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Recompra de ações e juros altos: o que está mudando no mercado financeiro?
Depois de mais de um ano de aperto monetário agressivo no mundo, ou seja, de taxas de juros altas, enclausurando o crescimento econômico em prol do controle da inflação, a inflação no mundo finalmente dá sinais consistentes de queda.
A política monetária começou a se tornar eficaz quando os bancos centrais abandonaram a ficção da inflação “transitória” e mantiveram credibilidade suficiente para responder com eficácia.
Já aqui no Brasil, esta dinâmica foi muito rápida, resiliente às críticas políticas, e conseguiu exercer seu papel de controlar e ancorar as expectativas.
Bancos centrais mantêm o aperto monetário
Porém, fora do Brasil nem tanto. Ainda vemos os bancos centrais precisando manter o aperto monetário – o que nos leva a pensar que a economia mundial ainda não está fora de perigo.
Embora os números recentes sejam encorajadores, reduzir a inflação representa apenas uma parte do processo de recuperação pós-pandemia. Apesar da tendência de inflação ser de queda, ainda não está claro se essas tendências irão persistir.
Mas temos um outro sinal positivo de recuperação da crise mundial, vindo do ambiente corporativo.
Como funcionam as recompras de ações
Os maiores compradores de ações nas bolsas americanas não são fundos de pensão ou os investidores sardinhas. O que domina o mercado de ações nos EUA são as próprias empresas que recompram suas ações.
Quando as grandes empresas lucram, existem algumas possibilidades do que fazer com o lucro. Uma muito conhecida é o pagamento de dividendos. Outra mais popular no mercado americano são as recompras de ações.
As recompras de ações diminuem a quantidade de ações daquela empresa em circulação. Portanto, isso agrada muito os acionistas porque tem um efeito imediato de alta no preço da ação. Isso porque a mesma torta cortada em menos fatias deixa cada fatia maior, então proporcionalmente, diminuir a quantidade de ações em circulação aumenta o lucro por ação.
Como nos EUA os dividendos são tributados, as recompras de ação são uma maneira mais eficiente da empresa de devolver os ganhos do negócio aos acionistas.
O problema é que ao optar por essa prática, as empresas lidam com um dilema, um trade-off. Cada escolha é uma renúncia. Ao escolher recomprar ações, as empresas deixam de usar os lucros para criar novos empregos, novas tecnologias e por aí vai.
Questionamento sobre a prática
As recompras de ações nos EUA atingiram um patamar recorde em 2022, mesmo quando o Congresso Americano votou para implementar um imposto de 1% sobre elas.
Existem muitas críticas sobre arbitrar o preço das ações por uma prática de recompra. Porém não é o foco aqui. O que cabe dizer aqui é que não é um imposto que fará a função de desestimular a prática.
A verdade é que nenhuma empresa vai investir seus lucros em expansão se não houver uma perspectiva positiva nos negócios. É uma função de reação. Então, é melhor pagar o imposto de 1% do que entrar numa furada.
O que as empresas fazem com o dinheiro
No mundo ideal, as empresas reinvestiriam seus lucros para contribuir na mudança climática, para evitar as crises do futuro.
Mas, na realidade, as empresas estão buscando identificar quais áreas de inovação, de pesquisa e investimento ajudariam seus negócios.
Uma análise superficial sobre o crescimento de um negócio diria que mais investimento é bom e menos investimento é ruim.
Porém, empresas responsáveis não investem à toa. É muito melhor para as companhias devolver o dinheiro ao acionista (seja na forma de recompra de ações ou de pagamento de dividendos) do que jogar fora em projetos de estimação ou em tendências ainda não comprovadas, como a enorme aposta que a Meta fez com o metaverso.
Cenário atual
O lado positivo é que para 2023, os analistas começam a vislumbrar uma queda nas recompras – e não por causa do novo imposto.
Não que as recompras provavelmente saiam de moda tão cedo, já que as maiores empresas do S&P500 possuem capacidade total de US$ 1, 2 trilhão em autorizações não utilizadas para fazerem recompras.
Apesar disso, houve uma queda nas recompras impulsionada principalmente por empresas menores – e ocorre após um ano recorde de onda de compras. Já as grandes empresas do S&P 500 cortaram em 4% se comparado a 2022.
É uma pequena luz no fim do túnel. Uma vela, eu diria, mas algo importante a se observar daqui para frente. Só haverá reinvestimento em novos projetos se a perspectiva for promissora. E isso é um indício de não recessão econômica.
Já sabemos que há uma corrida pela inteligência artificial, o que faz com que as empresas se empenhem em investir nessa tecnologia. Mas nem todas as empresas são de tecnologia.
Quando começarmos a ver dados mais contundentes mostrando uma tendência de redução da recompra de ações, mudando os ventos para o investimento em expansão dos negócios, teremos aí um sinal de que as empresas estão arriscando a própria pele, acreditando na recuperação econômica.
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