Banco Inter desiste de reorganização societária que o levaria à Nasdaq

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Isso ocorreu porque o valor a ser desembolsado para fins de pagamento da opção “cash-out” (quando o acionista recebe em dinheiro por sua participação) excedeu o limite de R$ 2 bilhões estabelecido pelo banco
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O Inter vinha trabalhando na reorganização societária desde meados do primeiro semestre
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O acionista de Inter podia decidir até hoje se queria receber seus BDRs quando a reorganização for concluída ou o valor de sua participação em dinheiro
Em uma reviravolta surpreendente, o banco Inter desistiu de realizar uma reorganização societária que culminaria com a listagem de uma nova holding na Nasdaq. Isso ocorreu porque o valor a ser desembolsado para fins de pagamento da opção “cash-out” (quando o acionista recebe em dinheiro por sua participação) excedeu o limite de R$ 2 bilhões estabelecido pelo banco.
“Em consequência, nesta data, o conselho de administração do Inter optou por não exercer a prerrogativa que lhe foi outorgada de aprovar o pagamento da opção cash-out em valor superior ao cap cash-out. Assim, a reorganização societária não será implementada nos termos aprovados na assembleia geral extraordinária realizada e em 25 de novembro de 2021”, diz o banco, sem dar mais detalhes.
A reorganização societária havia sido aprovada com voto favorável de mais de 82% das ações em circulação presentes na AGE. O Inter até poderia escolher pagar um cash-out acima de R$ 2 bilhões, caso determinasse, “após avaliação fundamentada, que a renúncia [a esse teto] é no melhor interesse do Inter e de seus acionistas”.
Em relatório divulgado mais cedo, a Genial já havia alertado para a possibilidade de a reorganização não sair em função do cash-out. O acionista de Inter podia decidir até hoje se queria receber seus BDRs quando a reorganização for concluída ou o valor de sua participação em dinheiro. Optando por fazer o cash-out, o valor a ser pago por unit será de R$ 45,84. Como no fechamento de ontem o preço da unit era de R$ 33,87, para quem já era acionista e queria vender a unit seria possível liquidar a posição a um valor superior ao de mercado.
“Se os resgates superarem R$ 2 bilhões, a operação poderá ser cancelada. Na nossa visão é provável que isso aconteça, tendo em vista que o Inter tem uma capitalização de mercado de aproximadamente R$ 32 bilhões, dos quais 41% estão em circulação, que equivalem a R$ 13 bilhões”, diziam os analistas da Genial, liderados por Eduardo Nishio,
Eles alertavam, no entanto, que a reorganização societária era positiva para o Inter, porque permitiria mais aumentos de capital mantendo o grupo de controle, possibilitado pelas ações com poder de voto diferenciado existentes nos EUA. Além disso, os múltiplos de empresas de tecnologia listadas no exterior geralmente são mais elevados. Nesse sentido, os analistas alertavam os investidores a não optarem pelo cash-out.
“Quem possui a ação incorre em dois riscos ao solicitar o cash-out: o primeiro é que ele contribuirá indiretamente para inviabilizar a operação, elevando o montante de resgate, e caso a reestruturação não seja concluída as ações devem cair no curto prazo; o segundo é que se estiver tentando vender suas ações para recomprar os BDRs mais baratos após o resgate, eles poderão estar mais caros, tendo em vista a alta volatilidade dos papéis do banco nos últimos meses e o IPO do Nubank no meio tempo (08/dez), que pelo forte comparável poderá destravar valor para o Inter”. A Genial tem recomendação de “compra” para o Inter, com preço-alvo de R$ 67,30 para as units.
O Inter vinha trabalhando na reorganização societária desde meados do primeiro semestre. A instituição afirmava que evoluiu o seu modelo de negócios de um banco digital para um ecossistema com cinco “avenidas” de negócios (Day-to-Day Banking, Investimentos, Seguros, Shopping e Crédito), que se complementam e se retroalimentam e, por meio desta plataforma, pretendia ter alcance global e conectar todas as empresas do seu grupo econômico.
“A expansão do Inter para o mercado internacional permitirá a ampliação contínua da sua base de clientes e consolidará o seu posicionamento como plataforma digital de serviços financeiros e não financeiros”, disse o banco em comunicado ao mercado em maio.
O Inter argumentava que com a listagem na Nasdaq teria um fortalecimento da posição como uma companhia global de tecnologia no setor financeiro; aumento na base e diversificação de investidores, clientes, serviços e produtos; maior facilidade na comparação com outras instituições financeiras digitas e plataformas de e-commerce listadas naquele mercado; e permissão de emissão de ações com voto plural, com o objetivo de permitir futuros aumentos da base de capital que serão necessários para o crescimento e assegurar a obrigação regulatória de controle definido.
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