- Home
- Onde investir
- Investir no Exterior
- Temporada de balanços nos EUA: veja o que esperar de Bank of America, Goldman Sachs, Tesla, Netflix e outras
Temporada de balanços nos EUA: veja o que esperar de Bank of America, Goldman Sachs, Tesla, Netflix e outras
Na sexta-feira (13), tivemos o início da temporada de divulgação de balanços nos Estados Unidos (EUA), conhecida como Earnings Season, quando as empresas publicam seus balanços e demonstrativos de resultados.
Nesse período, elas anunciam ao mercado seus lucros, prejuízos, custos, despesas, fluxo de caixa, entre outros. É uma declaração pública oficial da empresa sobre o momento vivido pela companhia e eventuais perspectivas para o futuro.
Na terça-feira (17) serão divulgados os balanços de Bank of America (BOAC34) e Goldman Sachs (GSGI34). Na quarta (18), os destaques são Morgan Stanley (MSBR34), Netflix (NFLX34) e Tesla (TSLA34).
O que são os arquivos 10-Q e 10-K?
As empresas públicas são obrigadas a apresentar o relatório chamado 10-Q (trimestral) e o 10-K (anual) à Securities and Exchange Commission (SEC, equivalente americana à nossa CVM). Os principais componentes do 10-Q incluem a demonstração de resultados, o balanço patrimonial, a demonstração dos fluxos de caixa e os comentários da administração.
Não supervalorize os números apresentados
É importante ressaltar que os balanços e números apresentados se referem ao período que vai de 30 de junho de 2023 a 30 de setembro de 2023.
Ou seja, trata-se de um retrospecto da empresa, englobando vendas e lucros que já ocorreram, sem garantia de repetição.
Por que a Earnings Season é um evento importante?
Porque fornece uma imagem de como a empresa tem se comportado no cenário atual e quais são seus planos e pensamentos para o futuro. Juntamente com os lucros passados, muitas empresas apresentam previsões (guidance) sobre seus resultados futuros e/ou realizam reuniões públicas, nas quais a diretoria da empresa se comunica com o público.
A Earnings Season é amplamente aguardada pelos analistas de mercado, que buscam fazer várias projeções sobre os números da empresa. Com a divulgação pública desses números, eles podem comparar se suas estimativas estão alinhadas ou não. Essa comparação (expectativa vs. realidade) tende a gerar impactos nos preços das ações.
No mercado de capitais, frequentemente trabalhamos com base em expectativas, e, por isso, números acima ou abaixo das expectativas de mercado tendem a causar fortes oscilações nos preços das ações.
Como posso acompanhar essa divulgação?
Você acompanha os resultados das principais empresas listadas nas bolsas em Nova York aqui no site da Inteligência Financeira.
O que esperar dessa safra de balanços?
Em termos gerais, os analistas que cobrem o mercado nos EUA esperam um modesto crescimento de receita da ordem de 1,7%. Considerando que o último dado de inflação foi de 3,7%, podemos dizer que as empresas não conseguiram repassar o aumento de preços para seus produtos e serviços.
Além disso, o terceiro trimestre de 2022 (base de comparação) é o trimestre no qual começamos a observar uma desaceleração mais acentuada na economia americana, então podemos afirmar que as expectativas estão baixas para essa safra que está começando.
E se as receitas crescem pouco, a expectativa para os lucros é uma contração de 0,3% em comparação com o terceiro trimestre de 2022. Os lucros tendem a seguir essa tendência devido aos maiores custos com mão de obra, que provavelmente tiveram um crescimento maior em relação às vendas. Se essa contração se confirmar, será o quarto trimestre consecutivo de redução dos lucros.
Segundo dados da FactSet, das 118 empresas do S&P 500 que emitiram previsões para o terceiro trimestre de 2023, 64% foram pessimistas e 36% mais otimistas. Portanto, essas previsões mais negativas ajudam a entender os números mencionados acima.
Expectativa x realidade
Por outro lado, temos observado a economia americana surpreender em termos de sua resiliência ao crescimento. De acordo com o Bank of America, desde 1950, o crescimento dos lucros trimestrais normalmente supera o crescimento do PIB em 1,5 pontos percentuais. É verdade que isso não ocorreu nos últimos cinco trimestres, à medida que a economia pós-pandemia se mostra diferente, com um foco cada vez maior em serviços e tecnologia em detrimento de bens.
Então, se a economia está demonstrando força, será que não veremos isso refletido nos números agora? Essa questão, juntamente com expectativas modestas, pode fazer com que surpresas positivas tenham um impacto positivo no mercado. Até o momento, algumas empresas já divulgaram seus números.
De acordo com o Wells Fargo, 18 das 21 empresas que divulgaram seus resultados até quinta-feira (12) superaram as estimativas de lucro por ação. Foi o caso, por exemplo, da Pepsi (PEPB34), que divulgou seus resultados na semana passada e surpreendeu o mercado com aumentos de preços que foram suficientes para impulsionar as vendas, contribuindo para margens de lucro que aumentaram mais do que o esperado.
Embora as expectativas para o trimestre não apontem números muito fortes, olhando para o futuro, alguns indicam crescimento nos lucros, apesar das preocupações com a desaceleração da economia e uma possível recessão à frente.
Setorialmente pode haver surpresas
Os bancos e o setor financeiro são os primeiros a divulgarem seus números. Mais de 40% das empresas do S&P 500 que divulgarão seus resultados nas próximas duas semanas fazem parte deste setor.
No caso dos bancos, as taxas de juros mais altas elevam o custo de captação de depósitos – os clientes tendem a preferir depósitos em produtos que geram remuneração (fundos Money markets ou CDs), em vez de deixar os recursos em conta corrente, o que gera receita de “floating” para os bancos.
As taxas mais altas também devem mostrar desaceleração nos volumes de empréstimos, e a perspectiva de uma possível deterioração econômica deve gerar aumento de provisões para devedores. Além disso, as atividades de mercados de capitais (Fusões e Aquisições, IPOs e emissões de dívida) também estão ocorrendo mais lentamente.
Em suma, os bancos tendem a refletir esses diversos fatores de pressão em seus números. Já no segmento de seguros, maiores taxas de juros podem se traduzir em melhores resultados devido à remuneração do capital que as empresas precisam deixar alocado rendendo a taxas mais elevadas.
O setor de energia/petróleo deve continuar apresentando quedas nos lucros, uma vez que a cotação média do petróleo aplicada no 3T22 foi maior do que no 3T23. Além disso, a pressão dos custos e dos salários deve continuar afetando seus números. De maneira semelhante, outras empresas de materiais básicos podem apresentar declínios nos lucros devido a preços de commodities mais baixos, pressões de custos e demanda mais fraca do que o esperado pela China.
No espectro da tecnologia, temos diferentes vertentes. Para o setor de tecnologia da informação, as previsões indicam um crescimento de lucros na ordem de 4,6%. Este é um segmento que conta com empresas como Nvidia (NVDC34) e Intel (ITLC34), como as maiores contribuintes (com maior peso no segmento). Já para serviços de comunicação, que conta com empresas como Meta (META) e Google (GOGL34) como as maiores contribuintes, as estimativas apontam um crescimento do lucro por ação de mais de 30%, devido à fraca base de comparação.
Estima-se que o segmento de saúde deva apresentar uma queda anual de lucros de quase 12%, ainda sofrendo com menores vendas de vacinas contra a Covid. Moderna (M1RN34) e Pfizer(PFIZ34), que foram fortemente impactadas pelas vendas de vacinas, devem contribuir mais para essa queda.
O setor de mídia, por exemplo, enfrentou uma greve de roteiristas que atrasou entregas e projetos relevantes, e isso deve se refletir neste trimestre.
Da mesma forma, mas de forma mais recente, nos resultados das fabricantes de veículos, a questão da greve também deve ser foco, mas neste caso, olhando para o futuro e tentando entender o quão perto ou longe estão de um desfecho final e do fim da greve.
O setor industrial sofreu revisões de estimativas de lucros, especialmente devido aos dados mais fracos de produção industrial, greves e pedidos mais fracos no setor de aviação.
As próximas semanas serão muito importantes e têm potencial para movimentar o mercado e, principalmente, os seus investimentos.
Leia a seguir