Santander capta R$ 7,6 bilhões em letras financeiras; o que isso significa exatamente?
Bancos recorrem a esse instrumento pra fortalecer a reserva de capital, o que também é positivo para os investidores
O Santander (SANB11) anunciou nesta sexta-feira (6) que captou R$ 7,6 bilhões em letras financeiras subordinadas perpétuas com investidores profissionais.
Os papéis possuem opção de recompra a partir de 2029. Os recursos ajudarão a reforçar o capital de nível I do banco.
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Mas o que é letra financeira e capital de nível 1? Por que os bancos fazem isso e o que isso tem a ver com o investidor?
Letra financeira é um título de renda fixa emitido por instituições financeiras para captar recursos de longo prazo.
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Trata-se de um instrumento comum no mercado. Segundo dados do Banco Central, há cerca de R$ 150 bilhões em letras financeiras no mercado.
Lógica das letras financeiras
Para o banco, a operação tem dois objetivos:
- Captar recursos de longo prazo, dando solidez à empresa
- E ‘otimizar’ a estrutura de capital.
Dá solidez porque o banco passa a ter certeza de que terá aquele dinheiro por bastante tempo.
Portanto, isso lhe dá conforto para fazer planos de longo prazo.
Contudo, ao contrário das captações regulares que um banco faz no mercado, as letras financeiras têm uma finalidade diferente.
Ao contrário do que acontece com CDBs e poupança, que o banco usa como lastro para fazer empréstimos a outros clientes, ele não pode mexer nos recursos da LF.
Isso porque eles servem como um colchão de proteção que os bancos são obrigados a ter para se protegerem de riscos (operacionais, de mercado, etc).
Internacionalmente, há uma convenção desde 1988 que define quanto cada instituição deve ter nessa reserva, o chamado índice de Basileia.
O Brasil aderiu ao ‘Acordo de Basileia’ em 1994.
O índice é uma proporção do patrimônio do banco. No caso brasileiro, o índice é de 11%, acima do índice global mínimo de 8%.
Mas o cálculo do indicador é calibrado a depender do nível de risco das operações da instituição.
Por que o banco emite LF e não usa o próprio dinheiro?
Aqui entra em cena a ‘otimização do capital’, que quer dizer o melhor uso possível do dinheiro.
Os bancos podem e frequentemente usam uma parte dos lucros que geram todo ano para reforçar seus níveis de capital 1.
Ou seja: quanto mais se cresce, aumenta a reserva de proteção para ficar equivalente ao tamanho do negócio.
Entretanto, como os recursos de capital não entram na operação para fazer o banco ganhar dinheiro, eles não dão a rentabilidade esperada pelo investidor.
Então, faz mais sentido ‘trabalhar o dinheiro’, seja reinvestindo no negócio ou devolvendo para os investidores na forma de dividendos.
E o dinheiro que precisa para reforçar a reserva de capital o banco capta por meio das letras financeiras, que tem um perfil mais de renda fixa.
Letra financeira: como funciona para o investidor
Para o investidor, as letras financeiras são papéis de menor risco do que ações, mas que oferecem rentabilidades mais atrativas do que um título público, por exemplo.
Em troca, o comprador desses papéis se compromete a ficar com o ativo por um período longo. No caso, pelo menos cinco anos.
As emissões ‘perpétuas’ têm esse nome porque podem continuar no mercado, pagando a taxa combinada por ano.
Isso, até que o emissor ou o comprador decida pelo resgate, o que neste caso não acontece antes de cinco anos.
Devido às características desse tipo de emissão, como a carência, ela normalmente é direcionada apenas para investidores profissionais, que são aqueles que possuem investimentos financeiros em valor nominal superior a R$ 10 milhões.