Notícia falsa fez S&P 500 ganhar, e depois perder, US$ 2,4 trilhões em 23 minutos

Valor supera o PIB do Brasil em 2024; notícia dizia que Trump considerava suspender tarifas a países por 90 dias

Em uma segunda-feira (7) maluca para os mercados financeiros, uma notícia falsa fez o principal índice de ações do mundo, o S&P 500, subir US$ 2,4 trilhões e, depois, quando desmentida, apagar os ganhos imediatamente, caindo US$ 2,5 trilhões. Tudo isso em 23 minutos.

Para se ter uma ideia do que isso significa, o PIB do Brasil em 2024, que é soma de todas as riquezas produzidas pelo país no ano passado, ficou em US$ 2,179 trilhões.

No fim das contas, o índice S&P 500 que chegou a entrar em “bear market” pela manhã, ao marcar uma desvalorização de 20% em relação ao seu pico, encerrou o pregão com recuo modesto de 0,23%, aos 5.062,25 pontos.

Como essa história começou

A história começou ainda pela manhã, quando uma manchete passou a circular nos telefones celulares dos operadores americanos. Dizia mais ou menos assim: “HASSETT: TRUMP ESTÁ CONSIDERANDO UMA PAUSA DE 90 DIAS NAS TARIFAS PARA TODOS OS PAÍSES, EXCETO A CHINA”.

Keven Hassett é o nome do diretor do Conselho Econômico Nacional dos Estados Unidos.

Mas na verdade, o representante do governo não falou nada isso.

Hasset havia concedido uma entrevista ao programa matinal “Fox & Friends”, do canal de televisão conservador Fox News e, sim, falou sobre Trump e tarifas. Mas sua declaração foi quase uma não resposta à questão a ela formulada.

O programa acontece antes da abertura do mercado. Nele, o entrevistador questionou ao representante do governo se Trump consideraria uma pausa de 90 dias nas tarifas, como sugerido no X por Bill Alckman, uma celebridade entre os gestores de hedgefunds de Wall Street.

Hassett, então, disse apenas:

“Acho que o presidente vai decidir o que o presidente decidir. Há mais de 50 países em negociação com o presidente”. E encerrou o assunto.

Fake news espalhou com pólvora

Não se sabe quem, então, teria transformado a fala de Hasset numa afirmação.

A notícia foi passando de celular para celular até que uma conta anônima do X, chamada de Walter Bloomberg, com quase 1 milhão de seguidores, mas sem nenhuma ligação com a empresa de mídia Bloomberg, repostou a manchete.

Esse perfil é seguido por traders que não têm dinheiro ou não topam pagar pelo acesso ao terminal da Bloomberg. Ele se notabilizou por colocar lá as manchetes do terminal com um pequeno delay.

Um âncora da rede de televisão CNBC leu a notícia ao vivo no ar, antes de avisar os espectadores que, “tentaremos obter a fonte de onde veio (a informação)”.

Em seguida, a Reuters enviou a mesma notícia por meio de seus canais, mas atribuindo-a à CNBC.

Instantes depois, um porta-voz da Casa Branca desmentiu a história. Disse que Trump não estuda uma pausa de 90 dias nas tarifas.

A rede de televisão CNBC se desculpou.

“Enquanto estávamos perseguindo as notícias dos movimentos do mercado em tempo real, exibimos informações não confirmadas em um GC (inserção em texto na tela do vídeo) . Nossos repórteres rapidamente fizeram uma correção no ar”, publicou a rede de televisão.

A Reuters também se desculpou. Disse que retirou a reportagem do ar e lamentou o erro.

E, assim, o conto de fadas da bolsa que desceu ao fundo do poço para depois subir aos píncaros da glória virou pó. A exemplo de alguns ativos do mercado nos últimos dias.

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