Os desdobramentos da invasão da Rússia à Ucrânia devem trazer muita volatilidade ao mercados globais e afetar principalmente o comportamento dos ativos de risco, como as ações. Na avaliações de especialistas, o importante para o investidor no momento é acompanhar como reagirão os países ocidentais: se optarão pelas sanções econômicas, como já vêm adotando, ou darão um passo na escalada e adotarão respostas bélicas. “Um cenário de guerra, qualquer que seja a intensidade e o prazo, é péssimo nesse instante em que o mundo tenta se recuperar da pandemia de covid-19. Nossa primeira análise é que o momento demanda atenção, mas sem movimentos precipitados nas carteiras. Pensamos que não é a hora de vender a qualquer preço.”, destaca em relatório o time de estrategistas da Órama Investimentos.
Pelo lado econômico dos efeitos da guerra no leste europeu, os analistas da Órama consideram que a inflação é a ponta mais visível, uma vez que os preços da energia serão afetados. O cenário tende a dificultar a atuação dos bancos centrais, como o brasileiro, que pode subir ainda mais a taxa Selic diante do prolongamento da pressão inflacionário. “Por enquanto, até termos mais informações, sugerimos cautela na exposição ao risco. Nesses momentos adversos fica ainda mais evidente a importância da diversificação das carteiras e das proteções”, acrescentam.
Olhando para os setores da bolsa brasileira e as empresas listadas na B3, o time de estratégia do Itaú Unibanco avaliou as potenciais implicações do conflito. As companhias de commodities têm uma possibilidade maior de valorização, enquanto as aéreas e de transporte, além de alimentos e bebidas, podem ser impactadas negativamente com o aumento de preços nos mercados globais.
Confira os destaques da análise do banco:
Petróleo e gás: “Os preços de petróleo devem continuar em alta, dado que a Rússia é uma das principais produtoras globais da commodity. PetroRio e 3R são as ações que devem se beneficiar desse cenário. Já as implicações para a Petrobras não são tão diretas, uma vez que há uma preocupação na capacidade da empresa de repassar esse aumento para os preços dos combustíveis.”
Agronegócio: “Os preços dos grãos também devem subir. Nossa escolha no setor é a SLC Agrícola, grande produtora de algodão, milho e soja. A Rússia e Ucrânia são grandes produtoras de trigo e milho, respectivamente.”
Mineração e siderurgia: “Neste segmento, acreditamos que a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) deve se beneficiar, uma vez que a Rússia representa cerca de 6% da produção global de alumínio.”
Transportes: “Do lado negativo, companhias aéreas devem ser prejudicadas com a elevação dos preços do petróleo, dado que empresas como Azul e Gol têm uma parte relevante de seus custos associados aos preços dos combustíveis.”
Alimentos e Bebidas: “Dentro de nossa cobertura, esperamos implicações negativas para M. Dias Branco, que possui cerca de 45% de seus custos de bens vendidos ligados ao trigo. Além disso, a BRF também deve sofrer com preços do milho, pressionando seus custos, mais do que compensando potencias aumento nos preços de aves. Nosso time de alimentos e bebidas publicou essa semana um relatório com mais detalhes nas principais implicações para as empresas do setor.”
Varejo: “No setor de varejo, esperamos um impacto negativo para Natura &Co, dado que a Avon Internacional tem cerca de 50% de suas vendas na região do Leste Europeu e uma grande parcela dessas vendas é vinda da Rússia. Apesar de a Avon representar cerca de 10% do resultado operacional (Ebitda) total da Natura &Co (de acordo com as estimativas de nossos analistas de varejo para 2022), o ganho de margens do guidance (projeção) da empresa depende significativamente da melhora na divisão internacional da Avon.”
Outros setores: “Setores que não possuem impacto relevante direto com o conflito militar e que podem ser mais defensivos: atacarejo, shoppings, telecom, grandes bancos e utilities, que engloba indústrias de serviços essenciais como água, gás e energia.”