O que disseram os CEOs de Bradesco, Santander e Itaú sobre 2025. E o que o mercado entendeu

Empresas citadas na reportagem:
Os maiores bancos privados do país abriram a temporada de balanços do final de 2024 entregando o que se esperava deles: aumento de rentabilidade no Santander (SANB11), dividendos generosos do Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) diminuindo os calotes.
Banco | Lucro do 4º tri/24 | Projeção do mercado |
Santander | R$ 3,855 bi | R$ 3,75 bi |
Itaú | R$ 10,88 bi | R$ 10,88 bi |
Bradesco | R$ 5,4 bi | R$ 5,34 bi |
Porém, todas as atenções do mercado estavam no que os principais executivos dos bancos tinham para dizer sobre 2025 (e além).
No conjunto, o recado foi muito parecido: crescimento de um dígito do crédito, foco nas linhas mais seguras, controle da qualidade das carteiras e porta aberta para previsões melhores, se o ambiente macro melhorar.
Faz sentido. Com o PIB perdendo força, a inflação acelerando para perto de 6% ao ano e a Selic rumando para cima de 15% anuais, o pico em quase duas décadas, os discursos foram coerentes
Mas considerando o momento de cada um, esses comentários ecoaram de formas bem distintas nos ouvidos de analistas e investidores.
Santander: analistas duvidam de mais melhoras em ano difícil
Considerando apenas os resultados do quarto trimestre de 2024, o do Santander foi o que entregou lucro recorrente mais acima das previsões.
Além disso, o maior banco estrangeiro no País teve salto anual de 5 pontos na rentabilidade sobre o patrimônio (ROE), que chegou a 17,6%.
Nada mau, considerando o aperto que enfrentou nos últimos anos, como resultado de safras de crédito do pós-pandemia que se deterioraram rapidamente.
Desde então, sob liderança de Mario Leão, o banco se reposicionou, passando a apostar mais em clientes de alta renda, pequenas empresas e agronegócio.
Enquanto isso, nos segmentos massificados, o Santander aprendeu com os bancos digitais e ofereceu justamente essa abordagem.
“Prefiro ganhar eficiência e ser mais rentável do que ser maior”, disse o executivo a jornalistas.
Nesse sentido, Leão revelou o lançamento (para abril) do super app para unificar o atendimento a variados públicos do banco, a exemplo do que fez o Itaú.
O balanço do quarto trimestre foi mais uma colheita dessa virada: o banco voltou a ganhar mercado em cartões, é líder no financiamento de veículos.
De quebra, o nível de inadimplência acima de 90 dias do Santander ficou estável pelo quinto trimestre seguido.
Bom? Sim. As ações chegaram a disparar 7% no dia do resultado. Analistas, porém, preferem esperar um pouco mais, porque a melhora até aqui já está no preço. “O cenário está piorando; permanecemos neutros por enquanto”, afirmou o BTG Pactual.

Itaú: dividendo extraordinário é o novo normal
Alguns analistas chamam o Itaú de relógio suíço, tal a frequência com que entrega resultados em linha com as previsões.
“Alguns acham boring, mas é isso o que fazemos”, disse o presidente-executivo, Milton Maluhy Filho, ao apresentar o lucro do quarto trimestre, que coincidiu com as estimativas dos analistas na segunda casa depois da vírgula.
Segundo o executivo, isso resulta da agilidade do Itaú para reagir a diferentes cenários e entregar crescimento independentemente do cenário econômico.
Essa flexibilidade agora aumentou, disse ele. Para, então, emendar: “O banco nunca esteve tão preparado para entregar resultado, independente do cenário”.
Nesse sentido, alguns analistas, como do BTG Pactual e do Goldman Sachs, já preveem alta de cerca de 10% do lucro do Itaú em 2025, para R$ 45 bilhões.
O que Maluhy Filho sinalizou que vai entrar na rotina é a frequência de proventos adicionais polpudos.
“Se pagamos dividendos extraordinários todo ano, eles deixam de ser extraordinários”, argumentou.
Em 2024, entre remuneração ordinária, adicional e recompras de ações, o Itaú ofereceu R$ 28,7 bilhões aos seus investidores, ou 69% do lucro.
“Vamos continuar distribuindo dividendos relevantes”, afirmou o executivo.

Bradesco: mercado parece querer mais do que só o ‘passo a passo’
Step by step é o mantra do presidente-executivo do Bradesco, Marcelo Noronha, desde que ele assumiu o posto, no final de 2023, com a missão de alinhar a cultura e a gestão do banco aos pares do mercado.
Novamente, ele repetiu essa frase inúmeras vezes na divulgação dos resultados consolidados de 2024.
Embora o lucro do exercício tenha crescido 20%, os R$ 19,55 bilhões ainda estão distantes do recorde de R$ 26,2 bilhões de três anos antes, quando o banco começou a colher os efeitos de safras ruins de crédito, o que vergou a rentabilidade do Bradesco para metade dos níveis de rivais.
A rentabilidade já melhorou, porque sua própria base de comparação era muito baixa.
Banco | Rentabilidade sobre o patrimônio líquido anualizado (ROE) no 4°T/24 |
Bradesco | 12,7% |
Santander | 17,6% |
Itaú Unibanco | 22,2% |
Para 2025, o Bradesco ofereceu um conjunto de previsões propositalmente conservadoras. A carteira, por exemplo, deve crescer metade do que no ano anterior.
Com isso, investidores começaram a se perguntar quando o Bradesco voltará a lucrar em pé de igualdade com Itaú e Santander. Ou, ao menos, alcançar um ROE superior a 15%.
Um analista fez essa pergunta para Noronha durante a apresentação dos resultados mais recentes.
O mercado pareceu não ter apreciado ver Noronha repetir seu bordão: BBDC4 fechou o pregão em queda de 4%.
Segundo o Wall Street Journal Markets, dos 13 analistas internacionais que acompanham as ações do Bradesco, 8 têm recomendação ‘manter’. Um recomenda ‘vender’ e, os outros quatro, ‘comprar.

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