Análise: como as novas críticas de Bolsonaro podem afetar a Petrobras
Falas do presidente aumentam incertezas de investidores
O mercado previa um lucro de R$ 40 bilhões para a Petrobras no primeiro trimestre de 2022, e a estatal divulgou, na noite de ontem, um resultado de R$ 44,56 bilhões. Entre a expectativa e a confirmação, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar a política de preços e o lucro “excessivo” da petroleira. Tudo aconteceu durante a live semanal do presidente, um pouco antes do anúncio formal da companhia. Mais uma vez, o principal representante da União, controladora da companhia, coloca a governança em xeque e dissemina incertezas quanto à condução da política de preços.
Na transmissão de ontem, Bolsonaro afirmou, sem citar fontes, que a Petrobras teve “um lucro de R$ 40 bilhões”. Esse montante já era esperado pelo mercado, conforme projeções de bancos consultados pelo Valor. Momentos depois da fala, com a live já encerrada, a companhia anunciou lucro líquido de R$ 44,56 bilhões no primeiro trimestre, alta de 3.718%. O presidente classificou o lucro da empresa com “um crime inadmissível”, no momento em que a alta dos combustíveis pressiona a inflação em pleno ano eleitoral.
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As declarações de Bolsonaro envolvendo a companhia são frequentes. E volta e meia reacendem a discussão sobre os deveres do controlador de uma empresa de economia mista de capital aberto, como é o caso da petroleira.
Especialistas ouvidos pelo Valor entendem que os comentários têm cunho político, antes de tudo. Para eles, o discurso é uma forma do presidente prestar contas para os potenciais eleitores.
Não se sabe se o presidente já havia recebido, previamente, informações sobre os números da companhia — e a fala dele ocorreu quando o pregão da B3 já tinha se encerrado.
Entre ontem e hoje, não houve nenhum pedido, da CVM, para que a companhia desse esclarecimentos públicos sobre as declarações, o que já aconteceu em outros episódios envolvendo o presidente da República. O regulador tem procedimentos sobre o tema em análise desde o ano passado, mas não há informações sobre o andamento.
Do ponto de vista de governança corporativa, é muito negativo para a companhia, segundo especialistas. “As declarações geram insegurança para investidores, nacionais ou internacionais. E colocam dúvidas sobre se a política de preços será mantida. Isso é inerente ao Bolsonaro, a representantes do congresso e também a outros governos”, disse um advogado especializado em mercado de capitais. Recentemente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, questionou a política da Petrobras, baseada nos preços internacionais.
O presidente Bolsonaro repete que não tem objetivo de intervir na companhia, mas o histórico recente mostra que a insatisfação com os preços o fez trocar a administração. Depois de Roberto Castello Branco, em 2021, recentemente foi a vez de Joaquim Silva e Luna, ser demitido, após Bolsonaro demonstrar insatisfação com a condução da empresa. Por enquanto, lembra um advogado, a política de preços está sendo mantida, e a empresa tem dado resultados. Boa parte deles é revertida para o próprio governo.