Stuhlberger, da Verde Asset, fala sobre Americanas (AMER3): ‘Maior fraude da história’

Em carta mensal, a casa disse que o processo de recuperação judicial da varejista será longo e ruidoso e os únicos ganhadores 'serão os advogados envolvidos'

Luis Stuhlberger, da Verde Asset — Foto: Silvia Costanti / Valor
Luis Stuhlberger, da Verde Asset — Foto: Silvia Costanti / Valor

Passado quase um mês que o caso das inconsistências contábeis da Americanas (AMER3) estourou, a Verde Asset não economiza palavras para expor a sua indignação na sua carta mensal. O time de gestão, liderado por Luis Stuhlberger e Luiz Parreiras, escreve que a gestora foi “vítima de uma fraude”.

Embora tenha tido um prejuízo relativamente pequeno com a exposição aos papéis de dívida da varejista – de 14 pontos-básicos na cota do seu principal multimercado -, a casa fez questão de dividir com seus investidores as justificativas para o investimento e as reflexões que fez acerca do episódio, que tende a ser amplamente discutido pela Justiça.

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“Beira o inacreditável que somente 23 dias após o fato relevante, que alguém da companhia, seja na área financeira, seja na alta gestão, tenha sido afastado. Temos a maior fraude da histórica corporativa do Brasil, um buraco de mais de R$ 20 bilhões, e a gestão financeira da companhia (com exceção da recém-empossada CFO) continuou sendo feita pelas mesmas pessoas durante todo o período seguinte.”

Os gestores afirmam que têm como dever buscar falhas no processo de investimento e aprimorá-lo a partir dos aprendizados desse caso. “Mas estávamos falando de uma companhia com longo histórico, controlado por três acionistas considerados (até então) os melhores gestores de negócios do país, e com balanços auditados por uma das principais empresas do setor”, escrevem.

Para eles, o processo de recuperação judicial será longo e ruidoso e os únicos ganhadores serão os advogados envolvidos. Avaliam que quanto mais tempo demorar, menor a chance de alguma recuperação relevante para a companhia, funcionários, fornecedores, credores e acionistas. “Os três controladores da companhia, diante da escolha entre aportes para reparar um pedaço substancial da fraude, ou preservar sua reputação/legado, têm ficado silentes, mas claramente escolheram a opção financeira.”

O fundo Verde investe em crédito, tanto no mercado brasileiro quanto globalmente, há pelo menos 15 anos, e no mercado local, construiu ao longo dos últimos sete anos uma estratégia focada em crédito “high yield”, de maior risco e potencial de retorno, que pelos bons resultados e diversificação de risco ganhou relevância e capital dentro do portfólio.

Dentro desta estratégia, ocasionalmente a asset faz posições em papéis de companhias de perfil “high grade”, de melhor qualidade, quando identifica algum prêmio em relação aos pares, como foi o caso com Americanas.

O primeiro investimento em debêntures da varejista foi em maio de 2020, no auge da volatilidade dos spreads de crédito por conta da chegada da pandemia. Os títulos foram adquiridos a CDI mais 3%, com vencimento em três anos, e vendidos cinco meses depois a CDI mais 1,5%. Em outubro do mesmo ano, a Verde fez outra alocação pequena numa emissão de dez anos, indexada ao IPCA, usada para internalizar recursos de uma captação externa. Comprou os ativos a IPCA mais 7,40%, e três meses depois vendeu no secundário a IPCA mais 5,51%.

Tinha dado tudo certo até o investimento feito em junho de 2022, numa emissão de R$ 2 bilhões a CDI mais 2,75%, com vencimento em 11 anos. “Decidimos investir por considerar que havia um excesso de spread em relação a empresas comparáveis e ao próprio histórico da companhia”, escreve a Verde, citando que na análise do balanço havia um endividamento líquido de menos de três vezes o Ebitda. “E, infelizmente, como todo o mercado brasileiro, fomos surpreendidos pela notícia divulgada pelo recém-empossado CEO da companhia, Sérgio Rial, no dia 11 de janeiro, que causou um colapso no preço das ações, bonds e debêntures da companhia, e levou poucos dias depois, ao pedido de recuperação judicial.”

A asset, em conjunto com outros debenturistas, vai exercer seu dever fiduciário de preservar o melhor interesse dos cotistas, avisa.

A despeito deste mau negócio, o fundo Verde fechou janeiro com valorização de 2,74%, em comparação a 1,12% do CDI. Teve ganhos nas posições de commodities, especialmente ouro, na parcela comprada no real, em posições de juros globais e em inflação implícita no Brasil. Já as perdas vieram da posição de bolsa no Brasil e do livro de crédito local, devido ao caso Americanas.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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