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Bancos devem provisionar pelo menos 50% da exposição que têm a Americanas
Os bancos credores da Americanas (AMER3) provavelmente provisionarão pelo menos 50% da exposição total que têm à varejista. Não há uma regra específica sobre esse assunto, mas esse nível de provisionamento é uma praxe do mercado em casos de recuperação judicial (RJ) e as instituições já estão reforçando seus níveis de provisão.
Um consenso no mercado é o de que o provisionamento em casos de RJ deve ser no mínimo de 30%. Na resolução 4.966, editada no fim de 2021, o Banco Central define como ativo problemático aquele com “indicativo de que a respectiva obrigação não será integralmente honrada nas condições pactuadas, sem que seja necessário recorrer a garantias ou a colaterais”. Um desses indicativos, segundo o próprio BC, é a recuperação judicial.
Outra definição do BC para ativo problemático são aqueles com atraso superior a 90 dias. Na resolução 2.682, de 1999, quando criou o “sistema de letrinhas” para guiar os níveis de provisionamento, o BC estabeleceu que atrasos superiores a 90 dias devem ser classificados no nível E, com provisionamento de, no mínimo, 30%.
Leonardo Adriano Ribeiro Dias, advogado especializado em recuperação judicial e sócio do escritório Ribeiro Dias, aponta que em casos de renegociação ou reestruturação, as regras do BC dizem que os bancos não são obrigados a agravar o rating de uma operação, mas que isso muitas vezes ocorre, em função das políticas internas das instituições, que em várias situações acabam sendo mais rigorosas que as normas mínimas estipuladas pelo BC.
“Devemos ver diferentes players adotando diferentes níveis de provisionamento”, diz um especialista. “Não há regulamentação específica, mas acredito que mesmo que se tenha garantias extraconcursais, os 30% ainda seriam tacitamente exigidos”, aponta o CEO de um banco de médio porte.
O diretor de um grande banco diz que, nos casos de grandes empresas, que têm debêntures e bônus com alta liquidez no mercado, o deságio desses instrumentos é uma boa indicação de quanto os bancos deveriam provisionar. Nos últimos dias, os bônus da Americanas estão sendo negociados perto de 20% do valor de face. Ou seja, por essa proxy, os bancos teriam de provisionar 80%.
“Se não houver garantia real firme, eu provisionaria 100%. Não estou nem um pouco otimista com a recuperação da empresa”, diz esse diretor. “Acho que começar com 50% e depois ajustar para 70% pode fazer sentido, mas depende da garantia”, comenta outro executivo do setor.
Nesta semana, o Citi divulgou relatório avaliando os potenciais impactos da Americanas para os grandes bancos de capital aberto. Caso tenham de provisionar 50% da exposição, o mais afetado seria o Bradesco, com uma necessidade de R$ 2,350 bilhões. Em seguida, aparecem Santander (R$ 1,850 bilhão), Itaú (R$ 1,7 bilhão), BTG (R$ 950 milhões) e Banco do Brasil (R$ 650 milhões). O Valor apurou que o Safra já provisionou metade da sua exposição à Americanas, que é de R$ 2,4 bilhões.
Por Álvaro Campos
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