo’

O diretor-presidente do Bradesco disse que o banco deve buscar “um resultado melhor do que está trazendo”. Em outro momento, afirmou que os estão abaixo do que eles gostariam de entregar aos acionistas. “Estamos trabalhando para melhorar o mais rápido possível”, disse.

O executivo foi questionado sobre a expectativa de apresentar um retorno sobre o patrimônio (ROE) de 18% até 2024. Para ele, a meta é possível de ser atingida, considerando que o banco “sempre deu retornos próximos ou acima de 18%”

No quarto trimestre de 2022, porém, o retorno ficou em 3,9%. No ano completo, chegou a 13,1%.

O banco, diz Lazari, se viu “numa situação estrutural e conjuntural” que comprometeu o desempenho no ano passado. O guidance do banco para 2023, segundo o executivo, está “bem crítico”, no sentido de ser bem realista.

De acordo com o presidente, o banco vai monitorar impactos de capital na hora da definição do pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) – sobre isso, a intenção é que o cenário base seja utilizado.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


VER MAIS NOTÍCIAS