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Análise: ESG realmente importa para você?
Você torceu o nariz, deu um sorriso e estufou o peito, ou ficou uns segundos pensativos diante da pergunta do título?
Lendo um estudo da consultoria McKinsey, recentemente, me deparei com a afirmação de que as políticas englobadas nessas três letrinhas aí de cima ainda são vistas por muitas empresas como uma “distração” ao negócio que realmente importa e que gera valor. Para outras, o mais correto seria restringir ESG à temática meio ambiente. Seja por necessidade de preservação ambiental para garantia da própria subsistência do negócio, ou pela dificuldade de mensurar o ganho financeiro obtido ao seguir o receituário ESG.
Confesso que, apesar de saber que críticas às políticas ESG são muito mais comuns do que podemos imaginar e também por, pessoalmente, ver a resistência ao tema estampada no rosto de muitas lideranças, isso é algo que ainda me choca. Por isso mesmo, resolvi trazer aqui para nosso espaço de provocação quinzenal.
Para simplificar, vou separar três grupos: 1) o dos que torceram o nariz só de ler a pergunta título da coluna; 2) o dos que deram um sorriso e estufaram o peito vislumbrando uma oportunidade de fazer propaganda da sua marca – pessoal ou corporativa; e 3) o dos que pararam para refletir e analisar se o que fazem atualmente os habilita a dizer que, sim, ESG importa e, se não, avaliam corrigir rumos.
No primeiro grupo sobram críticas: é difícil mensurar os ganhos das políticas ESG. Indicadores financeiros nessa área sofrem influência de outras variáveis e não são garantia de que os ganhos vieram das ações ESG. E por aí vai. Para quem se encaixa nesse grupo, talvez, o melhor seja deixar o conceito de lado e concentrar no “core” do negócio. Se for o caso, eles acreditam que poderão reavaliar essa posição ali na frente.
No segundo grupo, ESG é basicamente marketing. Algo que faz a marca ficar bem no mercado e, dessa forma, ajuda um pouco nos lucros. Mas é ocasional e não faz parte da estratégia negocial. É pensado à parte e acionado vez ou outra, aproveitando-se de momentos para “gerar buzz”. Mesmo que surja por motivos e intenções reais e legítimas, é algo esporádico.
É fato, por exemplo, que a pandemia da Covid-19, no seu auge, exaltou o lado ESG da responsabilidade social. Da mesma forma, tragédias ambientais e escândalos de corrupção alavancaram posicionamentos corporativos em defesa da preservação do meio ambiente e de políticas de gestão empresarial ancoradas em ética, transparência e fiscalização externa. Providências depois da casa arrombada.
Por isso, vale se perguntar quantas dessas empresas – muitas tiveram espaço na mídia para suas ações sem custo – desenvolveram e mantiveram a cultura de pensar o negócio a partir da visão de sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e com padrões de governança elevados? Quantas decidiram viver o conceito ESG?
E, aí, quero entrar no terceiro grupo. O dos que param diante da pergunta para refletir se ESG é realmente um conceito que está unindo o propósito corporativo ao modelo de negócio, a partir de uma estratégia elaborada para fazer a diferença.
OK, sei que só pensar não adianta. Porém, o primeiro passo para mudar uma realidade não é reconhecer que ela existe? Se você chega ao ponto de querer refletir e fazer uma autocrítica, é uma porta que se abre para correção de rumo e mapeamento de comportamentos desejados que levem a empresa a outro patamar.
E claro que uma peça-chave nesse caminho é a liderança da sua empresa. Se você se identifica neste último grupo, quero deixar aqui outro questionamento: como os objetivos estratégicos do seu modelo de negócios podem ser relacionados com questões ambientais, sociais e de governança? Faça uma tabela com exemplos. Para cada posicionamento estratégico, três colunas que podem afetá-lo: riscos ambientais, sociais e de governança.
Se você está nos dois primeiros, fica outra pergunta: num mundo tão pulsante, tão dinâmico que nos obriga a reavaliar constantemente as estratégias negociais e que potencializa o impacto dos fatores externos nos negócios, quando tempo você acredita ser possível se sustentar no mercado ignorando questões relevantes para as partes com as quais você precisa se relacionar: seus colaboradores, seus clientes, fornecedores?
Mais uma vez, lembrando: estamos falando de gente, personagem central, sem o qual sua razão de existir desaparece. Até daqui a duas semanas.
(Por Sheila D’Amorim, jornalista, economista e palestrante especializada no mercado financeiro)
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